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seja, que incidir numa consciência tranquila, logo <strong>de</strong>saparece e <strong>de</strong>svanece. Por isso<br />

também Paulo sempre se alegra, porque tinha plena confiança naqueles acontecimentos<br />

segundo a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus; não sentia tantos males e apesar <strong>de</strong> ser, enquanto homem,<br />

tocado pela dor, não perdia a coragem. Assim igualmente o Patriarca (Abraão) vivia<br />

contente, apesar d<strong>as</strong> graves tribulações. Reflete no seguinte: <strong>de</strong>ixou a pátria, empreen<strong>de</strong>u<br />

long<strong>as</strong> e incômod<strong>as</strong> peregrinações, e, tendo chegado a um país estrangeiro, não tinha<br />

on<strong>de</strong> pousar os pés. Além disso, sobreveio-lhe a fome e obrigou-o a emigrar; após a<br />

fome, advieram o rapto da esposa, o medo da morte, a esterilida<strong>de</strong>, a guerra, os perigos,<br />

<strong>as</strong> insídi<strong>as</strong> e finalmente, a principal aflição, a imolação do querido filho unigênito,<br />

causando-lhe dor aguda e irreparável. Não julgues que, ao obe<strong>de</strong>cer a Deus com<br />

prontidão, suportou tudo aquilo sem o senso da dor. Pois, apesar <strong>de</strong> ser justo mil vezes,<br />

como <strong>de</strong> fato era, no entanto era homem e sofria segundo a natureza. Entretanto, nada<br />

disso o impediu, m<strong>as</strong> permaneceu forte atleta, e obteve vitória em cada uma <strong>de</strong>ss<strong>as</strong><br />

oc<strong>as</strong>iões. Da mesma forma, o bem-aventurado Paulo, vendo diariamente a névoa d<strong>as</strong><br />

aflições, alegrava-se e exultava como se estivesse no meio d<strong>as</strong> <strong>de</strong>líci<strong>as</strong> do paraíso. Por<br />

conseguinte, como quem goza com tal intensida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser arrebatado pela tristeza,<br />

<strong>as</strong>sim aquele que não <strong>as</strong>sumiu tal gozo po<strong>de</strong> ser vencido por qualquer um e, portanto,<br />

acontece-lhe o mesmo que aquele que está munido <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> estragad<strong>as</strong> e é facilmente<br />

ferido, enquanto um homem bem armado repele todos os dardos que lhe forem lançados.<br />

Na verda<strong>de</strong>, o prazer oriundo <strong>de</strong> Deus é mais forte do que qualquer arma; nada po<strong>de</strong><br />

lançar tal homem na tristeza e no pesar, m<strong>as</strong> suporta tudo com ânimo forte e generoso. O<br />

que é pior do que o fogo? O que é mais terrível do que os tormentos perpétuos? Pois<br />

mesmo que alguém perca imens<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> e os filhos, enfim seja o que for, isto é o que<br />

causa dor mais violenta. “Pele por pele! Para salvar a vida o homem dá tudo o que<br />

possui” (Jó 2,4). Não é possível imaginar maior tormento corporal. No entanto, <strong>as</strong> cois<strong>as</strong><br />

mais intoleráveis e inaudit<strong>as</strong>, em vista daquela alegria que provém <strong>de</strong> Deus, tornam-se<br />

toleráveis e apetecíveis. Ora, se retirares um mártir ainda mal respirando da cruz ou da<br />

grelha, verificarás nele inexprimível alegria. E o que pa<strong>de</strong>cerei, replic<strong>as</strong>, se em nossa<br />

época o martírio não existe mais? O que dizes? Acabou-se o tempo do martírio? Nunca<br />

ele falta, m<strong>as</strong> sempre está diante <strong>de</strong> nossos olhos se formos vigilantes. Não é apen<strong>as</strong><br />

pen<strong>de</strong>r duma cruz que faz o mártir, porque se <strong>as</strong>sim fosse, Jó estaria <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong>ss<strong>as</strong><br />

coro<strong>as</strong>. Ele não compareceu perante um tribunal, não ouviu a sentença <strong>de</strong> um juiz, não<br />

viu um carr<strong>as</strong>co, nem suspenso no alto <strong>de</strong> uma cruz teve o flanco <strong>de</strong>scarnado. Entretanto<br />

sofreu dores mais acerb<strong>as</strong> do que muitos mártires; <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> dos sucessivos<br />

mensageiros feriam-no mais profunda e gravemente do que qualquer chaga pungente e<br />

aqueles vermes o corroíam inteiramente <strong>de</strong> forma mais cruel do que inúmeros carr<strong>as</strong>cos.<br />

Quem não haveria <strong>de</strong> compará-lo a qualquer mártir? Ou antes, a inúmeros? Na<br />

verda<strong>de</strong>, ora era totalmente combatido, ora obtinha a palma, a saber, por meio d<strong>as</strong><br />

riquez<strong>as</strong>, dos filhos, do corpo, da esposa, dos amigos, dos adversários, dos servos, pois<br />

estes também cuspiam-lhe no rosto; pela fome, pelos sonhos, pel<strong>as</strong> dores, pel<strong>as</strong> fétid<strong>as</strong><br />

emanações. Por isso afirmei que ele se iguala não a um, dois ou três mártires, m<strong>as</strong> a<br />

inumeráveis. Verda<strong>de</strong>iramente, às dificulda<strong>de</strong>s supramencionad<strong>as</strong>, o tempo acrescenta<br />

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