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alguma. Por isso, o diabo, em sua malignida<strong>de</strong>, lançara principalmente este ludíbrio,<br />

querendo que eles prejudic<strong>as</strong>sem os outros. A meu ver, provém igualmente da hipocrisia.<br />

Por isso não disse: Agiram bem. M<strong>as</strong>, o que disse? “Para se gloriarem”. Nesses termos<br />

atacava a arrogância fraudulenta, pois se gabavam do que não eram. Aliás, ao homem<br />

honesto não convém gloriar-se não só do que lhe falta, m<strong>as</strong> nem mesmo do que possui,<br />

segundo fazia o bem-aventurado Apóstolo, e dizia o patriarca Abraão: “Sou poeira e<br />

cinza” (Gn 18,<strong>27</strong>). Uma vez que não tinha pecado a mencionar, m<strong>as</strong> brilhava em<br />

virtu<strong>de</strong>s, e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> examinar-se, não tendo encontrado falta grave a repreen<strong>de</strong>r,<br />

recorreu à natureza; e como o nome <strong>de</strong> terra é <strong>de</strong> certo modo honroso, acrescentou o <strong>de</strong><br />

cinza. Daí também dizer um outro: “De que se orgulha quem é terra e cinza?” (Eclo<br />

10,9). Não menciona o <strong>as</strong>pecto viçoso, nem a cerviz ereta, nem a veste <strong>de</strong> gala, o cavalo<br />

e os satélites, m<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>ra on<strong>de</strong> termina tudo isso e o acrescenta. Se alu<strong>de</strong>s às<br />

realida<strong>de</strong>s visíveis, hei <strong>de</strong> citar os quadros pintados, mais esplendorosos do que el<strong>as</strong>. Ora,<br />

não os admiramos pelo <strong>as</strong>pecto, porque consi<strong>de</strong>ramos que relativamente à substância<br />

nada mais são do que lodo; <strong>as</strong>sim também nesse c<strong>as</strong>o. Com efeito, el<strong>as</strong> são lodo; ou<br />

melhor, até antes que se <strong>de</strong>sfaçam e se tornem pó. Mostra-me um homem orgulhoso<br />

com febre, que dá o último suspiro; e então te falarei e perguntarei como terminou todo<br />

aquele ornato, para on<strong>de</strong> foram a imensa adulação e o obséquio dos escravos, a<br />

abundância d<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> e <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s, e que vento soprou carregando tudo. Ora,<br />

respon<strong>de</strong>s, no leito cercam-no <strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> e sinais <strong>de</strong> luxo, tem uma veste brilhante,<br />

pobres e ricos acompanham o enterro, e o povo formula votos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Est<strong>as</strong> cois<strong>as</strong><br />

são especialmente ridícul<strong>as</strong>, e seja como for, à semelhança d<strong>as</strong> flores, logo fenecem.<br />

Quando sairmos d<strong>as</strong> port<strong>as</strong> da cida<strong>de</strong>, e entregarmos o cadáver aos vermes, perguntar-teei<br />

novamente para on<strong>de</strong> vai aquela turba imensa, on<strong>de</strong> se extinguiu aquele tumulto, on<strong>de</strong><br />

<strong>as</strong> lâmpad<strong>as</strong>, on<strong>de</strong> o coro d<strong>as</strong> mulheres? Não são um sonho? Para on<strong>de</strong> se retiraram os<br />

clamores? On<strong>de</strong> <strong>as</strong> inúmer<strong>as</strong> boc<strong>as</strong> a gritarem e exortarem à confiança, porque não há<br />

morte? Não é agora que se <strong>de</strong>ve dizer tais cois<strong>as</strong> a quem não ouve, e sim quando<br />

roubava e ambicionava o alheio, alterando um pouco <strong>as</strong> expressões: Não se <strong>de</strong>ve confiar,<br />

ninguém é imortal; reprime a loucura, extingue a ambição, não confies no que aflige.<br />

Dizer-lhe tais cois<strong>as</strong> agora é próprio <strong>de</strong> quem poupa e zomba; nem por isso <strong>de</strong>ve confiar,<br />

m<strong>as</strong> temer e tremer. Na verda<strong>de</strong>, se a este, que já saiu do estádio, são inúteis, ouçam os<br />

ricos que pa<strong>de</strong>cem da mesma doença e acompanham o corpo. Quando anteriormente por<br />

causa da embriaguez d<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> nada disso pensavam, certamente na oc<strong>as</strong>ião em que a<br />

visão do morto dá crédito às palavr<strong>as</strong>, emen<strong>de</strong>m-se e aprendam, refletindo que mais um<br />

pouco e eles terão quem os transfira para estes horríveis lugares, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>verão prestar<br />

cont<strong>as</strong>, sofrer <strong>as</strong> pen<strong>as</strong> por aquilo que roubaram e usurparam. E o que interessa isto aos<br />

pobres? pergunt<strong>as</strong>. Na verda<strong>de</strong>, a muitos causa prazer ver os tormentos dos que lhes<br />

fizeram injustiça. Ao contrário, respon<strong>de</strong>s, para nós não é agradável, e sim que não<br />

soframos. Eu vos louvo e abraço fortemente, porque não vos regozijais com a<br />

infelicida<strong>de</strong> alheia, m<strong>as</strong> procurais a própria segurança. Vamos, pois. Também eu o<br />

aprovo. Com efeito, ao sofrermos da parte dos homens, solvemos uma parte não<br />

pequena do débito, se suportamos com ânimo generoso o que nos advém. Daí provém<br />

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