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iquez<strong>as</strong>, porém, fazem guerra mesmo aos que não po<strong>de</strong>m acusar <strong>de</strong> crime algum, e<br />

cruelmente se ex<strong>as</strong>peram contra o corpo que jaz em gran<strong>de</strong> solidão. Ora, muit<strong>as</strong><br />

consi<strong>de</strong>rações ali po<strong>de</strong>m atrair à misericórdia: um morto, imóvel, propenso à terra e à<br />

corrupção, <strong>de</strong>svalido. Nada disso dobra aqueles execrandos, por causa da tirania oriunda<br />

da cobiça. O amor do dinheiro, cruel tirano, insiste or<strong>de</strong>nando atos <strong>de</strong>sumanos, e<br />

transformando-os em fer<strong>as</strong>, atrai às urn<strong>as</strong>. Quais fer<strong>as</strong> atacam os mortos, e não se<br />

absteriam d<strong>as</strong> carnes, se os membros lhes trouxessem alguma utilida<strong>de</strong>. D<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong><br />

usufruímos o seguinte: somos até <strong>de</strong>pois da morte ultrajados, privados da sepultura, que<br />

até os mais ousados criminosos conseguem. Dize-me. A tal ponto são inimig<strong>as</strong>, e ainda<br />

<strong>de</strong>vemos amá-l<strong>as</strong>? Absolutamente não, irmãos, absolutamente. Fujamos, sem olhar para<br />

trás, e se vierem às noss<strong>as</strong> mãos, não <strong>as</strong> retenhamos, m<strong>as</strong> prendamo-l<strong>as</strong> às mãos dos<br />

pobres. Esses vínculos po<strong>de</strong>m melhor retê-l<strong>as</strong>, e nunca escaparão daqueles tesouros;<br />

apesar <strong>de</strong> infiéis permanecerão fiéis, plácid<strong>as</strong>, mans<strong>as</strong>, transformad<strong>as</strong> por meio da esmola<br />

dada pela direita. Se alguma vez, portanto, el<strong>as</strong> nos advierem, transmitamo-l<strong>as</strong>; do<br />

contrário, se não vierem, não <strong>as</strong> procuremos, não tenhamos sufocação, nem<br />

consi<strong>de</strong>remos felizes os que <strong>as</strong> possuem. De que modo será consi<strong>de</strong>rado feliz? A não ser<br />

que dig<strong>as</strong> serem felizes os que lutam com <strong>as</strong> fer<strong>as</strong>, porque os que propõem esses<br />

combates mantêm pres<strong>as</strong> <strong>as</strong> que compraram, m<strong>as</strong> nem eles próprios ousam aproximar-se<br />

e tocá-l<strong>as</strong>, por pavor e tremor. O mesmo acontece aos ricos, que fecharam nos tesouros<br />

<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong>, cruel fera, e <strong>de</strong>l<strong>as</strong> cada dia recebem inumeráveis ferimentos, ao contrário<br />

inteiramente do que acontece com os animais. Pois <strong>as</strong> fer<strong>as</strong> solt<strong>as</strong>, <strong>de</strong> fato, danificam os<br />

que vêm a seu encontro; se fechad<strong>as</strong> e guardad<strong>as</strong>, causam perda aos que <strong>as</strong> possuem e<br />

conservam. Quanto a nós, tornemos mansa a fera. Amansará se não a aprisionarmos,<br />

m<strong>as</strong> <strong>as</strong> conduzirmos às mãos <strong>de</strong> todos os necessitados. Assim também alcançaremos os<br />

maiores bens, e na vida presente viveremos seguros, repletos d<strong>as</strong> melhores esperanç<strong>as</strong>, e<br />

no dia que há <strong>de</strong> vir estaremos confiantes. Seja concedido a todos nós obtê-lo pela graça<br />

e amor aos homens etc.<br />

TRIGÉSIMA SEXTA HOMILIA<br />

20. Irmãos, quanto ao modo <strong>de</strong> julgar, não sejais como crianç<strong>as</strong>; quanto à malícia,<br />

sim, se<strong>de</strong> crianç<strong>as</strong>; m<strong>as</strong>, quanto ao modo <strong>de</strong> julgar, se<strong>de</strong> adultos.<br />

Com razão, após longo preparo e <strong>de</strong>monstração, emprega palavra mais forte e muit<strong>as</strong><br />

repreensões, e relembra um exemplo a<strong>de</strong>quado à presente conjuntura. Com efeito, <strong>as</strong><br />

crianç<strong>as</strong> ficam boquiabert<strong>as</strong> e admirad<strong>as</strong> diante <strong>de</strong> cois<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong>, enquanto não se<br />

espantam tanto diante <strong>de</strong> cois<strong>as</strong> muito gran<strong>de</strong>s. Uma vez que os coríntios julgavam<br />

possuir tudo porque tinham o dom d<strong>as</strong> língu<strong>as</strong>, que na verda<strong>de</strong> é o último, diz o<br />

Apóstolo: “Não sejais como crianç<strong>as</strong>”, isto é, insensatos, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>veis ser sábios.<br />

Encontram-se meninos e simples on<strong>de</strong> há injustiça, vanglória, orgulho. Aquele que por<br />

causa do vício é criança, igualmente <strong>de</strong>ve ser pru<strong>de</strong>nte. A prudência unida à malignida<strong>de</strong><br />

não é prudência; da mesma forma a simplicida<strong>de</strong> com a loucura não seria simplicida<strong>de</strong>.<br />

De fato, na simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se fugir à loucura, e na prudência fugir da malda<strong>de</strong>. Assim<br />

como os medicamentos amargos e os doces não são úteis se forem tais em excesso, nem<br />

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