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Com efeito, a fim <strong>de</strong> que os ânimos dos discípulos não fic<strong>as</strong>sem consternados se<br />

exager<strong>as</strong>se muito su<strong>as</strong> tribulações, mostra novamente que o consolo era também copioso;<br />

<strong>de</strong>sta sorte reconforta-os. Não somente <strong>as</strong>sim, m<strong>as</strong> ainda com a menção <strong>de</strong> Cristo e a<br />

<strong>as</strong>serção <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>le os sofrimentos. E antes <strong>de</strong>ssa consolação, haure conforto d<strong>as</strong><br />

própri<strong>as</strong> aflições. O que mais suave do que participar dos sofrimentos <strong>de</strong> Cristo, e por ele<br />

tudo pa<strong>de</strong>cer? Qual o conforto igual a este? Não só por essa, m<strong>as</strong> também por outr<strong>as</strong><br />

p<strong>as</strong>sagens reanima os atribulados. On<strong>de</strong> estão? Assegura: “São copiosos”. Não disse:<br />

como a paixão <strong>de</strong> Cristo nos atinge, e sim: “Assim como são copiosos”. Com tais<br />

expressões manifesta que suportamos não só os mesmos tormentos <strong>de</strong>le, m<strong>as</strong> muitos<br />

mais. Pois não somente, diz ele, suportamos o que ele pa<strong>de</strong>ceu, m<strong>as</strong> até mais. Reflete.<br />

Cristo foi injuriado, perseguido, flagelado, morto. Ora, diz o Apóstolo, nós sofremos<br />

ainda mais. E na verda<strong>de</strong> é o único consolo. M<strong>as</strong> ninguém ouse con<strong>de</strong>nar essa palavra,<br />

pois em outra parte diz: “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos, e completo, na<br />

minha carne, o que falta d<strong>as</strong> tribulações <strong>de</strong> Cristo” (Cl 1,24). Ora, nenhuma d<strong>as</strong> du<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong>serções provém <strong>de</strong> temerida<strong>de</strong> e arrogância. Apesar <strong>de</strong> terem os apóstolos operado<br />

maiores milagres do que Cristo (segundo ele próprio afirma: “Quem crê em mim, fará <strong>as</strong><br />

obr<strong>as</strong> que faço e fará até maiores que el<strong>as</strong>” [Jo 14,12]), tudo lhe é atribuído, porque<br />

neles atuava. De igual modo eles sofreram muito mais, entretanto mais uma vez tudo há<br />

<strong>de</strong> ser atribuído àquele que os confortava e lhes proporcionava ânimo forte para<br />

aguentarem males terríveis.<br />

Vê que, ao reconhecer Paulo que falara um tanto exaltado, mais uma vez mitiga <strong>as</strong><br />

expressões: “Assim também por Cristo é copiosa a nossa consolação”. Atribui-lhe tudo,<br />

e enaltece-lhe, portanto, a benignida<strong>de</strong>. Pois, diz ele, não recebemos conforto à medida<br />

da aflição, m<strong>as</strong> bem mais. Nem <strong>as</strong>severou: O conforto iguala a tribulação, m<strong>as</strong>: “É<br />

copiosa a nossa consolação”, <strong>de</strong> tal forma que um é o tempo d<strong>as</strong> lut<strong>as</strong> e outro o d<strong>as</strong><br />

coro<strong>as</strong>. O que há <strong>de</strong> maior, dize-me, do que ser torturado por causa <strong>de</strong> Cristo, dialogar<br />

com Deus, ser mais forte que todos, vencer os perseguidores, não se submeter perante a<br />

terra inteira, e esperar por isso bens que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem<br />

subiu ao coração do homem? O que se iguala a ser oprimido por causa da pieda<strong>de</strong>,<br />

usufruir <strong>de</strong> inúmer<strong>as</strong> consolações da parte <strong>de</strong> Deus, ser libertado <strong>de</strong> tantos e tão gran<strong>de</strong>s<br />

pecados, receber do Espírito Santo a santida<strong>de</strong> e a justiça, <strong>de</strong> ninguém ter medo nem<br />

pavor e nos próprios perigos mostrar-se mais brilhante? Por conseguinte, n<strong>as</strong> provações<br />

não fiquemos <strong>de</strong>sencorajados. Ninguém dado aos prazeres, sonolento, indolente tem<br />

parte com Cristo, nenhum <strong>de</strong> vida dissoluta e licenciosa; ao invés, <strong>de</strong>le se acerca quem<br />

vive na aflição e n<strong>as</strong> prov<strong>as</strong>, e segue o caminho estreito. Efetivamente, também ele<br />

seguiu esse caminho e por isso dizia: “O Filho do Homem não tem on<strong>de</strong> reclinar a<br />

cabeça” (Mt 8,20).<br />

Em consequência, não te entristeç<strong>as</strong> quando estiveres atribulado, percebendo a quem<br />

te <strong>as</strong>soci<strong>as</strong>, e <strong>de</strong> que modo pel<strong>as</strong> provações te purific<strong>as</strong> e quanto lucr<strong>as</strong>. Nada, <strong>de</strong> fato, é<br />

tão grave quanto ofen<strong>de</strong>r a Deus. Excluída essa ofensa, não existe aflição, nem insídi<strong>as</strong>,<br />

nada que possa incomodar a alma pru<strong>de</strong>nte. Ou antes, <strong>as</strong>sim como uma pequena<br />

centelha jogada no fundo do mar logo se extingue, <strong>as</strong>sim qualquer tristeza, por maior que<br />

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