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Pesquisa e mobilidade na cibercultura itinerâncias docentes

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Ocupar como prática de cidadania 319<br />

o Colégio Pedro II; servidores públicos acamparam no Palácio do Pla<strong>na</strong>lto;<br />

<strong>na</strong> Universidade do Estado do Rio de Janeiro se lia em vários cartazes pela<br />

universidade: “Greve de Ocupação”.<br />

Ao longo do ano de 2012 também vimos muitas lutas indíge<strong>na</strong>s fazendo<br />

uso dessa tática ao ocupar e reocupar o canteiro de obras de Belo Monte,<br />

e sedes da Fundação Nacio<strong>na</strong>l do Índio em diferentes estados. A lista é infindável<br />

e envolve desde eventos culturais que adotaram o mote, como o<br />

“Ocupa Nise” (intervenções culturais no Instituto Municipal Nise da Silveira)<br />

e “Ocupa Lapa” (intervenções no bairro da Lapa). Também aconteceram<br />

importantes apropriações e ressiginifcações do mote “ocupar” promovidos<br />

pelas favelas então “ocupadas” pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP),<br />

como foi o “Ocupa Alemão” e “Ocupa Borel” (5 de dezembro de 2012). Nesses<br />

casos, já não se tratava de acampar num espaço público, mas do direito de<br />

retomar sua própria “ocupação” do espaço-tempo local, então usurpado pela<br />

política de controle do Estado. Essas ações pontuais em conjunto formam<br />

uma enorme teia global de lutas dos cidadãos pela retomada do bem comum.<br />

Todas essas ações nos levam a pensar sobre alguns sentidos da palavra<br />

“ocupação”. De imediato, pressupõe-se que o que foi “ocupado” antes estivesse<br />

“desocupado”. Só um espaço inutilizado, i<strong>na</strong>tivo, inútil precisa ser ocupado,<br />

ativado, utilizado. Se as praças e os espaços públicos hoje estão cada<br />

vez mais orde<strong>na</strong>dos para serem não lugares <strong>na</strong> cidade, espaços de passagem,<br />

não convidativos à permanência, espaços considerados de risco, habitados<br />

por moradores de rua, os Ocupas instauram uma nova espacialidade no território<br />

urbano ao montar uma barraca e permanecer num local, indicando<br />

que precisamos parar um pouco ali para discutir uma questão de relevância<br />

pública. Só essa pausa necessária possibilitará o encontro com o outro, o<br />

diálogo, a transformação de si e de mundo. É interessante observar, num<br />

sentindo quase inverso, a relação de ocupação do tempo. Enquanto os espaços<br />

públicos estão sendo cada vez mais “desocupados” em benefício dos<br />

espaços privados, o tempo da vida está cada vez mais submetido ao ritmo de<br />

vida capitalista, que “ocupa” quase todo o tempo do indivíduo com trabalho<br />

e consumo. Na pergunta “Qual a sua ocupação?”, criamos uma relação<br />

direta entre a ocupação do tempo do indivíduo com o tempo do trabalho.<br />

Se o sujeito não tem uma profissão, um trabalho, não está ocupando-se do<br />

tempo produtivo, é, portanto, um “desocupado”.( Não por acaso, essa palavra<br />

é muito usada para difamar os ocupantes – assim como hippies, outro grupo<br />

tradicio<strong>na</strong>lmente “desocupado”). Percebe-se que, para “ocupar” um espaço

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