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Seria extrema injúria, não da parte <strong>de</strong> quem apanha, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> quem bate. Se talvez, ó<br />

mulher, teu cônjuge for tal, não te irrites, m<strong>as</strong> pensa na recompensa que te está reservada<br />

e no louvor que mereces na vida presente. A vós, maridos, digo o seguinte: Não há<br />

pecado que te obrigue a bater na mulher. E por que falo da mulher? Um homem nobre<br />

não bate numa escrava, nem é tolerável meter-lhe a mão. Se bater na escrava é gran<strong>de</strong><br />

opróbrio para o homem, muito mais levantar a mão contra uma mulher livre. E isso se<br />

encontra até entre os legisladores pagãos que não obrigam a mulher que sofreu tais<br />

injúri<strong>as</strong> a habitar com quem a feriu, porque é indigno <strong>de</strong> seu consórcio. De fato, é suma<br />

malda<strong>de</strong>, causar ignomínia à consorte <strong>de</strong> vida, que há muito te atendia no necessário,<br />

como se fosse uma escrava. Não atribuirei a tal homem, se é lícito dar-lhe o nome <strong>de</strong><br />

homem, a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> fera, m<strong>as</strong> <strong>as</strong>similá-lo-ei ao parricida e matricida. Pois se por<br />

amor à mulher recebemos a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar pai e mãe, sem por isso menosprezá-los, e<br />

sim no intuito <strong>de</strong> cumprir a lei divina, e isto é tão <strong>de</strong>sejável pelos pais que eles, apesar <strong>de</strong><br />

abandonados, aceitam-no e fazem-no com gran<strong>de</strong> zelo. Como não seria extrema<br />

<strong>de</strong>mência, injuriar aquela por cuja causa Deus or<strong>de</strong>na abandonar os pais? Seria apen<strong>as</strong><br />

loucura? Quem suporta tal opróbrio? – dize-me. Que palavr<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>screver a cena,<br />

quando gritos e gemidos se espalham pel<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>, e há corrida pela c<strong>as</strong>a daquele que se<br />

comporta com tal falta <strong>de</strong> <strong>de</strong>coro, e dos vizinhos e transeuntes, como se uma fera<br />

dilacer<strong>as</strong>se os <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro? Seria mais <strong>de</strong>sejável que a terra engolisse aquele que age tão<br />

furiosamente do que ele aparecer <strong>de</strong>pois na praça. M<strong>as</strong> a mulher é audaciosa, respon<strong>de</strong>rá<br />

ele. Entretanto, pensa que ela é mulher, v<strong>as</strong>o frágil, e tu um homem. Foste constituído<br />

chefe e cabeça, para suportares a fraqueza daquela que <strong>de</strong>ve te obe<strong>de</strong>cer. Age, portanto,<br />

<strong>de</strong> sorte que teu domínio seja esplêndido. Será brilhante, se conservares o <strong>de</strong>coro<br />

daquela que te é subordinada. O rei parece mais ilustre quando faz o que governa em<br />

segundo lugar mais ilustre; se, porém, só lhe inflige ignomínia e <strong>de</strong>sdoura a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong><br />

sua dignida<strong>de</strong>, diminui muito a sua glória, <strong>as</strong>sim também tu, se <strong>de</strong>sonr<strong>as</strong> aquela que<br />

governa <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ti, não será leve o dano à honra <strong>de</strong> teu po<strong>de</strong>r. Consi<strong>de</strong>rando tudo isso,<br />

age com mo<strong>de</strong>ração! Além disso, novamente à tar<strong>de</strong> pensa que o pai te chamou para<br />

entregar-te em <strong>de</strong>pósito a filha e separando-a <strong>de</strong> todos, da mãe, <strong>de</strong> si, da c<strong>as</strong>a, confiou a<br />

tua direita. Pon<strong>de</strong>ra que através <strong>de</strong>la Deus te <strong>de</strong>u filhos, e te torn<strong>as</strong>te pai, e sê cortês.<br />

Não vês que os agricultores, após a sementeira, cultivam a terra com toda espécie <strong>de</strong><br />

cuidados, apesar <strong>de</strong> sofrerem inúmeros incômodos, isto é, é árida, produz erv<strong>as</strong><br />

daninh<strong>as</strong>, e o local é inundado pel<strong>as</strong> chuv<strong>as</strong>? Age <strong>de</strong> igual modo; <strong>de</strong>ssa forma, serás o<br />

primeiro a gozar dos frutos e da tranquilida<strong>de</strong>, pois a mulher é um porto seguro e gran<strong>de</strong><br />

medicamento que traz alegria. Se, portanto, protegeres o porto dos ventos e d<strong>as</strong> vag<strong>as</strong>,<br />

gozarás <strong>de</strong> muita segurança, ao <strong>vol</strong>tares da praça; se, contudo, o encheres <strong>de</strong> tumulto e<br />

perturbação, prepar<strong>as</strong> para ti pior naufrágio. Faça-se o que digo para que tal não<br />

aconteça: Ao suce<strong>de</strong>r algo <strong>de</strong> molesto em c<strong>as</strong>a, por culpa <strong>de</strong>la, consola-a e não aumentes<br />

sua dor. Mesmo que perc<strong>as</strong> tudo, nada é mais triste do que ter em c<strong>as</strong>a uma esposa que<br />

convive com o marido sem bene<strong>vol</strong>ência. A qualquer pecado que te refir<strong>as</strong>, não po<strong>de</strong>s<br />

mencionar outro que cause maior dor do que brigar com a mulher. Em consequência <strong>de</strong><br />

tudo isso, o amor <strong>de</strong>la te seja o que há <strong>de</strong> mais precioso. Se <strong>de</strong>vemos carregar os fardos<br />

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