26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Entretanto, nós que repreen<strong>de</strong>mos, acerquemo-nos com muita mansidão e gran<strong>de</strong><br />

prudência. E se vires um irmão <strong>de</strong>linquente, conforme Cristo or<strong>de</strong>nou, não censures em<br />

público, m<strong>as</strong> repreen<strong>de</strong>-o em particular, sem exprobrar, nem insultar o que está<br />

prostrado, m<strong>as</strong> comp<strong>as</strong>sivo <strong>de</strong>monstres pesar. Estej<strong>as</strong> pronto também a receber uma<br />

repreensão se pecares. No intuito <strong>de</strong> tornar mais claro o que digo, exemplifiquemos com<br />

um c<strong>as</strong>o, que, entretanto, está longe <strong>de</strong> ser real. Imaginemos um irmão que coabita com<br />

uma virgem; é honesto e c<strong>as</strong>to, m<strong>as</strong> nem por isso escapa da má fama. Se, portanto,<br />

ouvires sussurros contra essa coabitação, não <strong>de</strong>sprezes, nem dig<strong>as</strong>: Ac<strong>as</strong>o não tem<br />

juízo? Não sabe o que convém? Sê amado sem motivo, não dês motivo <strong>de</strong> seres odiado;<br />

por que procurar inimiza<strong>de</strong>s gratuit<strong>as</strong>? São palavr<strong>as</strong> imbecis, própri<strong>as</strong> <strong>de</strong> fer<strong>as</strong>, ou antes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios. De forma alguma é odiado por nada quem corrige, m<strong>as</strong> é em vista <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s bens, coro<strong>as</strong> inefáveis. Se disseres: Então, não tem juízo? Ouvirás <strong>de</strong> nós: Não<br />

tem; <strong>de</strong> fato, a doença o estonteia. Se, pois, nos tribunais pagãos não po<strong>de</strong>m os réus<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se por si próprios, porque estão inflamados <strong>de</strong> cólera, embora tal emoção não<br />

seja culpada, quanto mais os que estão dominados por um hábito mau? Por isso digo que<br />

por mais pru<strong>de</strong>nte que seja, não está <strong>de</strong>sperto. O que havia <strong>de</strong> mais sábio do que Davi,<br />

que dizia: “Revel<strong>as</strong>te-me os mistérios e os segredos <strong>de</strong> tua sabedoria” (Sl 51,8)? M<strong>as</strong><br />

quando olhou com olhos impuros a mulher do soldado, dizia que lhe acontecera o<br />

mesmo que aos marinheiros num mar furioso: “Sua sabedoria toda foi tragada” (Sl<br />

107,<strong>27</strong>); e precisou <strong>de</strong> outros para corrigi-lo, porque não percebia, <strong>de</strong> fato, quantos<br />

males tinha <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si. Por isso dizia, chorando seus pecados: “Como gran<strong>de</strong> fardo el<strong>as</strong><br />

pesam sobre mim; minh<strong>as</strong> chag<strong>as</strong> estão putrefat<strong>as</strong> e supuram, por causa da minha<br />

loucura” (Sl 38,5-6).<br />

Quem peca, portanto, não tem entendimento; está ébrio e está obcecado. Não<br />

repliques, portanto, nem repit<strong>as</strong>: Não me importa.<br />

“Cada qual carregará o seu próprio fardo” (Gl 6,5). Na verda<strong>de</strong>, cometes crime muito<br />

gran<strong>de</strong>, porque, tendo visto aquele que está <strong>de</strong>sviado, não o reconduziste ao bom<br />

caminho. Se a Lei judaica não permite <strong>de</strong>sprezar o jumento do inimigo (cf. Dt 22,1),<br />

quem <strong>de</strong>spreza não um jumento, nem a alma <strong>de</strong> um inimigo, e sim a <strong>de</strong> um amigo, que<br />

perdão terá? Não nos b<strong>as</strong>ta a <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> que ele tem entendimento. De fato, também<br />

nós, que muit<strong>as</strong> vezes admoestamos, não nos b<strong>as</strong>tamos a nós próprios, nem somos úteis.<br />

A respeito do próximo que peca, portanto, pon<strong>de</strong>ra que é mais consentâneo receber<br />

ótimo conselho <strong>de</strong> ti do que <strong>de</strong> si mesmo; nem dig<strong>as</strong>: o que me importa? Receia imitar o<br />

primeiro que proferiu tal palavra, pois a pergunta: “Ac<strong>as</strong>o sou guarda <strong>de</strong> meu irmão?”<br />

(Gn 4,9) é idêntica a isso. Daí surgem todos os males, porque consi<strong>de</strong>ramos alheio o que<br />

pertence a nosso corpo. O que dizes? Teu irmão não te importa? M<strong>as</strong> quem cuidará<br />

<strong>de</strong>le? O infiel que se alegra com a infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le, o exprobra e insulta? Ou o diabo que<br />

impele e suplanta? E <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém isso? Porque, dizes, não adianta dizer e aconselhar<br />

o que convém. De on<strong>de</strong> se evi<strong>de</strong>ncia que é inútil? É extrema loucura, quando o resultado<br />

é incerto, cometer um crime indubitável <strong>de</strong> negligência. Ora, Deus, que prevê o futuro,<br />

muit<strong>as</strong> vezes falou sem proveito e nem <strong>as</strong>sim <strong>de</strong>sistiu; e sabia que não haveria <strong>de</strong><br />

persuadir. Se, porém, quem possui a presciência <strong>de</strong> que nada conseguirá, não <strong>de</strong>siste <strong>de</strong><br />

355

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!