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geena, o que será <strong>de</strong> nós? Aqueles vínculos não são <strong>de</strong> ferro, m<strong>as</strong> aquecidos em fogo<br />

inextinguível; os chefes não se <strong>as</strong>semelham aos nossos, que po<strong>de</strong>mos muit<strong>as</strong> vezes<br />

aplacar, m<strong>as</strong> são anjos que nem po<strong>de</strong>mos fitar, terrivelmente irados por causa d<strong>as</strong><br />

ofens<strong>as</strong> que infligimos ao Senhor. Nem, como na terra, encontramos quem nos traga<br />

dinheiro, ou alimentos, ou palavr<strong>as</strong> <strong>de</strong> conforto, e certo consolo. De fato, ali não há<br />

indulgência. Nem mesmo Noé, Jó, Daniel (Ez 14,15), se ali virem os parentes torturados,<br />

ousam prestar auxílio. Ali se extingue toda comiseração natural. Acontece haver pais<br />

justos <strong>de</strong> filhos malvados, ou ao contrário, pais malvados <strong>de</strong> filhos justos. Todavia, a<br />

alegria é pura e isenta <strong>de</strong> toda compaixão nos que gozam daqueles bens, e diria, a<br />

compaixão se extingue neles e com o Senhor inflamam-se <strong>de</strong> cólera, apesar d<strong>as</strong> entranh<strong>as</strong><br />

patern<strong>as</strong>. Pois, se até os homens vulgares <strong>de</strong> filhos malvados, rejeitam-nos e expulsamnos<br />

da família, muito mais então os justos. Por isso, ninguém espere obter bens, se nada<br />

<strong>de</strong> bom tiver feito, apesar <strong>de</strong> serem justos inúmeros dos seus ancestrais. “A fim <strong>de</strong> que<br />

cada um receba a retribuição do que tiver feito no corpo.” Aqui, parece-me que o<br />

Apóstolo tem em mente os fornicadores e amedronta-os com os suplícios futuros; não a<br />

eles apen<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> aos culpados <strong>de</strong> outro crime qualquer. Ouçamos também nós! Se sentes<br />

o fogo da concupiscência, contrapõe-lhe aquele fogo e logo se extingue e <strong>de</strong>svanece. Se<br />

queres falar palavr<strong>as</strong> inconvenientes, pensa no ranger <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes e o medo te servirá <strong>de</strong><br />

freio. Se queres roubar, escuta o Juiz or<strong>de</strong>nar: “Amarrai-lhe os pés e <strong>as</strong> mãos e lançai-o<br />

fora, n<strong>as</strong> trev<strong>as</strong> exteriores” (Mt 22,13), e <strong>de</strong>ste modo expuls<strong>as</strong> essa cupi<strong>de</strong>z. Se és dado<br />

ao vinho, e ce<strong>de</strong>s à gula, escuta aquele rico dizer: “Manda que Lázaro molhe a ponta do<br />

<strong>de</strong>do para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama” (Lc 16,24), m<strong>as</strong> nada<br />

conseguiu, e <strong>de</strong>sistirás do vício. Se estás aprisionado ao amor d<strong>as</strong> <strong>de</strong>líci<strong>as</strong>, pensa naquela<br />

aflição e angústia, e <strong>de</strong> nada mais cogitarás. Se és malvado e cruel, relembra-te daquel<strong>as</strong><br />

virgens que, por se terem extinguido <strong>as</strong> lâmpad<strong>as</strong>, não foram admitid<strong>as</strong> à sala d<strong>as</strong><br />

núpci<strong>as</strong>, e logo terás sentimentos humanitários. M<strong>as</strong>, estás entorpecido <strong>de</strong> preguiça e<br />

langor? Pensa naquele que escon<strong>de</strong>u o talento, e a aplicação vencerá o próprio fogo.<br />

M<strong>as</strong>, talvez a cobiça do alheio te corroa? Tem em mente aquele verme que não morre e<br />

facilmente combaterás esta moléstia, e cumprirás todos os outros preceitos <strong>de</strong> Deus, pois<br />

ele nada preceituou <strong>de</strong> duro e grave. De on<strong>de</strong> vem que os mandamentos nos pareçam<br />

pesados? De nossa inércia. Se tivermos zelo, mesmo o que é aparentemente intolerável<br />

tornar-se-á fácil e leve. Pela preguiça, mesmo o que é tolerável há <strong>de</strong> nos parecer difícil.<br />

Pon<strong>de</strong>rando tudo isso, não olhemos para os que se entregam às <strong>de</strong>líci<strong>as</strong>, e sim qual o fim<br />

que os espera. Aqui, esterco e obesida<strong>de</strong>, lá verme e fogo. Não pensemos nos ladrões,<br />

m<strong>as</strong> no fim que terão. Aqui preocupações, temores, angústi<strong>as</strong>, lá vínculos indissolúveis.<br />

Não consi<strong>de</strong>remos os que ambicionam a glória, m<strong>as</strong> o que <strong>de</strong>la se origina, isto é, servidão<br />

e simulação aqui, lá dano intolerável e perpétua combustão. Se refletirmos em tudo isso,<br />

extinguiremos esses maus <strong>de</strong>sejos e outros semelhantes, logo expeliremos o amor d<strong>as</strong><br />

cois<strong>as</strong> presentes, e nos inflamaremos no amor d<strong>as</strong> futur<strong>as</strong>. De fato, se a meditação<br />

<strong>de</strong>ss<strong>as</strong> realida<strong>de</strong>s, apesar <strong>de</strong> obscura, nos causa tanto prazer, pensa, por favor, quanto<br />

<strong>de</strong>leite a manifesta fruição nos trará. Felizes, três vezes felizes e até mais, aqueles que<br />

<strong>de</strong>sfrutam <strong>de</strong>stes bens, como, ao invés, miseráveis e três vezes infelizes os que, ao<br />

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