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tremor? E queres, finalmente, ser digno <strong>de</strong> perdão? Com efeito, um homem que recebe<br />

um benefício não o esquece, m<strong>as</strong> agra<strong>de</strong>ce; muito mais Cristo haverá <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer. De<br />

fato, quem dá mesmo sem ter recebido benefício algum, ac<strong>as</strong>o, se receber, não<br />

retribuirá? M<strong>as</strong> então, replic<strong>as</strong>, por que acontece que alguns que fizeram muit<strong>as</strong> doações,<br />

ficam precisando do auxílio alheio? Alu<strong>de</strong>s aos que dissiparam tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> su<strong>as</strong> posses, e tu<br />

nem mesmo dás um óbolo. Promete primeiro que renunciarás a tudo, e <strong>de</strong>pois<br />

interrogues; enquanto és avaro, e tir<strong>as</strong> pouquíssimo do que é teu, por que me apresent<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong>sculp<strong>as</strong> e pretextos? Não te levamos ao cume, ao cúmulo da pobreza; só pedimos que<br />

cortes o supérfluo, e reclames apen<strong>as</strong> o suficiente em si. Ser autossuficiente é limitar-se<br />

ao necessário, sem o qual é impossível viver. Ninguém te arrebata o indispensável,<br />

nem proíbe teres o sustento cotidiano. Sustento, digo, não <strong>de</strong>líci<strong>as</strong>; vestes, não adornos.<br />

Ou antes, pensando bem, é o máximo prazer. Reflete. Qual dos dois diremos que vive<br />

com maior <strong>de</strong>leite: O que se alimenta <strong>de</strong> verdur<strong>as</strong> e goza <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong>, não sofre <strong>de</strong><br />

doença alguma, ou o que tem mesa sibarita, e suporta inúmer<strong>as</strong> enfermida<strong>de</strong>s? É certo<br />

que é o primeiro. Por conseguinte, nada mais reclamemos, se queremos viver com prazer<br />

e gozar <strong>de</strong> ótima saú<strong>de</strong>. E <strong>de</strong>limitemos o que nos b<strong>as</strong>ta. Quem se satisfaz com legumes e<br />

tem saú<strong>de</strong>, não busque mais. Quem é mais fraco e precisa <strong>de</strong> plant<strong>as</strong> medicinais, não lhe<br />

seja vedado. Se alguém for ainda mais fraco, e precisar do auxílio <strong>de</strong> módica porção <strong>de</strong><br />

carne, não lho proibamos. Nossos conselhos não se <strong>de</strong>stinam a af<strong>as</strong>tar e oprimir <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> a cortar o supérfluo. É supérfluo, <strong>de</strong> fato, o exce<strong>de</strong>nte. Pois, se po<strong>de</strong>mos<br />

levar uma vida honesta abstendo-nos <strong>de</strong> algo, sem dúvida é supérfluo possuí-lo.<br />

Consi<strong>de</strong>ro-o relativamente às vestes, à mesa, à c<strong>as</strong>a etc.; em tudo procuremos o<br />

necessário, porque o supérfluo é inútil. Se te empenhares em ser comedido, enfim, se<br />

quiseres imitar a viúva do evangelho (Mc 12,14-44), guiar-te-emos ao que é mais<br />

importante. Com efeito, ainda não alcanç<strong>as</strong>te a sabedoria daquela mulher enquanto te<br />

preocupares em ter o suficiente; pois ela, atingindo grau superior, <strong>de</strong>pôs no cofre até o<br />

indispensável à própria subsistência. Ac<strong>as</strong>o ainda hesit<strong>as</strong> acerca do necessário? Não te<br />

envergonh<strong>as</strong> <strong>de</strong> estar abaixo <strong>de</strong> uma pobre mulher, e não só não imitá-la, m<strong>as</strong> manter-se<br />

numa gran<strong>de</strong> distância? Ela não utilizou a linguagem: O que será <strong>de</strong> mim, se g<strong>as</strong>tando os<br />

meus recursos precisar da ajuda alheia? M<strong>as</strong> <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>spojou-se <strong>de</strong> todos os<br />

bens. O que direi da viúva do tempo do profeta Eli<strong>as</strong>, mencionada no Antigo Testamento<br />

(1Rs 17)? Ela, <strong>de</strong> fato, chegara não apen<strong>as</strong> à pobreza, m<strong>as</strong> também enfrentava perigo <strong>de</strong><br />

vida, não só para si, m<strong>as</strong> também para os filhos. E não esperava ser socorrida, e sim<br />

morrer logo. M<strong>as</strong> viu o profeta, respon<strong>de</strong>rás, e com isso foi induzida a empregar<br />

liberalida<strong>de</strong>. E tu não vês inúmeros santos? E por que falo <strong>de</strong> santos? Ou antes, ve<strong>de</strong>s o<br />

próprio Senhor pedindo socorro; nem <strong>as</strong>sim vos revestis <strong>de</strong> sentimentos humanos, e<br />

apesar <strong>de</strong> possuir<strong>de</strong>s celeiros transbordantes <strong>de</strong> todos os lados, nem mesmo do que<br />

sobra, quereis dar. O que dizes? O profeta estava presente, e a incitou a dar exemplo <strong>de</strong><br />

tão gran<strong>de</strong> liberalida<strong>de</strong>? O próprio fato é maravilhoso: Ter acreditado que ele era um<br />

homem importante e admirável. Por que não proferiu o que seria consentâneo que<br />

pens<strong>as</strong>se uma mulher bárbara e estrangeira: Se fosse um profeta, não <strong>de</strong>sejaria meu<br />

auxílio; se fosse amigo <strong>de</strong> Deus, ele não o teria abandonado? Seria justo que os ju<strong>de</strong>us<br />

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