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po<strong>de</strong>riam ajudar-nos. Não é pesado necessitar do auxílio do próximo, e sim roubar o<br />

alheio. Aliás, nunca rezamos, nem dizemos nesta intenção: Não me <strong>de</strong>ixes cobiçar os<br />

bens alheios. Parece horrorosa a opressão da miséria. Entretanto, Paulo muit<strong>as</strong> vezes<br />

p<strong>as</strong>sou necessida<strong>de</strong> e não o tinha por opróbrio e sim por adorno, e louvava os que lhe<br />

ministraram auxílio dizendo: “Mais uma vez me envi<strong>as</strong>tes com que suprir <strong>as</strong> minh<strong>as</strong><br />

necessida<strong>de</strong>s” (Fl 4,16); e ainda: “Despojei outr<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong>, <strong>de</strong>l<strong>as</strong> recebendo salário a<br />

fim <strong>de</strong> vos servir” (2Cor 11,8). Envergonhar-se por este motivo não é próprio <strong>de</strong> um<br />

ânimo livre, e sim displicente, <strong>de</strong>generado e estulto. De fato, a Deus apraz que<br />

precisemos uns dos outros. No entanto, não te apliques a filosofar além da medida. Ora,<br />

retruc<strong>as</strong>, não posso suportar a alguém que, frequentemente rogado, não aten<strong>de</strong>. E como<br />

te suportará Deus, que muit<strong>as</strong> vezes te exorta e pe<strong>de</strong> o que é <strong>de</strong> teu interesse, m<strong>as</strong> não te<br />

dobr<strong>as</strong>? “Sendo <strong>as</strong>sim, em nome <strong>de</strong> Cristo exercemos a função <strong>de</strong> embaixadores e por<br />

nosso intermédio é Deus mesmo que vos exorta: reconciliai-vos com Deus” (2Cor<br />

5,20). Entretanto, sou servo <strong>de</strong> Deus, respon<strong>de</strong>s. E então? Tu, que és servo, te<br />

embriag<strong>as</strong>; ele, porém, que é senhor, p<strong>as</strong>sa fome, e não tem nem mesmo o alimento<br />

necessário. Que <strong>de</strong>fesa te oferecerá o nome <strong>de</strong> servo? Ao contrário, há <strong>de</strong> te onerar<br />

mais, visto habitares uma c<strong>as</strong>a <strong>de</strong> três andares, enquanto ele não possui nem um bom<br />

teto; tu <strong>de</strong>scans<strong>as</strong> em leitos macios e ele não tem um travesseiro. M<strong>as</strong>, eu <strong>de</strong>i, respon<strong>de</strong>s.<br />

Não <strong>de</strong>vi<strong>as</strong> cessar <strong>de</strong> distribuir. De fato, terás <strong>de</strong>sculpa quando não tiveres o que dar,<br />

nada possuíres; enquanto, porém, tiveres, mesmo se <strong>de</strong>res inúmer<strong>as</strong> vezes, m<strong>as</strong> houver<br />

outros famintos, não te restará escusa. Com efeito, se reténs o trigo, e aument<strong>as</strong> o preço,<br />

en<strong>vol</strong>vido em extraordinári<strong>as</strong> negociações, que esperança <strong>de</strong> salvação ainda terás?<br />

Recebeste or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> dar gratuitamente ao faminto e nem pelo preço justo ce<strong>de</strong>s. O<br />

Senhor se <strong>de</strong>spojou <strong>de</strong> tamanha glória por tua causa e não o julg<strong>as</strong>te digno <strong>de</strong> um pão!<br />

És pródigo para teu cão, enquanto Cristo morre <strong>de</strong> fome. Teu servo se farta <strong>de</strong><br />

alimentos, o Senhor teu e <strong>de</strong>le carece do necessário. Tal modo <strong>de</strong> agir é <strong>de</strong> amigos?<br />

Reconciliai-vos com Deus. São ações <strong>de</strong> adversários e inimigos ativos. Por isso,<br />

envergonhemo-nos diante <strong>de</strong> tantos benefícios que recebemos e haveremos <strong>de</strong> receber. E<br />

se nos abordar um pobre indigente, recebamo-lo com a maior bene<strong>vol</strong>ência, e com bo<strong>as</strong><br />

palavr<strong>as</strong> o consolemos, a fim <strong>de</strong> conseguirmos o mesmo tanto da parte <strong>de</strong> Deus como da<br />

parte dos homens.<br />

“Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”<br />

(Mt 7,12). Essa lei nada tem <strong>de</strong> pesado e <strong>de</strong> aflitivo. O que quereis que vos seja feito,<br />

fazei-o vós. É justo. O Apóstolo não disse: O que não quereis que vos seja feito, também<br />

vós não o façais, e sim algo mais exigente. No primeiro c<strong>as</strong>o, apen<strong>as</strong> há abstenção do<br />

mal; no preceito, a prática do bem e abrange o primeiro c<strong>as</strong>o. E não disse: Desejai-lhes,<br />

m<strong>as</strong>: “Fazei-o vós a eles”. Qual o lucro daí <strong>de</strong>corrente? “Porque isso é a Lei e os<br />

Profet<strong>as</strong>”. Queres obter misericórdia? Compa<strong>de</strong>ce-te. Queres encontrar indulgência?<br />

Deves praticá-la. Não queres sofrer <strong>de</strong>tração? Não fales mal. Busc<strong>as</strong> louvores? Louva.<br />

Não queres ser extorquido? Não furtes. Not<strong>as</strong> a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> que o bem é natural, e nós<br />

não precisamos d<strong>as</strong> leis e magistrados dos gentios? A respeito do que queremos<br />

experimentar ou não da parte do próximo, imponhamos uma norma a nós próprios. Por<br />

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