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A alma do mundo - Roger Scruton

conservadorismo filosofia política

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elas me dizem sobre as coisas em que são aplicadas? E há ainda a forte

tradição de raciocínio, começando com as Investigações filosóficas de

Wittgenstein, que diz que você não explica o significado de uma metáfora

ao observar o seu uso metafórico, mas ao observar o seu uso literal. A coisa

que precisa de explicação não é o significado da palavra “triste”, “nobre”,

ou seja lá o que for, mas o propósito de usar somente esta palavra em

apenas este contexto. E qualquer que seja o propósito, não é para descrever

ou escolher analogias.

Mas suponha que essas analogias existam. Suponha que você possa dar

sentido a um termo de emoção ou a uma palavra de virtude quando se fala

em música apontando similaridades entre o trabalho musical e o estado ou a

disposição mental a que se refere pelo seu uso literal. Será que isso

mostraria que o termo identifica algo esteticamente interessante e

moralmente relevante na coisa a que se aplica? Minha resposta é “não”.

Tudo se assemelha a tudo, e a maioria das semelhanças é insignificante; o

que faz uma semelhança interessante é o contexto no qual é colocada em

uso. Você pode ter uma semelhança espantosa com Elvis Presley. Mas,

como você não sabe cantar e não sabe dançar de um modo sexy, não pode

fazer nada que coloque a sua semelhança à mostra, e assim ela continua

sendo insignificante. Notamos várias semelhanças na música. O tema de

abertura da op. 18, nº 1, de Beethoven, é parecido com alguém assinando

um cheque: um impulso audaz na hora de escrever, depois caindo em um

rabisco. Mas essa semelhança (supondo que a permitimos) nada tem a ver

com a música ou com o que ela significa. Portanto, é natural que

precisemos diferenciar a semelhança acidental da significante: e isso é

precisamente o que não conseguimos fazer, se o único fundamento para o

uso dos predicados mentais para descrever a música é o tipo de analogia

apontado por Kivy.

Resumindo de forma simples: ouvir a tristeza da música não é ouvir uma

analogia entre a música e a emoção: é ouvir a tristeza na música. Ouvir

tristeza na música é ouvir os contornos de tristeza na música, verdade. Mas

as características que ouvimos na música não são necessariamente

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