26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

coação; os primeiros realizam tudo por livre-arbítrio e <strong>de</strong>cisão reta. E não somente nisso<br />

é melhor tal forma que aquela, m<strong>as</strong> ainda porque não é apen<strong>as</strong> domínio, m<strong>as</strong>, diria, é<br />

paternida<strong>de</strong>. É peculiar ao pai a mansidão e sabe convencer ao or<strong>de</strong>nar cois<strong>as</strong> mais<br />

difíceis. De fato, entre os pagãos, o príncipe diz: Se cometeres adultério, morrerás; m<strong>as</strong> a<br />

autorida<strong>de</strong> espiritual ameaça com gravíssim<strong>as</strong> pen<strong>as</strong> até os olhares impudicos. De fato, é<br />

tribunal austero; corrige o corpo, e conjuntamente a alma.<br />

Quanto difere, portanto, o corpo da alma, tanto este domínio dista daquele. Naquele,<br />

<strong>as</strong>senta-se o juiz para julgar crimes confessos, ou antes não todos, m<strong>as</strong> só os manifestos;<br />

aliás, muit<strong>as</strong> vezes acontece que traia dissimulando. Ao invés, nosso tribunal ensina aos<br />

que o abordam que o juiz há <strong>de</strong> revelar tudo e claramente no cenário do mundo inteiro e<br />

nada ficará oculto. Por conseguinte, a lei cristã controla bem mais a nossa vida do que a<br />

pagã. Visto que o temor por causa dos pecados ocultos acautela mais do que o medo<br />

<strong>de</strong>vido só aos pecados públicos, e quem reclama pen<strong>as</strong> até d<strong>as</strong> falt<strong>as</strong> leves, mais estimula<br />

à virtu<strong>de</strong> do que aquele que pune <strong>as</strong> graves, sem dúvida esta autorida<strong>de</strong> regula melhor a<br />

nossa vida. Se vos apraz, consi<strong>de</strong>remos <strong>de</strong> que modo são instituídos ambos os chefes; e<br />

verificarás que é gran<strong>de</strong> a diferença. Efetivamente, não é lícito <strong>as</strong>sumir este governo por<br />

dinheiro, e sim através <strong>de</strong> uma vida respeitável; e não se é promovido a esta forma <strong>de</strong><br />

governo para adquirir glória humana e repouso pessoal, m<strong>as</strong> para <strong>de</strong>dicar suor e labor em<br />

prol do bem <strong>de</strong> muitos. Daí também fruir <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> auxílio do alto, da parte do Espírito.<br />

O po<strong>de</strong>r não só <strong>de</strong>termina o que se <strong>de</strong>ve fazer, m<strong>as</strong>, em verda<strong>de</strong>, une-se-lhe também a<br />

colaboração d<strong>as</strong> preces e da graça. Ao invés, o po<strong>de</strong>r temporal não diz palavra sobre a<br />

sabedoria, nem há quem se <strong>as</strong>sente para ensinar o que é a alma, o mundo, o que advirá<br />

no futuro e para on<strong>de</strong> havemos <strong>de</strong> migrar, <strong>de</strong> que modo adquirir a virtu<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> muit<strong>as</strong><br />

palavr<strong>as</strong> se g<strong>as</strong>tam sobre pactos, contratos e dinheiro; daquel<strong>as</strong> realida<strong>de</strong>s não há<br />

absolutamente preocupação alguma. Ora, na Igreja verás que todos os discursos versam<br />

sobre esses <strong>as</strong>suntos. Por isso, po<strong>de</strong>s com justeza dar-lhe o nome que quiseres: tribunal,<br />

escola <strong>de</strong> medicina e filosofia, espiritual disputa literária e arena d<strong>as</strong> corrid<strong>as</strong> que<br />

conduzem ao céu. Já se evi<strong>de</strong>ncia que é o império mais suave, apesar <strong>de</strong> mais exigente.<br />

Pois, se o imperador dos gentios apreen<strong>de</strong>r um adúltero, logo o c<strong>as</strong>tiga. E qual o bem daí<br />

resultante? Não se cuida <strong>de</strong> apartar o vício, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> expulsar o viciado. Ao invés, o<br />

governo espiritual não se apressa a aplicar o suplício, m<strong>as</strong> quer eliminar a paixão. Tu, no<br />

c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> uma dor <strong>de</strong> cabeça não ages atacando o mal, e sim cortando a cabeça; eu,<br />

contudo, procedo diversamente, procurando amputar a doença. E <strong>de</strong> novo acolho quem<br />

foi expulso dos recintos dos sagrados mistérios, após ter ressuscitado, ter se libertado do<br />

pecado e melhorado pelo arrependimento. E como po<strong>de</strong> o réu purificar-se do adultério?<br />

É possível, digo, e até fácil, pela submissão às leis. A Igreja é um balneário espiritual que<br />

limpa não a mácula corporal, m<strong>as</strong> <strong>as</strong> manch<strong>as</strong> da alma por vári<strong>as</strong> espécies <strong>de</strong> penitência.<br />

Com efeito, se <strong>de</strong>mitires impune o pecador, tu o farás pior, e, se o c<strong>as</strong>tigares, continua<br />

incurável, enquanto eu não o <strong>de</strong>ixo a salvo, nem o açoito como tu; m<strong>as</strong> simultaneamente<br />

exijo a pena conveniente e o corrijo. Queres saber doutro modo como tu, empunhando a<br />

espada, e mostrando o fogo aos pecadores, não lhe aplic<strong>as</strong> remédio eficaz, ao p<strong>as</strong>so que<br />

eu, sem medicamento lhes <strong>de</strong><strong>vol</strong>vo a saú<strong>de</strong> íntegra? E não preciso falar e discursar, m<strong>as</strong><br />

462

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!