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propriamente por causa <strong>de</strong>le; pois tu também não permaneceste sem pecado, m<strong>as</strong>, se não<br />

cometeste aquele pecado, cometeste <strong>de</strong> fato um outro. Aliás, da punição não recebeste<br />

dano, m<strong>as</strong> lucr<strong>as</strong>te. Pois se <strong>de</strong>vesses ficar para sempre mortal, teri<strong>as</strong> talvez alguma razão<br />

em tu<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>; agora, porém, és imortal, e se quiseres, po<strong>de</strong>rás resplan<strong>de</strong>cer mais do<br />

que o sol. M<strong>as</strong> se eu não tivesse recebido um corpo mortal, replic<strong>as</strong>, não pecaria. Como?<br />

– dize-me. Então Adão, ao pecar, tinha um corpo mortal? De forma alguma; pois se<br />

fosse mortal, não teria sofrido <strong>de</strong>pois o c<strong>as</strong>tigo da morte. Daí se <strong>de</strong>duz claramente que o<br />

corpo mortal não constitui impedimento para a virtu<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> torna temperante e confere<br />

muitos bens. Se, pois, somente a expectativa da imortalida<strong>de</strong> exaltou tanto a Adão, a que<br />

arrogância não chegaria se <strong>de</strong> fato tivesse continuado imortal? E agora, na verda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois do pecado, po<strong>de</strong>s apagar os pecados, sendo o corpo humil<strong>de</strong>, vil e evanescente.<br />

Tais pensamentos po<strong>de</strong>m te tornar temperante; se, porém, pec<strong>as</strong>ses em condição imortal,<br />

talvez os pecados fossem mais permanentes. A causa do pecado não se encontra,<br />

portanto, na natureza mortal. Não a acuses. M<strong>as</strong> é o mau propósito da vonta<strong>de</strong> a raiz dos<br />

males. Por que, então, o corpo não prejudicou a Abel? Por que nada adiantou aos<br />

<strong>de</strong>mônios o fato <strong>de</strong> serem incorpóreos? Queres saber como o corpo que se tornou mortal<br />

não prejudica, m<strong>as</strong> até auxilia? Escuta quanto daí lucrarás, se fores vigilante. Af<strong>as</strong>tar-te-á<br />

e retrairá do vício por meio d<strong>as</strong> dores d<strong>as</strong> tristez<strong>as</strong>, dos labores e outr<strong>as</strong> cois<strong>as</strong><br />

semelhantes. M<strong>as</strong> também, replic<strong>as</strong>, atrai à fornicação. Não é o corpo, m<strong>as</strong> a<br />

incontinência; na verda<strong>de</strong>, tudo o que mencionei pertence, <strong>de</strong> fato, ao corpo. Por isso<br />

não é possível ao homem que vem à vida presente não ter doença, dor e tristeza; m<strong>as</strong><br />

po<strong>de</strong> não fornicar. Por conseguinte, se pertencesse à natureza do corpo o que é relativo<br />

ao vício, seria universal, pois generaliza-se o que é natural. Ora, fornicar não é tal. Sentir<br />

pesar provém da natureza, m<strong>as</strong> fornicar se origina do propósito da vonta<strong>de</strong>. Não acuses,<br />

portanto, o corpo, o diabo não te arrebate a honra que Deus te conce<strong>de</strong>u. Se quisermos,<br />

o corpo será ótima brida que impeça os movimentos impulsivos da alma, <strong>de</strong>rrube a<br />

arrogância, reprima o orgulho; e está a nosso serviço para <strong>as</strong> maiores obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>.<br />

Não me fales <strong>de</strong> alguns que estão fora <strong>de</strong> si; com efeito, frequentemente vemos cavalos<br />

que jogam para trás o cocheiro com <strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong> e se lançam em precipícios e, contudo,<br />

não culpamos <strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong>. Não são a causa da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, m<strong>as</strong> o cocheiro que não conteve<br />

e pôs tudo a per<strong>de</strong>r. Assim, consi<strong>de</strong>ra o seguinte: Se vires um jovem órfão a cometer<br />

inúmeros crimes, não acuses o corpo, m<strong>as</strong> o cocheiro que o arr<strong>as</strong>ta, a saber, a razão.<br />

Pois, como <strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong> não oc<strong>as</strong>ionam dificulda<strong>de</strong>s ao cocheiro, m<strong>as</strong> ele é a única causa <strong>de</strong><br />

tudo porque não segura direito <strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong>, e em consequência <strong>de</strong>ve sofrer a pena, porque<br />

<strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong> embaraçad<strong>as</strong> arr<strong>as</strong>tam-no e forçam-no a participar <strong>de</strong> seu infortúnio, <strong>as</strong>sim<br />

também acontece em nosso c<strong>as</strong>o. Eu, no entanto, dizem <strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong>, governava o cavalo<br />

pela boca, enquanto tu me segurav<strong>as</strong>; m<strong>as</strong> porque me solt<strong>as</strong>te, exijo que sej<strong>as</strong> c<strong>as</strong>tigado<br />

por teu <strong>de</strong>scuido, eu te enlaço e arr<strong>as</strong>to, a fim <strong>de</strong> não mais suce<strong>de</strong>r coisa semelhante.<br />

Ninguém, portanto, culpe <strong>as</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong>, m<strong>as</strong> a si mesmo e ao ânimo corrupto. Como em nós<br />

a razão faz o papel <strong>de</strong> cocheiro, o corpo <strong>de</strong> ré<strong>de</strong><strong>as</strong> que produzem a ligação entre os<br />

cavalos e o cocheiro, se el<strong>as</strong> estiverem em posição correta, nada <strong>de</strong> grave acontecerá; do<br />

contrário, se <strong>de</strong>scuid<strong>as</strong>, tudo dissip<strong>as</strong> e per<strong>de</strong>s. Sejamos, portanto, temperantes, e não<br />

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