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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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ou de que o comportamento que nos interessa não pode ser explicado de

modo mais mecanicista, ou em termos de algum processo computacional

escondido da visão do dia a dia. Afinal, podemos nos relacionar mais

facilmente com nossos computadores se os descrevemos como pensando

isto e querendo aquilo; para Dennett, podemos até mesmo ter uma postura

intencional com um termostato, que “tenta” restaurar a temperatura de um

quarto quando “pensa” que está muito quente, e assim por diante.

O argumento pressupõe que a criatura que está tomando da postura

intencional — aquela que é capaz de interpretar o mundo desse modo, em

termos de pensamento, percepção e desejo — pode ela mesma ser explicada

de forma não intencional, que a “postura” é apenas uma postura, e que cada

objeto em direção ao qual essa postura é apropriada pode ser compreendido

de outra maneira, como um sistema computacional. Mas essas entidades

que podem ser explicadas assim — termostatos e computadores, por

exemplo — são precisamente aquelas que reconhecemos como sendo outros

em relação a nós, máquinas sobre as quais estamos projetando o nosso

próprio equipamento mental no que sabemos nos nossos corações serem

uma metáfora elaborada.

Portanto, precisamos de mais um argumento, um que elimine

inteiramente a postura intencional ou que mostre a intencionalidade como

uma propriedade de sistemas físicos. O segundo caminho é feito por Searle,

e também por Fodor e outros defensores da “teoria representacional da

mente”. 2 A resposta deles é apostar que a intencionalidade é uma

característica notável das coisas que a possuem, mas argumentar isso não

mostra que as coisas que a possuem não são também físicas. Não seria uma

frase escrita uma coisa física? Será que os animais não podem existir nos

estados do sistema nervoso, de tal maneira que a “tematicidade” é

racionalmente assinalada a eles? De fato, não é para isso que o sistema

nervoso existe? “Aqui, na minha testa”, diz Hamlet, tocando na parte

central do pensamento — em outras palavras, isto aqui é sobre o mundo,

mas ele acontece na nossa cabeça.

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