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Pesquisa e mobilidade na cibercultura itinerâncias docentes

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PESQUISA E MOBILIDADE NA CIBERCULTURA<br />

ção da cidade”, que tradicio<strong>na</strong>lmente procura “exorcizar as desordens, purificar<br />

as condutas, escruti<strong>na</strong>r as populações, periferizar a miséria”. (PAIS, 2005,<br />

p. 59) Nesse processo, a cidade se transforma numa “cidade maqueta”, um<br />

espaço cerrado onde os cidadãos têm seus movimentos limitados e controlados.<br />

Semelhante ao que acontece em todas as ocupações, “é contra a cidade<br />

maqueta que se reclama uma cidade dos cidadãos, uma cidade humanizada,<br />

participada, insubmissa às modelagens de planificações deterministas e às<br />

realidade sociais que as sustenta”. Pais sintetiza que “a cidadania é, em certa<br />

medida, um movimento de rejeição da cidade planificada a favor da cidade<br />

praticada”. (PAIS, 2005, p. 60)<br />

José Machado Pais distingue dois movimentos distintos de participação<br />

<strong>na</strong> cidade: o sistema bottom up – que indica um movimento participativo de<br />

baixo para cima – e top down – movimento determi<strong>na</strong>do de cima para baixo.<br />

As cidades-conceito são imposições unilaterais top down do poder estatal aos<br />

cidadãos, que são cada vez menos consultados sobre as decisões de interesse<br />

público. “Ao contrário do que acontece com as cidades planejadas de modo<br />

top down, a vitalidade das cidades vem dos que informalmente circulam no<br />

espaço público da cidade: a rua. A magia da cidade vem de baixo e não dos<br />

arranha-céus onde a vida social parece estar enjaulada”. (PAIS, 2005, p. 57)<br />

Os movimentos dos que estão embaixo resistem ao peso das imposições que<br />

vêm de cima, seja através da resistência direta, como no caso das ocupações,<br />

seja através das infinitas práticas do cotidiano, já que “tanto a aprendizagem<br />

quanto o atuar bottom up dão-se no mundo da vida cotidia<strong>na</strong> – usando ‘informação<br />

local’ que pode levar a um ‘saber global’”.<br />

É pelo “direito à cidade”, como diz um título de Lefebvre (2008), que<br />

esses cidadãos se levantam, saem de seus espaços privados e refundam o público.<br />

Acostumados com a diversidade de gêneros que coabitam o espaço urbano,<br />

mas fugindo à regra do espírito “blasé” dos citadinos (SIMMEL, 2005),<br />

os ocupantes refletem o território urbano em sua diversidade, contradições,<br />

perversidades e delícias. É graças à coabitação de estudantes de classe média<br />

com moradores de rua, a<strong>na</strong>rquistas com hare krish<strong>na</strong>s, advogados com jor<strong>na</strong>listas,<br />

enfim, qualquer mistura que a cidade promova tor<strong>na</strong> mais fácil o<br />

entendimento da cidadania não enquanto um valor universal dado no passado,<br />

mas como um conceito construído no presente com vistas para o futuro.<br />

(PAIS, 2005)<br />

Vários movimentos reclamam pelo direito à cidade como, no Rio de<br />

Janeiro, o emblemático “O Maraca é nosso”, que agregou em seu slogan o

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