27.05.2016 Views

Pesquisa e mobilidade na cibercultura itinerâncias docentes

Pesquisa%20e%20mobilidade%20repositorio

Pesquisa%20e%20mobilidade%20repositorio

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ocupar como prática de cidadania 321<br />

-conceito funcio<strong>na</strong> como “lugar de transformações e apropriações, objeto de<br />

intervenções [...]: ela é ao mesmo tempo a maqui<strong>na</strong>ria e o herói da modernidade.”.<br />

No submundo da cidade planejada está a cidade dos praticantes, que<br />

escapa ao controle estratégico, sendo o lugar das quase invisíveis táticas dos<br />

cotidianos. As práticas cotidia<strong>na</strong>s das ocupações permanecem invisíveis ao<br />

poder do Estado mesmo no momento em que o projeto de racio<strong>na</strong>lidade da<br />

cidade precisa passar por cima dessas práticas. Elas permanecem “outras”,<br />

incompreensíveis. “Escapando às totalizações imaginárias do olhar, existe<br />

uma estranheza do cotidiano que não vem à superfície, ou cuja superfície<br />

é somente um limite avançado, um limite que se destaca sobre o visível”.<br />

(CERTAU, 1994, p. 172) Os praticantes ordinários da cidade “jogam com espaços<br />

que não se veem; têm dele um conhecimento tão cego como no corpo-<br />

-a-corpo amoroso”. Enquanto a cidade “do alto” traça a orde<strong>na</strong>ção do território,<br />

lá embaixo, a cidade é habitada de formas múltiplas e incategorizáveis.<br />

Mas ‘embaixo’ (down), a partir dos limiares onde cessa a visibilidade, vivem<br />

os praticantes ordinários da cidade. Forma elementar dessa experiência,<br />

eles são caminhantes, pedestres, […], cujo corpo obedece aos cheios<br />

e vazios de um ‘texto’ urbano que escrevem sem poder lê-lo. Esses praticantes<br />

jogam com espaços que não se veem; têm dele um conhecimento<br />

tão cego como no corpo-a-corpo amoroso. Os caminhos que se respondem<br />

nesse entrelaçamento, poesias ignoradas de que cada corpo é um elemento<br />

assi<strong>na</strong>do por muitos outros, escapam à legibilidde. Tudo se passa como<br />

se uma espécie de cegueira caracterizasse as práticas organizadoras da<br />

cidade habitada. As redes dessas escrituras avançando e entrecruzando-<br />

-se compõem uma história múltipla, sem autor nem espectador,formada<br />

em fragmentos de trajetórias e em alterações de espaços: com relação às<br />

representações, ela permanece cotidia<strong>na</strong>mente, indefinidamente, outra.<br />

(CERTEAU, 1994, p. 171)<br />

Como também destaca Paulo Carrano (2003), “para além do texto visível<br />

da racio<strong>na</strong>lidade urbanística, insinua-se um texto composto pelas práticas<br />

concretas dos habitantes das cidades”. Nessa relação existe a tensão entre os<br />

planos urbanísticos centralizados e as práticas dos sujeitos sociais concretos.<br />

O autor concorda que os habitantes da cidade não se submetem ao traçado<br />

discipli<strong>na</strong>r da cidade oficial, instaurando procedimentos de resistência e<br />

criatividade, as táticas do cotidiano, que conferem “um certo grau de imprevisibilidade<br />

aos mecanismos de orientação social”. (CARRANO, 2003, p. 22)<br />

José Machado Pais (2005) também abordará o mesmo processo de “planifica-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!