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à salvação, e consi<strong>de</strong>ram molestos os que <strong>de</strong>les cuidam. Não se origina isso da natureza<br />

d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> da doença. O modo <strong>de</strong> agir dos loucos, que o<strong>de</strong>iam os que cuidam <strong>de</strong>les<br />

e os atacam com ultrajes, é também o dos infiéis. Especialmente <strong>de</strong>les se compa<strong>de</strong>cem e<br />

choram os que eles injuriam, por consi<strong>de</strong>rarem este modo <strong>de</strong> agir como o sintoma<br />

extremo da doença, pois não reconhecem os seus melhores amigos; <strong>as</strong>sim também nós<br />

fazemos relativamente aos gentios, e mais do que às mulheres lamentamo-los, porque<br />

ignoram a salvação oferecida a todos. O marido não <strong>de</strong>ve amar tanto a mulher quanto<br />

nós a todos os homens e procurar atraí-los à salvação, quer seja gentio ou seja quem for.<br />

Choremo-los porque a palavra da cruz para eles é loucura, apesar <strong>de</strong> ser sabedoria e<br />

virtu<strong>de</strong>, porque “a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se per<strong>de</strong>m”. Visto ser<br />

provável que eles, se os gregos zombarem da cruz, queiram opor-lhes a sabedoria que<br />

talvez tenham em si e combatam ruidosamente os axiom<strong>as</strong> gregos, Paulo, confortandoos,<br />

diz: Não julgueis ser acontecimento insólito e estupendo. Naturalmente os que<br />

perecem não conhecem a força da cruz. Estão fora <strong>de</strong> si e são loucos. Por este motivo<br />

também injuriam e suportam mal os remédios salutares. O que dizes, ó homem? Por tua<br />

causa Cristo se fez servo, <strong>as</strong>sumindo a condição <strong>de</strong> servo, foi crucificado e ressuscitou.<br />

E quando importava adorar o ressuscitado, e admirar sua benignida<strong>de</strong>, porque isto nem<br />

pai, nem amigo, nem filho fez em teu favor e, no entanto, o Senhor operou por ti, seu<br />

inimigo, que o ofen<strong>de</strong>ra. Entretanto, <strong>de</strong>vi<strong>as</strong> admirá-lo e a um feito tão cheio <strong>de</strong> sabedoria<br />

cham<strong>as</strong> <strong>de</strong> estultice? Nada <strong>de</strong> espantoso! É próprio dos que se per<strong>de</strong>m não<br />

reconhecerem os meios que conduzem à salvação.<br />

Não vos perturbeis, portanto; não é novo nem imprevisto que <strong>as</strong> realida<strong>de</strong>s grandios<strong>as</strong><br />

sejam ridicularizad<strong>as</strong> pelos insensatos. Impossível persuadir os afetados pela sabedoria<br />

humana. Se quiseres <strong>as</strong>sim agir, farás o oposto do que convém; <strong>de</strong> fato, o que ultrap<strong>as</strong>sa<br />

a razão sujeita-se apen<strong>as</strong> à fé. E se queremos persuadir por raciocínios <strong>de</strong> que modo<br />

Deus se fez homem, e entrou no seio da Virgem, e não <strong>de</strong>ixamos a solução à fé, mais<br />

ainda eles haverão <strong>de</strong> rir. Por conseguinte, os que buscam através <strong>de</strong> raciocínios são os<br />

que se per<strong>de</strong>m. E por que falo a respeito <strong>de</strong> Deus? Se o fizermos acerca da criação, a<br />

consequência será muito riso. Imaginemos um homem que queira tudo apren<strong>de</strong>r por<br />

argumentos, e tente convencer-se por tu<strong>as</strong> razões <strong>de</strong> que maneira vemos a luz. Tenta<br />

pela razão convencê-lo. Não conseguirás. Se lhe disseres que b<strong>as</strong>ta abrir os olhos e olhar,<br />

não terás <strong>de</strong>scrito o processo, m<strong>as</strong> somente o que costuma acontecer. Por que, então,<br />

não vemos com os ouvidos, dirá, nem com os olhos ouvimos? Por que não ouvimos com<br />

o nariz, nem cheiramos com os ouvidos? Se, portanto, quando ele interroga ess<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>,<br />

não po<strong>de</strong>mos dar a razão <strong>de</strong>l<strong>as</strong>, e ele se puser a rir, nós não haveremos <strong>de</strong> rir ainda mais?<br />

Com efeito, como ambos os sentidos principiam do mesmo cérebro, e ambos são órgãos<br />

vizinhos, por que não são capazes <strong>de</strong> fazer cois<strong>as</strong> idêntic<strong>as</strong>? Não po<strong>de</strong>mos explicar a<br />

causa, nem o modo <strong>de</strong>sta inefável e variada operação; e se o tentarmos, seremos<br />

ridicularizados. Por esta razão, ce<strong>de</strong>ndo diante do po<strong>de</strong>r e da infinita sabedoria <strong>de</strong> Deus,<br />

guar<strong>de</strong>mos o silêncio. Na verda<strong>de</strong>, se quisermos elucidar por meio da sabedoria pagã <strong>as</strong><br />

ações <strong>de</strong> Deus, provocaremos muito riso, não <strong>de</strong>vido à insuficiência dos eventos, m<strong>as</strong> à<br />

insipiência humana. Palavra alguma é capaz <strong>de</strong> explanar feitos grandiosos. Vê, portanto.<br />

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