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Rebeca, que tinha gran<strong>de</strong> predileção pelo filho, praticou uma frau<strong>de</strong> e não se corou nem<br />

teve medo <strong>de</strong> ser surpreendida, embora incorresse em gran<strong>de</strong> perigo, m<strong>as</strong> até se opôs à<br />

hesitação do filho, e disse: “Caia sobre mim tua maldição, meu filho!” (Gn <strong>27</strong>,13).<br />

Vês que também uma mulher possui ânimo apostólico? Optava Paulo (se é possível<br />

comparar um pequeno com um gran<strong>de</strong>) ser anátema pelos ju<strong>de</strong>us; <strong>as</strong>sim também ela,<br />

para que o filho fosse abençoado, consentia em ser amaldiçoada. Cedia-lhe os bens, uma<br />

vez que com ele não receberia a bênção. Estava pronta a submeter-se sozinha aos males,<br />

porquanto <strong>de</strong> certo modo se alegrava e insistia, apesar <strong>de</strong> iminente o enorme perigo, e<br />

ansiava pelo término da questão. Temia que, se ele não se antecip<strong>as</strong>se a Esaú, tornar-seia<br />

vã sua <strong>as</strong>túcia. Por isso também encurtou <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> e insistiu com o jovem, e <strong>de</strong>pois<br />

que o <strong>de</strong>ixou contradizer, apresentou o argumento suficiente para persuadi-lo. Não<br />

replicou: Fal<strong>as</strong> sem fundamento e recei<strong>as</strong> em vão, porque teu pai envelheceu e per<strong>de</strong>u a<br />

sensibilida<strong>de</strong> mais aguda. M<strong>as</strong>, o que disse? “Caia sobre mim tua maldição, meu filho!”<br />

Apen<strong>as</strong> não perc<strong>as</strong> a oportunida<strong>de</strong>, nem estragues a presa, nem renuncies ao tesouro.<br />

Entretanto, Jacó não foi um mercenário ao lado do sogro durante catorze anos? Além da<br />

servidão, não caiu no ridículo por causa daquela frau<strong>de</strong>? Como? Ac<strong>as</strong>o se ressentiu?<br />

Talvez tenha pensado que era <strong>de</strong>sonroso permanecer na condição <strong>de</strong> escravo junto dos<br />

parentes, visto ser livre, filho <strong>de</strong> homens livres, e educado liberalmente e ser mais aflitiva<br />

ação injuriosa dos conhecidos? De forma alguma. O motivo que o movia era o amor, o<br />

qual fazia com que julg<strong>as</strong>se curto o longo prazo. “Anos, que lhe pareceram alguns di<strong>as</strong>”<br />

(Gn 29,20), tão longe se achava <strong>de</strong> se afligir e <strong>de</strong> corar <strong>de</strong>ssa servidão. Com razão,<br />

portanto, dizia São Paulo: “A carida<strong>de</strong> nada faz <strong>de</strong> inconveniente”, não procura o seu<br />

próprio interesse, não se irrita.<br />

Tendo dito: “Nada faz <strong>de</strong> inconveniente”, explicita igualmente o modo <strong>de</strong> nada fazer<br />

<strong>de</strong> inconveniente. Qual é? “Não procura o seu próprio interesse”. Aprecia sobretudo o<br />

amigo, e então julga in<strong>de</strong>coroso não po<strong>de</strong>r livrá-lo <strong>de</strong> uma ação torpe, <strong>de</strong> sorte que, se<br />

for possível socorrer o amigo mesmo que acarrete para si opróbrio, não consi<strong>de</strong>ra<br />

<strong>de</strong>sonroso, porque se i<strong>de</strong>ntifica com ele. A amiza<strong>de</strong> é tal que o ser amado e o amante não<br />

são dois separados, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> certo modo formam um só homem. Não se realiza tal feito<br />

alhures, a não ser por meio da carida<strong>de</strong>. Não procures obter, portanto, o que é teu, para<br />

o encontrares. Quem, <strong>de</strong> fato, procura seus interesses, não os alcança. Por isso Paulo<br />

<strong>de</strong>clarava: “Ninguém procure satisfazer aos seus próprios interesses, m<strong>as</strong> aos do<br />

próximo” (1Cor 10,24). O nosso proveito resulta da utilida<strong>de</strong> do próximo, e o <strong>de</strong>le, do<br />

nosso. Por conseguinte, se alguém enterrar o próprio ouro na c<strong>as</strong>a do próximo, e não<br />

quiser ir lá procurá-lo e <strong>de</strong>senterrá-lo, jamais o verá; <strong>as</strong>sim em nosso c<strong>as</strong>o quem não<br />

quiser procurar a própria utilida<strong>de</strong> incluída na do próximo, não conseguirá <strong>as</strong> coro<strong>as</strong><br />

prometid<strong>as</strong>. Efetivamente, Deus dispôs <strong>de</strong>sta forma a fim <strong>de</strong> permanecermos<br />

mutuamente unidos. Ora, se alguém <strong>de</strong>spertar um menino sonolento para acompanhar o<br />

irmão e ele não o quiser fazer espontaneamente, faz entrega ao irmão <strong>de</strong> um objeto<br />

cobiçado e ambicionado, a fim <strong>de</strong> que o menino, <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> o tomar, persiga quem o<br />

segura; <strong>as</strong>sim também age Deus. Em tal c<strong>as</strong>o, ele entrega ao próximo o que é útil a cada<br />

qual, para que <strong>as</strong>sim acorramos uns aos outros, e não fiquemos divididos. E se o<br />

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