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Pesquisa e mobilidade na cibercultura itinerâncias docentes

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PESQUISA E MOBILIDADE NA CIBERCULTURA<br />

em desafio foi: como investigar um objeto em rede fazendo uso da dimensão<br />

técnica que o constitui? Como pesquisar o/no ciberespaço?<br />

Neste sentido, o primeiro aspecto a ser considerado é reconhecer que à<br />

medida que <strong>na</strong>scem temas de pesquisa, é preciso que <strong>na</strong>sçam modos de pesquisar<br />

e modos de ser pesquisador. Quando se trata de temáticas contemporâneas<br />

e objetos de estudo em constante movimento, como no caso da tese<br />

em questão, o desafio de construir uma metodologia ganha contornos particulares.<br />

Como o pesquisador transita em meio a temáticas de sua época?<br />

Como olha para um tema estando imerso nele? Mais: nesta pesquisa, cabe<br />

ressaltar em especial que está em jogo outro movimento, o de “se olhar”, que<br />

é uma dupla imersão — sou pesquisadora, contemporânea ao fenômeno que<br />

pretendo observar e também coabito o ciberespaço “<strong>na</strong> mesma condição” das<br />

crianças interlocutoras da pesquisa. Sou também uma inter<strong>na</strong>uta, usuária de<br />

sites de redes sociais. Olho “de dentro” duas vezes. Como, então, pesquisar<br />

um fenômeno do qual também faço parte? Assim, a temática da pesquisa,<br />

além de nova, é atravessada por questões caras às Ciências Huma<strong>na</strong>s, como<br />

as tensões entre a familiaridade e o estranhamento do objeto que se pretende<br />

estudar.<br />

Para aguçar essa reflexão, Agambem (2009) traz uma abordagem filosófica<br />

sobre ser contemporâneo de algo ou de uma determi<strong>na</strong>da época e lança a<br />

ideia de que contemporâneo é aquele que não coincide perfeitamente com<br />

seu tempo, nem está adequado às suas pretensões, numa perspectiva que<br />

tensio<strong>na</strong> pertencimento e dissociação. “A contemporaneidade, portanto, é<br />

uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo<br />

tempo, dele toma distâncias”. (AGAMBEM, 2009, p. 59)<br />

O que o autor chama de dissociação, trato, nesta perspectiva, de construção<br />

metodológica, de estranhamento. Compreendo que estar dentro do<br />

fenômeno que se estuda deflagra a necessidade de construir este estranhamento<br />

que propiciará manter fixo o olhar sobre as questões de sua época.<br />

Mas, ressalta Agambem (2009), esse olhar deve se debruçar para perceber<br />

não as luzes, mas o escuro, ou seja, descobrir as trevas das luzes que provêm<br />

de sua época – paradoxalmente, um escuro que só se dá no claro.<br />

Remeto esta provocação a visões demasiadamente entusiasmadas e deslumbradas<br />

que muitos pesquisadores dirigem aos seus objetos de estudo<br />

quando se trata das tecnologias digitais e suas potencialidades, mais ainda<br />

quando se dedicam a perceber como as crianças usam os aparatos e deles se<br />

apropriam. O que Agambem chama de enxergar as luzes é, neste caso, ver o

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