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Pesquisa e mobilidade na cibercultura itinerâncias docentes

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Ocupar como prática de cidadania 323<br />

complemento: “a cidade é nossa”. Criado por torcedores indig<strong>na</strong>dos com a<br />

privatização do estádio Maracanã e tudo o que ela acarreta, incluindo as<br />

demolições no entorno, esse movimento reclama pela cidade a partir do estádio<br />

do Maracanã, promovendo atos cujas causas extrapolam os limites do<br />

bairro: “contra a privatização do Rio de Janeiro”, dizia o evento de 16 de<br />

março de 2012. Recentemente, <strong>na</strong> Turquia, os ocupantes da praça Taksim<br />

gritavam “Taksim é nossa, Istambul é nossa!”. David Harvey (2013), citando<br />

o sociólogo e urbanista Robert Park, afirma que “se a cidade é o mundo que o<br />

homem criou, é também o mundo onde ele está conde<strong>na</strong>do a viver daqui por<br />

diante. Assim, indiretamente, e sem ter nenhuma noção, ao fazer a cidade o<br />

homem refez a si mesmo.” (HARVEY, 2013, p. 38) Por isso, complementa ele:<br />

saber que tipo de cidade queremos é uma questão que não pode ser dissociada<br />

de saber que tipo de vínculos sociais, relacio<strong>na</strong>mentos com a <strong>na</strong>tureza,<br />

estilos de vida, tecnologias e valores estéticos nós desejamos. O direito<br />

à cidade é muito mais que a liberdade individual de ter acesso aos recursos<br />

urbanos: é um direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade” (HAR-<br />

VEY, 2013, p. 38)<br />

Segundo Simmel (2005, p. 578-580), “as grandes cidades sempre foram o<br />

lugar da economia monetária”. O dinheiro passa a ser o valor que regula as<br />

relações <strong>na</strong> cidade, “pois o dinheiro indaga ape<strong>na</strong>s por aquilo que é comum a<br />

todos, o valor de troca, que nivela toda a qualidade e peculiaridade à questão<br />

do mero ‘quanto’”. Dessa forma, “o espírito moderno tornou-se mais e mais<br />

um espírito contábil”, preenchendo a vida dos seres humanos com “comparações,<br />

cálculos, determi<strong>na</strong>ções numéricas, redução de valores qualitativos<br />

a valores quantitativos.” Como destaca Simmel (2005, p. 588), “o desenvolvimento<br />

da cultura moder<strong>na</strong> caracteriza-se pela preponderância daquilo que<br />

se pode denomi<strong>na</strong>r espírito objetivo sobre o espírito subjetivo”. Segundo o<br />

autor, “o indivíduo está cada vez mais incapacitado a se sobrepor à cultura<br />

objetiva […], que gradualmente lhe subtraiu todos os progressos, espiritualidades<br />

e valores e os transladou da forma da vida subjetiva à forma da vida<br />

puramente objetiva”.<br />

Já Carrano enfatiza que “o racio<strong>na</strong>lismo urbanístico tende a buscar alter<strong>na</strong>tivas<br />

quantitativas e discipli<strong>na</strong>res para os problemas que, <strong>na</strong> grande<br />

maioria dos casos, se encontram no processo de desenvolvimento injusto e<br />

predatório das cidades capitalistas” (CARRANO, 2003, p. 23), processo esse<br />

que, por sua vez, o racio<strong>na</strong>lismo urbanístico não visa combater. No entanto,

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