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fome te força a tomares alimento, não esper<strong>as</strong> que os víveres espontaneamente venham<br />

a ti, m<strong>as</strong> fazes o possível para os conseguires. E relativamente à se<strong>de</strong> e ao frio, e a outr<strong>as</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s és eficiente e pronto para aten<strong>de</strong>r ao cuidado com o corpo. Faze, portanto,<br />

o mesmo acerca do reino dos céus, e sem dúvida alguma o alcançarás. Com efeito, Deus<br />

te criou dotado <strong>de</strong> livre-arbítrio a fim <strong>de</strong> não o acusares após <strong>de</strong> estares preso à<br />

necessida<strong>de</strong>. Tu, porém, recebes <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> bens tão honrosos? Efetivamente ouvi<br />

da parte <strong>de</strong> muitos: Por que me <strong>de</strong>ixou à escolha a virtu<strong>de</strong>? Ora, <strong>de</strong>via arr<strong>as</strong>tar-te para o<br />

céu dormindo e cochilando, preso aos vícios e prazeres, servindo ao ventre? Então talvez<br />

não te absteri<strong>as</strong> dos vícios. Se agora, nem diante <strong>de</strong> ameaç<strong>as</strong> iminentes tu te absténs da<br />

malda<strong>de</strong>, no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> ainda te ser proposto o céu por prêmio, cessari<strong>as</strong> <strong>de</strong> ser mais<br />

preguiçoso e muito pior? Não po<strong>de</strong>s alegar: De fato, ofereceu bens, m<strong>as</strong> não prestou<br />

ajuda, porque auxílio po<strong>de</strong>roso te é prometido. M<strong>as</strong>, replic<strong>as</strong>, a virtu<strong>de</strong> é onerosa e<br />

molesta, enquanto o vício se mescla com muito prazer e seu caminho é largo e espaçoso,<br />

enquanto o da virtu<strong>de</strong> é estreito e apertado. Pergunto: Ac<strong>as</strong>o sempre, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo,<br />

ambos foram tais? Sobre a virtu<strong>de</strong>, a contragosto dizes o que dizes, <strong>de</strong> tal forma é<br />

po<strong>de</strong>rosa a verda<strong>de</strong>. Pois se fossem dois os caminhos, um que conduz à fornalha, outro<br />

ao paraíso, e fosse largo o da fornalha, e estreito o do paraíso, qual escolheri<strong>as</strong>? Mesmo<br />

que agora em disputa contradig<strong>as</strong>, por mais insolente que fores, não po<strong>de</strong>rás negar o que<br />

é tão evi<strong>de</strong>nte. De fato, tentarei vos ensinar por meio <strong>de</strong> exemplos a meu dispor, ser<br />

preferível um duro início, embora não seja tal o termo. E se lhe aprouver, tratemos em<br />

primeiro lugar d<strong>as</strong> artes. Com efeito, el<strong>as</strong> têm início trabalhoso, o final, porém, é muito<br />

lucrativo. Entretanto, replic<strong>as</strong>, ninguém se inicia numa arte, a não ser coagido. De fato,<br />

se o jovem é senhor <strong>de</strong> si, prefere no começo viver nos prazeres e sofrer no fim<br />

inúmeros males, a viver infeliz no começo e <strong>de</strong>pois obter o fruto daqueles labores. Por<br />

conseguinte, escolher o primeiro c<strong>as</strong>o é próprio da mente <strong>de</strong> um <strong>de</strong>samparado e da<br />

preguiça pueril; o oposto, <strong>de</strong> um ânimo pru<strong>de</strong>nte e viril. Assim, portanto, também nós, a<br />

não ser que sejamos pueris, não nos <strong>as</strong>semelharemos a esses <strong>de</strong>svalidos e insanos, m<strong>as</strong><br />

aos que possuem um pai. Importa, portanto, rejeitar a mentalida<strong>de</strong> pueril e não acusar os<br />

acontecimentos e impor à consciência um freio, que não permita servir o ventre, m<strong>as</strong><br />

estimule a correr e lutar. Não seria absurdo impormos com gran<strong>de</strong> esforço logo aos<br />

jovens cois<strong>as</strong> inicialmente laborios<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> que possuem um termo agradável, e tratarmos<br />

<strong>de</strong> modo contrário <strong>as</strong> realida<strong>de</strong>s espirituais? Embora n<strong>as</strong> questões seculares não seja<br />

absolutamente certo um bom termo. Efetivamente a morte prematura, a pobreza, a<br />

calúnia, <strong>as</strong> vicissitu<strong>de</strong>s e inúmer<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> <strong>de</strong>sta espécie fazem com que, após muitos<br />

labores, sejamos privados dos frutos. Se, porém, a meta é alcançada, não se recolhe<br />

gran<strong>de</strong> coisa, pois com a vida presente tudo <strong>de</strong>svanece. Quanto às realida<strong>de</strong>s espirituais,<br />

porém, não é em vista <strong>de</strong> alcançar bens glaciais que corremos, nem temos medo do fim;<br />

é maior e mais segura a esperança após a partida <strong>de</strong>sta vida. Qual será, portanto, a<br />

<strong>de</strong>sculpa, a <strong>de</strong>fesa dos que não querem enfrentar a labuta em prol da virtu<strong>de</strong>? Ainda uma<br />

pergunta: Por que é estreito o caminho? Não permites que ingresse pela estrada em<br />

direção aos palácios régios terrenos o libertino, o ébrio, o efeminado; e queres que sejam<br />

levados para o céu homens que adotam a licença dos costumes, os prazeres, a<br />

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