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afligido, alegrava-se e exultava; os homens <strong>de</strong> hoje, porém, que nem em sonho suportam<br />

algo, ficam pesarosos e tristes, sem outro motivo senão porque não têm sabedoria. Aliás,<br />

gostaria que me expusesses por que te lament<strong>as</strong>? Ac<strong>as</strong>o por seres pobre, e carente do<br />

necessário? Por conseguinte, não <strong>de</strong>ves queixar-te <strong>de</strong> teu pranto, nem <strong>de</strong> tu<strong>as</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s, m<strong>as</strong> l<strong>as</strong>timar-te <strong>de</strong> tua pusilanimida<strong>de</strong>. Não por careceres <strong>de</strong> dinheiro, m<strong>as</strong><br />

por atribuir-lhe tanto valor. Paulo, em cotidiano perigo <strong>de</strong> vida, não se lamentava; ao<br />

contrário, alegrava-se. Pelejava com fome contínua e não ficava pesaroso; ao invés,<br />

gloriava-se.<br />

Tu, entretanto, sentes angústia e aflição por não teres guardado o lucro do ano todo?<br />

Sim, replic<strong>as</strong>, o Apóstolo preocupava-se somente consigo; eu, porém, sou responsável<br />

pelos servos, os filhos, a mulher. Não; ele não tinha preocupação só consigo, e sim com<br />

o mundo inteiro. Tu cuid<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma só família; ele, dos pobres <strong>de</strong> Jerusalém, dos<br />

macedônios, dos indigentes <strong>de</strong> toda parte, e não menos dos doadores quanto dos<br />

beneficiados. Era duplo o cuidado pelos habitantes do orbe: que não lhes falt<strong>as</strong>se a<br />

necessária subsistência, e que fossem enriquecidos <strong>de</strong> bens espirituais. A ti não causa<br />

tanto pesar ver os filhos com fome quanto lhe oc<strong>as</strong>ionavam os problem<strong>as</strong> dos fiéis. E por<br />

que falo dos fiéis? Pois nem lhe faltavam preocupações relativ<strong>as</strong> aos infiéis, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> tal<br />

sorte ficava pesaroso que optara tornar-se um anátema em favor <strong>de</strong>les; tu, porém, nem<br />

no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> mil vezes sobrevir a fome, <strong>de</strong>sejari<strong>as</strong> morrer por algum <strong>de</strong>les. E tu tens<br />

solicitu<strong>de</strong> por uma única esposa; ele, porém, pel<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong> do mundo todo: “A solicitu<strong>de</strong><br />

que tenho por tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong>” (2Cor 12,11). Até quando, ó homem, compar<strong>as</strong>-te<br />

jocosamente com Paulo? Não <strong>de</strong>sistes <strong>de</strong> tamanha fraqueza? Não <strong>de</strong>vemos chorar ao<br />

cairmos na pobreza, m<strong>as</strong> ao pecarmos. Eis o que merece lágrim<strong>as</strong>; o restante é digno <strong>de</strong><br />

riso. Entretanto, não é isso que me causa tristeza, replic<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> que um outro está <strong>de</strong><br />

posse do po<strong>de</strong>r, e eu privado <strong>de</strong> honr<strong>as</strong> e prostrado. E o que importa? O próprio São<br />

Paulo a muitos parecia vulgar e humil<strong>de</strong>. M<strong>as</strong> ele era Paulo, retruc<strong>as</strong>. Por conseguinte,<br />

não é a natureza d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> a fraqueza <strong>de</strong> espírito que te causa tristeza. Não chores,<br />

portanto, a pobreza, m<strong>as</strong> a ti mesmo que possuis tais sentimentos. Ou melhor, nem a ti<br />

mesmo, m<strong>as</strong> corrige-te, não ambiciones riquez<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> busca o que gera maior alegria do<br />

que infinit<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong>, a saber, a sabedoria e a virtu<strong>de</strong>. Se <strong>as</strong> possuis, em nada te<br />

prejudica a pobreza; se faltarem, <strong>de</strong> nada adiantam <strong>as</strong> riquez<strong>as</strong>. Dize-me. Quais <strong>as</strong><br />

vantagens dos que possuem superabundantes riquez<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> com pobreza <strong>de</strong> espírito.<br />

Não te julgues tão miserável quanto aquele rico que se consi<strong>de</strong>ra tal, por não se ter<br />

apossado dos bens <strong>de</strong> todos. Se ele não se lamenta como tu, examina-lhe a consciência e<br />

encontrarás lamentações e soluços.<br />

Queres que te mostre tu<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong>, para <strong>de</strong>ixares <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar felizes os ricos? Vês<br />

como o céu é belo, imenso, e se esten<strong>de</strong> n<strong>as</strong> altur<strong>as</strong>? O rico não goza <strong>de</strong>ssa beleza mais<br />

do que tu, não po<strong>de</strong> te excluir nem apropriar-se <strong>de</strong>la. O céu foi criado por causa <strong>de</strong>le e<br />

também por ti. E o sol, <strong>as</strong>tro esplêndido e brilhante, que <strong>de</strong>leita os nossos olhos? Não é<br />

comum a todos, manifesta-se <strong>de</strong> modo geral e todos igualmente, ricos e pobres, <strong>de</strong>le<br />

usufruem? E a coroa d<strong>as</strong> estrel<strong>as</strong>, o globo da lua? Não são igualmente <strong>de</strong> todos? Ou<br />

melhor, causa espanto afirmá-lo, nós, os pobres, mais largamente <strong>de</strong>les usufruímos do<br />

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