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toda a parte, trazendo os sinais da tribulação e manifestando a todos os meus males; e o<br />

pior <strong>de</strong> tudo, frequentemente vou <strong>de</strong> c<strong>as</strong>a em c<strong>as</strong>a. Nem <strong>as</strong>sim termina <strong>as</strong> lamentações,<br />

m<strong>as</strong> acrescenta: “Espero o pôr do sol para <strong>de</strong>scansar <strong>de</strong> meus labores e d<strong>as</strong> dores que me<br />

cercam e pren<strong>de</strong>m. É um peso para mim o que para os outros é suave, isto é, ver os<br />

raios do sol, pois anelo pela noite e <strong>as</strong> trev<strong>as</strong>, que me proporcionam repouso <strong>de</strong> meus<br />

suores, servem-me <strong>de</strong> consolo em meus males. “Amaldiçoa a Deus e morre duma vez!”<br />

(Jó 2,9)<br />

Viste também aqui a malícia? Por que em seu conselho não introduz logo sua<br />

perniciosa exortação, m<strong>as</strong> tendo primeiro <strong>de</strong>scrito com lamentos <strong>as</strong> aflições e exagerado a<br />

tragédia, profere a exortação em pouc<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, não a indica claramente, m<strong>as</strong> sugere,<br />

propõe-lhe a libertação como muito <strong>de</strong>sejável e anuncia a morte como se por ela<br />

sumamente anel<strong>as</strong>se? Observa aí também a malícia do diabo. Ciente do amor <strong>de</strong> Jó a<br />

Deus, não <strong>de</strong>ixa que a mulher o acuse, a fim <strong>de</strong> que ele não a repelisse imediatamente<br />

como inimiga. Por isso em parte alguma o menciona, m<strong>as</strong> re<strong>vol</strong>ve os acontecimentos <strong>de</strong><br />

cima para baixo. Tu, porém, acrescenta ao que foi dito o fato <strong>de</strong> que tal conselho veio da<br />

mulher – sedutora terrível para os <strong>de</strong>sprevenidos. Muitos, <strong>de</strong> fato, mesmo sem sofrer<br />

tribulações, caíram somente pelo conselho d<strong>as</strong> mulheres. O que aconteceu a este homem<br />

bem-aventurado e mais forte do que o diamante? Olhando-a severamente, só pelo<br />

<strong>as</strong>pecto, sem emitir palavra, repeliu seus artifícios. Ela esperava que <strong>de</strong>rramaria torrentes<br />

<strong>de</strong> lágrim<strong>as</strong>; ele, porém, qual leão furioso, encheu-se <strong>de</strong> ira e indignação, m<strong>as</strong> não por<br />

causa do que sofria, e sim <strong>de</strong>vido aos conselhos diabólicos que ela lhe dava.<br />

Manifestando no próprio olhar a indignação, emprega mo<strong>de</strong>rada repreensão; <strong>de</strong> fato,<br />

mesmo n<strong>as</strong> aflições era pru<strong>de</strong>nte. E o que disse? “Fal<strong>as</strong> como uma insensata” (Jó 2,10).<br />

Não foi <strong>as</strong>sim que te instruí, diz ele, não foi <strong>as</strong>sim que te eduquei, por isso não te<br />

reconheço por minha esposa. São palavr<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma insensata, conselho <strong>de</strong> uma furiosa.<br />

Vês o corte mo<strong>de</strong>rado, a ferida que po<strong>de</strong> curar a doença? Em seguida, após a repreensão<br />

novamente dá um conselho consolador, e apresenta um motivo muito razoável, nesses<br />

termos: “Se recebemos do Senhor os bens, não <strong>de</strong>veríamos receber também os males?”<br />

(ib.) Lembra-te dos antece<strong>de</strong>ntes e pensa no autor e suportarás com fortaleza esta<br />

tribulação. Viste a prudência <strong>de</strong>ste homem? Efetivamente, não atribui à própria força à<br />

sua paciência, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>clara ser consequência natural dos acontecimentos. Para que<br />

finalida<strong>de</strong> nos conce<strong>de</strong>u Deus aqueles bens? Que retribuição nos <strong>de</strong>via? Nenhuma, m<strong>as</strong> é<br />

pura benignida<strong>de</strong> sua; dom, não retribuição; graça, não remuneração. Por conseguinte,<br />

suportemos corajosamente ess<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>. Homens e mulheres, <strong>de</strong>vemos ter inscrit<strong>as</strong>,<br />

esculpid<strong>as</strong> tais palavr<strong>as</strong> em nossa mente, ess<strong>as</strong> e <strong>as</strong> prece<strong>de</strong>ntes. E inscrevendo a história<br />

<strong>de</strong> seus sofrimentos qual imagem em nossa mente, isto é, a ruína d<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong>, a perda<br />

dos filhos, a doença corporal, os opróbrios, <strong>as</strong> irrisões, os ardis da mulher, <strong>as</strong> insídi<strong>as</strong> do<br />

diabo, numa palavra, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> tribulações <strong>de</strong>sse justo, prepararemos para nós um porto<br />

seguro, e tudo tolerando com ânimo forte e ações <strong>de</strong> graç<strong>as</strong>, possamos banir da vida<br />

presente toda tristeza, e obter <strong>de</strong>ssa bênção a recompensa, pela graça e amor aos homens<br />

<strong>de</strong> nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual com o Pai, na unida<strong>de</strong> do Espírito Santo, glória,<br />

império, honra, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.<br />

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