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é dos que operam por si. Diz: “Quem, pois, <strong>de</strong>ntre os homens conhece o que é do<br />

homem, se não o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, o que está em<br />

Deus, ninguém o conhece senão o Espírito <strong>de</strong> Deus” (1Cor 2,11). Todos sabem que o<br />

espírito do homem, isto é, a alma, não precisa <strong>de</strong> uma operação para conhecer o que lhe<br />

é próprio, nem o Espírito Santo para conhecer o que é <strong>de</strong> Deus. Pois ele <strong>de</strong>clara: O<br />

Espírito Santo conhece os mistérios <strong>de</strong> Deus, como a alma do homem conhece o que<br />

está oculto nela. Se, porém, para isso não realiza outra operação, muito mais quem<br />

conhece <strong>as</strong> profun<strong>de</strong>z<strong>as</strong> <strong>de</strong> Deus, nem precisará ser movido <strong>de</strong> outra operação para dar<br />

os carism<strong>as</strong> aos apóstolos. Além disso, direi agora algo diferente do que disse antes. O<br />

que seria? Se o Espírito é menor e <strong>de</strong> outra substância, o consolo <strong>de</strong> nada serviria, nem<br />

ouvir dizer que o Espírito é o mesmo. Pois quem receber um dom do rei, terá por<br />

máximo conforto saber que ele próprio lho <strong>de</strong>u; quem, contudo, receber <strong>de</strong> um escravo,<br />

sentirá mais quando lhe for oferecida tal dádiva. Por conseguinte, daí se evi<strong>de</strong>ncia que o<br />

Espírito Santo não é <strong>de</strong> uma substância servil e sim régia. Por isso, <strong>de</strong> certo modo os<br />

consolou, dizendo: “Diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ministérios, m<strong>as</strong> o Senhor é o mesmo” e:<br />

“Diversos modos <strong>de</strong> ação, m<strong>as</strong> é o mesmo Deus”, <strong>as</strong>sim como disse acima:<br />

“Diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dons, m<strong>as</strong> o Espírito é o mesmo”, diz mais abaixo: “M<strong>as</strong>, isso tudo, é<br />

o único e mesmo Espírito que o realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme<br />

lhe apraz”. Não nos aflijamos, diz ele, nem nos contristemos dizendo: Por que recebi<br />

esse dom e não aquele? Não peçamos prestação <strong>de</strong> cont<strong>as</strong> ao Espírito Santo. Com efeito,<br />

se sabes que te foi concedido com solicitu<strong>de</strong>, ao pensares que, ao cuidar <strong>de</strong> ti, <strong>de</strong>u-te<br />

essa medida, abraça-a e alegra-te com o que recebeste e não te aborreç<strong>as</strong> porque não<br />

recebeste outros dons; ao contrário, dá graç<strong>as</strong> porque não recebeste mais do que po<strong>de</strong>s<br />

suportar.<br />

Se, portanto, quanto aos dons espirituais não se <strong>de</strong>ve perscrutar curiosamente, muito<br />

mais relativamente aos materiais; m<strong>as</strong> faz-se mister ficar tranquilo e não perscrutar com<br />

curiosida<strong>de</strong> por que este é rico, aquele pobre. Principalmente porque nem todos<br />

receberam <strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> da parte <strong>de</strong> Deus, m<strong>as</strong> muitos a adquiriram por injustiça, rapina e<br />

avareza. Pois quem or<strong>de</strong>nou não nos enriquecermos, como daria aquilo que proíbe<br />

tomar? Para refutar melhor aqueles que nisso nos contradizem, vamos, remontemos com<br />

a palavra ao tempo em que Deus concedia riquez<strong>as</strong>, e respon<strong>de</strong>-me: Por que Abraão era<br />

rico, Jacó, porém, não tinha pão? Ambos não eram justos? Ac<strong>as</strong>o Deus não disse<br />

igualmente dos três: “Eu sou o Deus <strong>de</strong> Abraão, o Deus <strong>de</strong> Isaac e o Deus <strong>de</strong> Jacó” (Ex<br />

3,6)? Por que aquele era rico e este era <strong>as</strong>salariado? Ou antes: Por que Esaú, iníquo e<br />

fratricida, era rico, Jacó, porém, esteve tanto tempo na servidão? Por que ainda Isaac<br />

todo o tempo viveu tranquilamente, e Jacó entre trabalhos e miséri<strong>as</strong>? Por isso ele dizia:<br />

“Meus anos foram breves e infelizes” (Gn 47,9). Por que Davi, rei e profeta, p<strong>as</strong>sou<br />

uma vida trabalhosa; e Salomão, seu filho, por quarenta anos viveu em maior segurança<br />

do que qualquer outro homem, gozando <strong>de</strong> profunda paz, <strong>de</strong> toda espécie <strong>de</strong> glória,<br />

honra e prazer? Por que, entre os profet<strong>as</strong>, uns eram mais afligidos, outros menos?<br />

Porque <strong>as</strong>sim convinha a cada qual.<br />

Por isso, a respeito <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>ve-se dizer: “Teus julgamentos como o gran<strong>de</strong><br />

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