26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O que significa então: “Agora sei”? A versão siríaca traz <strong>as</strong>sim: “Agora o torn<strong>as</strong>te<br />

conhecido”, subenten<strong>de</strong>-se, aos homens. Eu, porém, há muito, e antes <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

minh<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns já o sabia. Por que agora <strong>de</strong>clarar ainda aos homens? Não b<strong>as</strong>tavam os<br />

atos para manifestar o amor que <strong>de</strong>dicava a Deus? Certamente b<strong>as</strong>tava; no entanto, a<br />

última ação superava tanto tudo aquilo que, em comparação, o restante parecia um nada.<br />

Por conseguinte, a fim <strong>de</strong> enaltecer o acontecimento e <strong>de</strong>clará-lo mais importante que os<br />

<strong>de</strong>mais, utilizou ess<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>. Efetivamente, é costume entre muitos homens que se fale<br />

<strong>de</strong>ssa maneira acerca <strong>de</strong> quem supera e vence ações excelentes; por exemplo, quando<br />

alguém recebe <strong>de</strong> outrem um dom maior que os anteriores, muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong>sim se<br />

expressa: Agora sei que ele me ama. Não <strong>as</strong>severa que anteriormente o ignor<strong>as</strong>se, m<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong>sse modo quer manifestar que a dádiva atual é maior que <strong>as</strong> restantes. Assim Deus<br />

também, exprimindo-se <strong>de</strong> forma humana, diz: “Agora sei”, querendo expressar com tais<br />

palavr<strong>as</strong> nada mais do que a gran<strong>de</strong>za da luta, e não por que só então conhecesse o<br />

temor ou a intensida<strong>de</strong> do medo. Pois também, ao dizer: “Vin<strong>de</strong>! Desçamos!” (Gn 11,7)<br />

e vejamos, não emprega esse modo <strong>de</strong> falar porque precisava <strong>de</strong>scer; <strong>de</strong> fato, ele enche<br />

o universo e tudo conhece claramente, m<strong>as</strong> está nos ensinando a não nos pronunciarmos<br />

temerariamente a respeito <strong>de</strong> coisa alguma. Além disso, quando diz a Escritura: “Do céu<br />

Deus se inclina para ver” (Sl 14,2), segundo uma metáfora humana, refere-se a um<br />

conhecimento exato. Do mesmo modo aqui também enuncia: “Agora sei”, <strong>de</strong> sorte a<br />

<strong>de</strong>monstrar que conhece <strong>de</strong> forma mais excelente que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> anteriores. Comprova-se<br />

que é <strong>as</strong>sim pelo acréscimo: “Tu não me recus<strong>as</strong>te teu filho único”, não disse apen<strong>as</strong>:<br />

Teu filho, e sim: “Teu filho único”. Não era oposto somente à natureza, m<strong>as</strong> também ao<br />

afeto, à bene<strong>vol</strong>ência. Mostrou-se intrépido tanto pela própria atitu<strong>de</strong> quanto pela gran<strong>de</strong><br />

virtu<strong>de</strong> do menino. Os pais nem aos maus filhos <strong>de</strong>sprezam facilmente, até os l<strong>as</strong>timam;<br />

m<strong>as</strong> se o filho é nobre, unigênito, dileto, e um Isaac, e que havia <strong>de</strong> ser imolado pelo<br />

próprio pai, quem conseguiria <strong>de</strong>screver esse ápice <strong>de</strong> sabedoria? Na verda<strong>de</strong>, é um<br />

certame mais brilhante do que mil dia<strong>de</strong>m<strong>as</strong> e incontáveis coro<strong>as</strong>. Muit<strong>as</strong> vezes aquele<br />

que está cingido com uma coroa terrena é ameaçado pela morte que sobrevém e<br />

frequentemente até mesmo antes da morte, por mil insídi<strong>as</strong>; a este, porém, ninguém,<br />

nem <strong>de</strong>ntre os seus, nem dos estranhos po<strong>de</strong>rá arrebatar o dia<strong>de</strong>ma. Ora, quero que<br />

contemples a pedra mais preciosa <strong>de</strong>sse dia<strong>de</strong>ma. Uma palavra lhe dá acabamento, qual<br />

pedra preciosa. Qual é? “Por minha causa”? Não é digno <strong>de</strong> admiração o fato <strong>de</strong> não ter<br />

poupado, e sim <strong>de</strong> não ter poupado por causa <strong>de</strong> Deus. Ó mão direita feliz, <strong>de</strong> que gládio<br />

foste digna? Ó gládio admirável, diria, que direita mereceste! Ó gládio admirável, diria,<br />

que função exerceu, para que ministério estav<strong>as</strong> preparado! Para formar que figura típica<br />

serviu! Como combateste, e não feriste! Esse mistério era <strong>de</strong> tal forma tremendo que não<br />

encontro palavr<strong>as</strong> para empregar. Não tocou a pele do menino, não atravessou a garganta<br />

do santo, não ficou rubro com o sangue do justo. Ou melhor, tocou, atravessou, ficou<br />

rubro <strong>de</strong> sangue, mergulhou e não imergiu. Talvez vos pareça um erro utilizar tais<br />

paradoxos. E certamente fico perplexo, ao refletir sobre a maravilha que era aquele justo,<br />

e não estou me contradizendo. De fato, a mão do justo se apoiou na garganta do menino;<br />

m<strong>as</strong> a mão <strong>de</strong> Deus, apesar <strong>de</strong> já estar à <strong>de</strong>le apoiada, não permitiu que se contamin<strong>as</strong>se<br />

387

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!