26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

temerariamente, sem motivo algum, suicidaram-se. Entre nós tal não aconteceu. Por isso,<br />

não se mencionam os atos <strong>de</strong>les; os nossos <strong>de</strong>sabrocham e aumentam cada dia.<br />

Consi<strong>de</strong>rando est<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, dizia Paulo: “O que é fraqueza <strong>de</strong> Deus é mais forte do que<br />

os homens”. Daí evi<strong>de</strong>ncia-se ser divina a pregação. Don<strong>de</strong> vem que doze homens, e<br />

ignorantes, que viviam às margens dos lagos, dos rios e no <strong>de</strong>serto, enfrent<strong>as</strong>sem tal<br />

empreendimento e aqueles que talvez jamais haviam ido a uma cida<strong>de</strong> e a uma praça, se<br />

entreg<strong>as</strong>sem à luta contra toda a terra? No entanto, quem escreveu a respeito <strong>de</strong>les<br />

informa que eles eram medrosos e pusilânimes; e, máximo argumento <strong>de</strong> sua veracida<strong>de</strong>,<br />

não omitiu, nem quis escon<strong>de</strong>r su<strong>as</strong> falh<strong>as</strong>. O que, portanto, afirma sobre eles? Que na<br />

prisão <strong>de</strong> Cristo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos milagres, uns fugiram, e outro, o chefe <strong>de</strong> todos eles, o<br />

negou. De on<strong>de</strong> vem que eles, enquanto Cristo vivia, não enfrentaram o ataque dos<br />

ju<strong>de</strong>us, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morto e sepultado e, conforme vós afirmais, sem ter ressuscitado,<br />

nem lhes ter falado, nem incutido ânimo, armaram-se contra a terra inteira? Ac<strong>as</strong>o não<br />

diriam a si mesmos: O que é isto? Não pô<strong>de</strong> salvar-se a si mesmo e nos protegerá?<br />

Enquanto vivo não socorreu a si próprio, e esten<strong>de</strong>r-nos-á a mão <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morto?<br />

Enquanto viveu, não submeteu nem um só povo, e nós, proferindo seu nome,<br />

converteremos o orbe todo? Não seria <strong>de</strong>sarrazoado não só agir <strong>as</strong>sim, m<strong>as</strong> até mesmo<br />

pensar? É evi<strong>de</strong>nte que, se não o tivessem visto ressuscitado, com uma gran<strong>de</strong> prova <strong>de</strong><br />

seu po<strong>de</strong>r, não se teriam aventurado a obra tão perigosa. Mesmo que tivessem inúmeros<br />

amigos, ac<strong>as</strong>o não iriam logo adquirir a inimiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos, ao abolirem antigos costumes<br />

e modificarem os limites paternos? Agora, portanto, tinham por inimigos os próprios<br />

conterrâneos e os estranhos. Se, pois, eram respeitáveis pelo exterior, não o teriam talvez<br />

abominado por introduzirem novo estilo <strong>de</strong> vida? Agora, porém, eram abandonados por<br />

todos, e era consentâneo que, ao menos por isso, incorressem no ódio e <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong><br />

todos. A quem estás te referindo? Aos ju<strong>de</strong>us? M<strong>as</strong> <strong>de</strong>dicavam-lhes indizível ódio por<br />

causa do que suce<strong>de</strong>ra ao mestre. Aos gregos? M<strong>as</strong> estes não menos do que os ju<strong>de</strong>us<br />

tinham-lhes aversão e sabem-no principalmente os gregos. Quanto a Platão, que quis<br />

instituir nova forma <strong>de</strong> governo, ou antes uma parte <strong>de</strong>sta, e não mudou os nomes dos<br />

<strong>de</strong>uses, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> alterou os costumes, trocando uns pelos outros, expulso da Sicília,<br />

correu o perigo <strong>de</strong> ser morto. Tal não aconteceu, m<strong>as</strong> per<strong>de</strong>u a própria liberda<strong>de</strong>. E se<br />

certo bárbaro não fosse mais manso do que o tirano da Sicília, nada impediria que o<br />

filósofo se torn<strong>as</strong>se escravo para sempre em terra estrangeira. Entretanto, não é a mesma<br />

coisa inovar <strong>as</strong> disposições relativ<strong>as</strong> ao reino e <strong>as</strong> da religião, pois est<strong>as</strong> últim<strong>as</strong><br />

especialmente perturbam e comovem os homens. Pois dizer: Fulano e Sicrano se c<strong>as</strong>em<br />

com tal mulher, e: Os guard<strong>as</strong> exerçam a vigilância <strong>de</strong> tal modo, não abala muito. E<br />

sobretudo se <strong>as</strong> leis se acham escrit<strong>as</strong> num livro, e o legislador não cuida muito <strong>de</strong> que<br />

sejam executad<strong>as</strong>; m<strong>as</strong> <strong>as</strong>segurar que aqueles que se cultuam não são <strong>de</strong>uses, e sim<br />

<strong>de</strong>mônios, que o Crucificado é Deus, sabeis quanta ira inflamou, quant<strong>as</strong> pen<strong>as</strong> foram<br />

aplicad<strong>as</strong>, quanta guerra foi <strong>de</strong>clarada.<br />

Efetivamente, entre eles, Protágor<strong>as</strong>, que, embora não tenha percorrido a terra para<br />

pregar, m<strong>as</strong> somente numa cida<strong>de</strong> ousou afirmar: Não conheço <strong>de</strong>uses, correu o maior<br />

perigo. A Diágor<strong>as</strong> da ilha <strong>de</strong> Melo, contudo, e a Teodoro, cognominado ateu, <strong>de</strong> nada<br />

35

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!