26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

com o sangue do menino. Não era apen<strong>as</strong> Abraão que segurava a espada, m<strong>as</strong> Deus<br />

também; ele a comprimia pela vonta<strong>de</strong>, Deus a segurava pelo chamado. De fato, a<br />

mesma voz armou a mão direita e a reteve. A um aceno tudo se executou, e a uma<br />

palavra tudo se efetuou, em obediência a Deus, qual a um general na guerra. Consi<strong>de</strong>ra,<br />

portanto: Ele disse: Imola, e logo o Patriarca se arma; disse: Não mates, e logo <strong>de</strong>põe a<br />

arma, quando tudo já estava preparado. E agora, Deus <strong>as</strong>sinala ao mundo seu soldado e<br />

general, ao coro dos anjos o vencedor, sacerdote, rei, coroado antes por meio do gládio<br />

do que por um dia<strong>de</strong>ma, com um troféu, ilustre e vencedor sem ter realizado o combate.<br />

Assemelha-se a um general que possui um soldado muito valoroso, o qual enche o<br />

inimigo <strong>de</strong> medo pela própria habilida<strong>de</strong> em manejar <strong>as</strong> arm<strong>as</strong>, pela atitu<strong>de</strong> ao estacionar,<br />

pelo ímpeto em atacar. Assim também Deus apavorou e fez fugir o diabo, nosso comum<br />

inimigo, só pela disposição do justo, pelo <strong>as</strong>pecto, enfim apen<strong>as</strong> pelo estacionamento.<br />

Pois, julgo que ele fugiu tremendo. Ora, dirá talvez alguém, por que Deus não permitiu<br />

que a mão se manch<strong>as</strong>se <strong>de</strong> sangue, e após a imolação imediatamente ressuscit<strong>as</strong>se o<br />

filho? Porque não era lícito que Deus aceit<strong>as</strong>se esse sangue, m<strong>as</strong> tal ação convém à mesa<br />

dos malignos <strong>de</strong>mônios. Ora, <strong>de</strong>ssa forma du<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> se manifestavam: a benignida<strong>de</strong> do<br />

Senhor e a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do servo. Outrora, ele saíra <strong>de</strong> sua terra; agora foi além da própria<br />

natureza. Por esse motivo, recebeu o <strong>de</strong>pósito com juros. E era perfeitamente justo.<br />

Preferiu não ouvir mais o nome <strong>de</strong> pai para conservar a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um bom servo.<br />

Com isso, continuou não somente a ser pai, m<strong>as</strong> também fez-se sacerdote; e tendo por<br />

causa <strong>de</strong> Deus se apartado dos seus, Deus os <strong>de</strong><strong>vol</strong>veu e outorgou a si próprio e os seus<br />

dons. Se os inimigos armam insídi<strong>as</strong>, Deus vai até a experiência e opera um milagre,<br />

como aconteceu no c<strong>as</strong>o dos jovens na fornalha, e da cova dos leões (cf. Dn 3 e 6). Se é<br />

ele próprio que or<strong>de</strong>na para experimentar, o preceito cessa diante da manifestação <strong>de</strong><br />

prontidão <strong>de</strong> ânimo.<br />

Dize-me. O que faltava na fortaleza <strong>de</strong> Abraão? Ac<strong>as</strong>o previa o que havia <strong>de</strong><br />

acontecer? Captava por algum artifício a benignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus? Era profeta, m<strong>as</strong> um<br />

profeta não conhece tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cois<strong>as</strong>. De resto, a imolação teria sido supérflua e indigna<br />

<strong>de</strong> Deus. Se fosse conveniente dar a conhecer a Abraão que Deus é b<strong>as</strong>tante po<strong>de</strong>roso<br />

para ressuscitar os mortos, muito mais ele o teria entendido diante da admirável<br />

concepção <strong>de</strong> Sara, ou melhor, mesmo antes <strong>de</strong>sta, por causa <strong>de</strong> sua fé. Tu, contudo,<br />

não apen<strong>as</strong> admires, m<strong>as</strong> ainda imita esse justo. Se o vires navegando em meio a tão<br />

gran<strong>de</strong> tumulto e agitação d<strong>as</strong> vag<strong>as</strong>, como se fruísse <strong>de</strong> calmaria, procura apossar-te <strong>de</strong><br />

maneira semelhante do timão da obediência e da fortaleza. Não me dig<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> que ele<br />

levantou o altar e preparou a lenha; m<strong>as</strong> recorda-te da palavra do menino, e consi<strong>de</strong>ra<br />

quantos regimentos <strong>de</strong> exércitos o atacaram, incutindo-lhe pavor, ao ouvir o menino<br />

dizer: “Pai, on<strong>de</strong> está a vítima?” (cf. Gn 22,7). Imagina então quantos pensamentos o<br />

abalaram, armados não <strong>de</strong> ferro, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> lanç<strong>as</strong> ígne<strong>as</strong>, que <strong>de</strong> todos os lados o pungiam<br />

e feriam. Pois, se ainda agora, muitos, apesar <strong>de</strong> não serem pais, haveriam <strong>de</strong> se condoer<br />

e lacrimejar, se não conhecessem o resultado final; ou antes, vejo a muitos lacrimejantes,<br />

embora o saibam, que tormento atacara sem dúvida o progenitor, já velho, que educara<br />

este filho único, que possuía tant<strong>as</strong> qualida<strong>de</strong>s, e que ele via e ouvia, m<strong>as</strong> que logo <strong>de</strong>via<br />

388

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!