26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sem te submeteres a juízo, a fim <strong>de</strong> obteres <strong>de</strong> acréscimo recompensa. Pois, diz o<br />

evangelho: “E aquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, <strong>de</strong>ixa-lhe também<br />

o manto” (Mt 5,25) e: “Assume logo uma atitu<strong>de</strong> conciliadora com o teu adversário,<br />

enquanto estás com ele no caminho” (Mt 5,25). E o que havemos nós <strong>de</strong> dizer? De fato,<br />

os próprios advogados dos tribunais dos gentios dizem frequentemente que é melhor<br />

resolver o litígio fora dos tribunais.<br />

M<strong>as</strong>, ó dinheiro! Ou antes, ó amor <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado do dinheiro, que tudo subverte e joga<br />

por terra! E para muitos, por causa do dinheiro, tudo se torna ninharia e fábula. Não é <strong>de</strong><br />

admirar que os que se <strong>de</strong>dicam aos negócios seculares fiquem en<strong>vol</strong>vidos em litígios<br />

perante os tribunais; m<strong>as</strong> que façam o mesmo muitos dos que renunciaram ao século é<br />

inteiramente sem <strong>de</strong>sculpa. Pois, se queres ver quanto te prescreve a Escritura abster-te<br />

<strong>de</strong> tais hábitos, a saber, dos tribunais, e saber quais <strong>as</strong> leis promulgad<strong>as</strong>, ouve o que<br />

afirma Paulo: “A lei não é <strong>de</strong>stinada aos justos, m<strong>as</strong> aos iníquos e rebel<strong>de</strong>s” (1Tm 1,9).<br />

Se ele se refere à lei mosaica, muito mais se aplica às leis pagãs. Se, portanto, pratic<strong>as</strong> a<br />

injustiça, é evi<strong>de</strong>nte que não és justo; se, porém, sofres a injustiça e a suport<strong>as</strong> (o que é<br />

especialmente peculiar ao justo), não necessit<strong>as</strong> <strong>de</strong> forma alguma d<strong>as</strong> leis pagãs. E <strong>de</strong> que<br />

modo, pergunt<strong>as</strong>, po<strong>de</strong>rei suportar a injustiça? Ora, Cristo or<strong>de</strong>nou algo <strong>de</strong> maior. Não<br />

somente mandou suportar a injustiça, m<strong>as</strong> ainda aumentar a liberalida<strong>de</strong> para com o<br />

inimigo, e superar com a pronta disposição para o sofrimento a vonta<strong>de</strong> maligna do<br />

injusto. Com efeito, não disse apen<strong>as</strong>: E aquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a<br />

túnica, <strong>de</strong>ixa-lhe a túnica, m<strong>as</strong> também com ela entrega o manto. Vence-o tolerando o<br />

mal, e não praticando. Seria ilustre e esplêndida vitória. Em vista disso, prossegue Paulo:<br />

“De todo modo, já é para vós uma falta a existência <strong>de</strong> litígios entre vós. Por que não<br />

preferis, antes, pa<strong>de</strong>cer uma injustiça?” (1Cor 6,7). Vou comprovar-vos que vence<br />

antes o que sofre a injustiça do que aquele que não a suporta. Quem não suporta a<br />

injustiça, mesmo que leve a questão a um tribunal, mesmo que supere, é então realmente<br />

que é vencido. Sofreu o que não queria: o adversário o obrigou a aborrecer-se e pleitear<br />

em juízo. Em que venceste? Por que recebeste todo o dinheiro? No entanto, estiveste<br />

sujeito ao que não queri<strong>as</strong>: foste obrigado a pleitear em juízo. Efetivamente, se suport<strong>as</strong><br />

a iniquida<strong>de</strong>, vences apesar <strong>de</strong> privado do dinheiro, m<strong>as</strong> essa vitória não é acima da<br />

gran<strong>de</strong> sabedoria: não pô<strong>de</strong> o adversário obrigar-te a fazer o que não queri<strong>as</strong>. Para<br />

verificares que é verda<strong>de</strong>, dize-me: Quem venceu? O invejoso ou aquele que jazia no<br />

esterco? Quem superou? Jó, cujos bens lhe foram todos arrebatados, ou o diabo que<br />

tudo tirou? É evi<strong>de</strong>nte que foi o diabo, que lhe roubou tudo. A quem admiramos em vista<br />

da vitória, o diabo que feriu, ou Jó que foi ferido? É claro que é Jó. Ora, ele não pô<strong>de</strong><br />

conservar <strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> perecíveis, nem preservar a incolumida<strong>de</strong> dos filhos. E por que<br />

falo <strong>de</strong> riquez<strong>as</strong> e filhos? Não pô<strong>de</strong> manter a saú<strong>de</strong> do corpo. No entanto, ele que per<strong>de</strong>u<br />

tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> posses foi vencedor. Não pô<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fato, reter <strong>as</strong> riquez<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> conservou com<br />

todo cuidado a pieda<strong>de</strong>. Aos filhos que morreram não pô<strong>de</strong> socorrer. E então?<br />

Entretanto, o evento tornou-os mais ilustres; e também a ele, atingido pela tribulação,<br />

trouxe proveito. Se, <strong>de</strong> fato, não tivesse pa<strong>de</strong>cido e sofrido dano da parte do diabo, não<br />

obteria aquela esplêndida vitória. Se suportar a injúria fosse um mal, Deus não no-lo teria<br />

129

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!