26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

pecado e que era a libertação dos pecados que constituía a ressurreição. Viste que nada<br />

há <strong>de</strong> mais frágil do que o erro, e como é apanhado por su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> <strong>as</strong><strong>as</strong>, sem precisar<br />

<strong>de</strong> ataques do exterior, porque se ferem a si mesmos? Consi<strong>de</strong>ra como eles se combatem<br />

pelo que dizem. Se a morte é isto, Cristo não <strong>as</strong>sumiu um corpo, como quereis, e, no<br />

entanto, morreu; teve, portanto, pecado, em vossa opinião. Entretanto eu digo que<br />

<strong>as</strong>sumiu um corpo e a morte foi corporal; tu, porém, ao negá-lo, necessariamente afirm<strong>as</strong><br />

o contrário. Se, contudo, cometeu pecado, por que diz: “Quem <strong>de</strong>ntre vós, me acusa <strong>de</strong><br />

pecado?”, e: “O príncipe do mundo vem; contra mim, ele nada po<strong>de</strong>” (Jo 8,46; 14,30); e<br />

ainda: “Assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3,15)? Como, então, morreu<br />

apen<strong>as</strong> pelos pecadores, se ele havia cometido pecados? Pois aquele que morreu pelos<br />

pecadores, <strong>de</strong>ve ser impecável; se ele próprio peca, como morrerá pelos <strong>de</strong>mais<br />

pecadores? Se, porém, morreu pelos pecados dos outros, morreu sem pecado algum; se<br />

morreu inocente, sua morte não foi morte por causa do pecado (como o seria, se não<br />

tinha pecado?), e sim morte corporal. E por isso, Paulo não afirmou apen<strong>as</strong>: “Morreu”,<br />

m<strong>as</strong> acrescentou: “Por nossos pecados”. E obrigou-os, mesmo a contragosto, a<br />

confessar que houve morte corporal, expondo <strong>as</strong>sim que ele antes da morte não era réu<br />

<strong>de</strong> pecado. Quem morre pelos pecados alheios consequentemente há <strong>de</strong> ser impecável.<br />

Não contente com isso, acrescentou: segundo <strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>.<br />

Daí torna novamente fi<strong>de</strong>digna sua exposição, e <strong>as</strong>sinala a que espécie <strong>de</strong> morte se<br />

referia. As Escritur<strong>as</strong> sempre falam da sua morte como sendo corporal: “Tr<strong>as</strong>p<strong>as</strong>saram<br />

minh<strong>as</strong> mãos e os meus pés” (Sl 22,17), e: “Olharão para aquele que tr<strong>as</strong>p<strong>as</strong>saram” (Jo<br />

19,37).<br />

É possível aduzir muitos outros testemunhos (para não nos referirmos a cada coisa<br />

isoladamente), às vezes por palavr<strong>as</strong>, às vezes por figur<strong>as</strong>, em que se <strong>as</strong>sinala a morte<br />

corporal e que ele morreu por nossos pecados. Assim: “Fui morto pela transgressão <strong>de</strong><br />

meu povo”. “O Senhor fez cair sobre ele a iniquida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos nós”. “Foi esmagado por<br />

causa d<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> iniquida<strong>de</strong>s” (Is 54,8.6.5). Se não aceit<strong>as</strong> <strong>as</strong> Antig<strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>, ouve o<br />

clamor <strong>de</strong> João, que aponta para amb<strong>as</strong>, a morte corporal e a sua causa: “Eis o Cor<strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong> Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29); e Paulo, que diz: “Aquele que não<br />

conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa <strong>de</strong> nós, a fim <strong>de</strong> que, por ele, nos<br />

tornemos justiça <strong>de</strong> Deus” (2Cor 5,21); e ainda: “Cristo nos remiu da maldição da Lei,<br />

tornando-se maldição por nós” (Gl 3,13); e novamente: “Despojou os Principados e <strong>as</strong><br />

Potesta<strong>de</strong>s, expondo-os” (Cl 2,15) e levando-os em cortejo triunfal; e outros inumeráveis<br />

trechos, que explicam os eventos como morte corporal, e por causa <strong>de</strong> nossos pecados.<br />

Com efeito, ele <strong>de</strong>clara: “Por vós a mim mesmo me santifico” (Jo 17,19), e: “O príncipe<br />

<strong>de</strong>ste mundo já está julgado” (Jo 16,11), querendo <strong>as</strong>sinalar que, ao ser morto, não tinha<br />

pecado algum.<br />

4. Foi sepultado, confirma o prece<strong>de</strong>nte, pois certamente é corpo, se foi sepultado. E<br />

aqui não acrescentou: “Segundo <strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>”; podia fazê-lo, m<strong>as</strong> não o fez. Por quê?<br />

Ou porque o sepulcro era e é conhecido <strong>de</strong> todos, ou porque vale <strong>de</strong> modo geral a<br />

locução: “Segundo <strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>”. Por que este acréscimo: “Segundo <strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>”,<br />

nessa p<strong>as</strong>sagem: ressuscitou ao terceiro dia, segundo <strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>, e não se contentou<br />

306

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!