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Pesquisa e mobilidade na cibercultura itinerâncias docentes

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Crianças e redes sociais 365<br />

que já está dado, sem aprofundar e complexificar o que se observa, muitas<br />

vezes, inclusive, deixando-se cegar.<br />

Em contrapartida, enxergar <strong>na</strong> obscuridade pode ser entendido como<br />

uma postura indagativa que suscita a necessidade de tatear uma realidade<br />

para apontar questões sobre ela. É este o trabalho do pesquisador contemporâneo<br />

sobre seu objeto. É afi<strong>na</strong>da a essa postura indagativa que enfrento o<br />

desafio da pesquisa com crianças e redes sociais: enxergar as luzes seria cair<br />

numa abordagem simplista e clichê de reconhecer o domínio das crianças e<br />

exaltar a capacidade quase <strong>na</strong>tural que têm para se relacio<strong>na</strong>r com as mídias<br />

digitais. É o desejo de enxergar os escuros que essa luz produz que impele a<br />

questio<strong>na</strong>r como é este domínio, que usos fazem destas mídias, como e por<br />

que o fazem.<br />

É preciso, então, pontuar que estes fatores que caracterizam minha imersão<br />

no campo – o ciberespaço – também me reposicio<strong>na</strong>m em relação ao<br />

tema, à pesquisa e às crianças. A construção metodológica passa não só pela<br />

definição das estratégias de investigação, mas passa, sobretudo, pelo processo<br />

de formação do pesquisador e sua tomada de consciência do lugar que<br />

ocupa <strong>na</strong> pesquisa. Quem sou eu <strong>na</strong>s redes sociais? Em que medida as crianças<br />

influenciam as escolhas sobre o que quero mostrar de mim? Que tipo de<br />

relação entre mim e as crianças se cria no âmbito da pesquisa? Como vejo as<br />

crianças e como elas me veem? Que usos faço eu, pesquisadora, desses sites?<br />

Nesse sentido, destaco como primeira fase sistemática da pesquisa a minha<br />

entrada intencio<strong>na</strong>l no Orkut, seguida meses depois pela inscrição no<br />

Facebook, MySpace e Twitter. O objetivo era mergulhar no universo das redes<br />

sociais: conhecer, usar, experimentar, espiar, fingir, julgar, jogar... “ser um<br />

deles”. Neste mergulho, as crianças lá estavam. Assim, o segundo movimento<br />

relevante da pesquisa foram as observações que fazia dos perfis infantis que<br />

encontrava <strong>na</strong> minha lista de contatos (a grande maioria em função do contato<br />

<strong>na</strong> escola) e o zapear consequente entre perfis a que era conduzida num<br />

movimento literalmente em rede, que me lançava a conhecer crianças muitos<br />

diferentes em relação às suas idades, cidades, usos dos sites, entre outros<br />

elementos. Testava a possibilidade de análises, acompanhava durante alguns<br />

períodos regulares de tempo as atualizações dos perfis de algumas crianças e<br />

isto, de certa forma, ia alimentando as questões que se instauravam.<br />

É possível compreender essas primeiras ações da pesquisa sob os pressupostos<br />

da etnografia enquanto método para uma abordagem antropológica<br />

que assume como prerrogativa que o pesquisador participe ativamente da

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