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mostra constituir, ao invés, a maior glória. Era mister uma gran<strong>de</strong> sabedoria não apen<strong>as</strong><br />

para o conhecimento <strong>de</strong> Deus, m<strong>as</strong> também para o entendimento do plano <strong>de</strong> Deus,<br />

enquanto a sabedoria pagã servia <strong>de</strong> impedimento não somente no primeiro c<strong>as</strong>o, m<strong>as</strong><br />

também no segundo.<br />

9. M<strong>as</strong>, como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o<br />

coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam.<br />

E on<strong>de</strong> se acham escrit<strong>as</strong> est<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>? Diz-se: “Está escrito”, e não se encontram<br />

literalmente, m<strong>as</strong> são <strong>de</strong>scritos os eventos, conforme acontece n<strong>as</strong> históri<strong>as</strong>; ou existe o<br />

sentido, embora não <strong>as</strong> própri<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, conforme suce<strong>de</strong> aqui. Com efeito, os termos:<br />

“Vê-lo-ão aqueles a quem não foi anunciado, e conhecê-lo-ão aqueles que <strong>de</strong>le não<br />

ouviram falar” (Rm 15,21) têm idêntico sentido que a expressão: “Os olhos não viram,<br />

os ouvidos não ouviram”. Por conseguinte, é o que se diz, ou é provável que estivesse<br />

escrito em livros que se per<strong>de</strong>ram. De fato, muitos livros <strong>de</strong>sapareceram e poucos foram<br />

conservados, mesmo no primeiro cativeiro. O fato é evi<strong>de</strong>nte pel<strong>as</strong> Crônic<strong>as</strong>; por isso<br />

profere o Apóstolo: “Todos os profet<strong>as</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Samuel e seus sucessores, <strong>de</strong> modo<br />

semelhante anunciaram esses di<strong>as</strong>” (AT 3, 25). Entretanto, não se narra isto <strong>de</strong> um modo<br />

geral. É provável que Paulo, perito na lei, que falava inspirado pelo Espírito, estivesse<br />

melhor informado. E por que falo do cativeiro? Pois mesmo antes do cativeiro muitos<br />

livros se per<strong>de</strong>ram, porque os ju<strong>de</strong>us havia caído em extrema impieda<strong>de</strong>. Evi<strong>de</strong>ncia-se o<br />

fato pelo fim do quarto Livro dos Reis. Quanto ao Deuteronômio, com dificulda<strong>de</strong> foi<br />

re<strong>de</strong>scoberto, enterrado num estrume. Aliás, existe em vári<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sagens também dupla<br />

profecia, reconhecid<strong>as</strong> facilmente pelos mais sábios, através d<strong>as</strong> quais muit<strong>as</strong> cois<strong>as</strong><br />

ocult<strong>as</strong> se percebem. E então? O olho não viu o que Deus preparou? Não. Quem <strong>de</strong>ntre<br />

os homens viu os futuros planos da salvação? Ac<strong>as</strong>o nem o ouvido ouviu, nem o coração<br />

do homem percebeu? De que maneira? Se os profet<strong>as</strong> falaram, como o ouvido não<br />

ouviu, nem o coração do homem percebeu? Não percebeu; não fala somente <strong>de</strong> alguns<br />

homens, m<strong>as</strong> também <strong>de</strong> toda a natureza humana. Como? Os profet<strong>as</strong> não ouviram?<br />

Ouviram, sim; não eram, contudo, ouvidos <strong>de</strong> simples homens, m<strong>as</strong> ouvidos <strong>de</strong> profet<strong>as</strong>;<br />

pois não ouviram como homens, m<strong>as</strong> como profet<strong>as</strong>. Por isso diz a Escritura: “Abriu-me<br />

o ouvido para que eu ouça” (Is 50,4), abertura por ação do Espírito. Daí se manifesta<br />

que antes que se ouvisse, nem mesmo o coração do homem percebera. Pois, após a<br />

doação do Espírito, o coração dos profet<strong>as</strong> não era apen<strong>as</strong> coração humano, m<strong>as</strong><br />

coração espiritual, conforme o próprio Apóstolo também afirma: “Nós, porém, temos o<br />

pensamento <strong>de</strong> Cristo” (1Cor 2,16). É o seguinte o que ele <strong>as</strong>segura: Antes <strong>de</strong><br />

usufruirmos do dom do Espírito e conhecermos os seus segredos, nenhum <strong>de</strong> nós,<br />

nenhum dos profet<strong>as</strong> os enten<strong>de</strong>u. Como enten<strong>de</strong>ria, se nem os anjos <strong>de</strong>les tiveram<br />

notícia? O que dizer, portanto, dos príncipes <strong>de</strong>ste mundo, se homem algum, nem <strong>as</strong><br />

Potesta<strong>de</strong>s celestes estavam informad<strong>as</strong>? Quais, na verda<strong>de</strong>, são os segredos? Que pela<br />

aparente loucura da pregação ele conquistaria o mundo, e os gentios se converteriam, os<br />

homens se reconciliariam com Deus e tão gran<strong>de</strong>s bens <strong>de</strong>viam advir. De que modo,<br />

então, nós os conheceríamos?<br />

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