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intensamente. Por isso, os que estão <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>ssa forma <strong>de</strong> governo têm maior<br />

dignida<strong>de</strong> não só do que os procuradores, m<strong>as</strong> propriamente dos que estão cingidos com<br />

o dia<strong>de</strong>ma, porque instituídos em postos mais elevados e para maior bem dos homens.<br />

Aliás, não po<strong>de</strong>m exercer dignamente nem o governo civil, nem o espiritual senão os que<br />

primeiro dominarem a si próprios convenientemente e observarem com sumo zelo <strong>as</strong> leis<br />

<strong>de</strong> amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns. Pois, <strong>de</strong> certo modo, é duplo o governo do povo, e igual é o que<br />

cada qual exerce sobre si mesmo. M<strong>as</strong> neste c<strong>as</strong>o também o domínio espiritual é mais<br />

importante do que o civil, segundo foi <strong>de</strong>monstrado. Efetivamente, encontram-se ofícios<br />

que são figur<strong>as</strong> d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>de</strong> governo, principalmente a agricultura. Com efeito, o<br />

agricultor tem uma espécie <strong>de</strong> domínio sobre <strong>as</strong> plant<strong>as</strong>. Na realida<strong>de</strong>, a um<strong>as</strong> poda e<br />

impe<strong>de</strong>-lhes o crescimento, a outr<strong>as</strong> multiplica e cultiva. Não diferem <strong>de</strong> ilustres<br />

príncipes que a criminosos, malfeitores dos <strong>de</strong>mais, infligem c<strong>as</strong>tigos, os eliminam e, ao<br />

invés, promovem os melhores e equitativos. Por essa razão, a Escritura compara os<br />

antístites aos vinhateiros. Como é isso, se <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> não emitem sons conforme<br />

costumam fazer n<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s os oprimidos? M<strong>as</strong>, ao menos pelo <strong>as</strong>pecto manifestam a<br />

ignomínia, uma vez que murcham se abafad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> erv<strong>as</strong> nociv<strong>as</strong>. Ora, como a malda<strong>de</strong><br />

é coagida pel<strong>as</strong> leis, <strong>as</strong>sim também a agricultura melhora a terra fraca e a proveniência vil<br />

d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> silvestres. De fato, tudo o que existe nos hábitos humanos, encontramos<br />

também entre <strong>as</strong> plant<strong>as</strong>, a saber, a <strong>as</strong>pereza, a flaci<strong>de</strong>z, a timi<strong>de</strong>z, a temerida<strong>de</strong>, a<br />

inconstância; e um<strong>as</strong> se expan<strong>de</strong>m com inoportuna e opulenta exuberância, arruinando <strong>as</strong><br />

vizinh<strong>as</strong>, enquanto outr<strong>as</strong> são carentes e ficam prejudicad<strong>as</strong>, por exemplo, quando se<br />

levantam sebes com perda d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> vizinh<strong>as</strong>, e quando árvores infrutífer<strong>as</strong> e agrestes<br />

se <strong>de</strong>sen<strong>vol</strong>vem para o alto e impe<strong>de</strong>m o crescimento d<strong>as</strong> que estão embaixo. E como<br />

existem homens perversos que arruínam e combatem o domínio dos príncipes e dos reis,<br />

também o agricultor suporta o incurso d<strong>as</strong> fer<strong>as</strong>, <strong>as</strong> intempéries, o granizo, a alforra, a<br />

chuva, a seca etc. Tudo isso faz com que perpetuamente coloques em Deus a tua<br />

esperança. A ativida<strong>de</strong> sustenta os restantes ofícios dos homens, o agricultor, contudo,<br />

<strong>de</strong>posita a esperança <strong>de</strong> bom resultado em gran<strong>de</strong> parte n<strong>as</strong> mãos <strong>de</strong> Deus, do qual<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> qu<strong>as</strong>e totalmente. Precisa d<strong>as</strong> chuv<strong>as</strong> do alto, da boa temperatura, porém requer<br />

principalmente a providência <strong>de</strong> Deus. “Assim, pois, aquele que planta, nada é; aquele<br />

que rega, nada é; m<strong>as</strong> importa tão somente Deus, que dá o crescimento” (1Cor 3,7).<br />

Aliás, n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> também há morte e vida, dores e partos, como entre os homens. Pois<br />

acontece que a planta é podada, dá fruto, morre e a que morre brota novamente; com<br />

isso a terra nos fala <strong>de</strong> modo variegado e notável <strong>de</strong> ressurreição. Pois, ao proce<strong>de</strong>r da<br />

raiz o fruto e a semente germinar, ac<strong>as</strong>o não se trata <strong>de</strong> uma ressurreição? Ora, po<strong>de</strong><br />

quem quiser neste domínio divisar a divina providência e a sua sabedoria, se refletir<br />

sobre cada pormenor. M<strong>as</strong>, queríamos dizer que o agricultor cultiva a terra e os vegetais,<br />

e nós exercemos a cura d<strong>as</strong> alm<strong>as</strong>. Na medida, porém, em que <strong>as</strong> alm<strong>as</strong> distam dos<br />

vegetais, a cura d<strong>as</strong> alm<strong>as</strong> <strong>de</strong>ve ser tida como mais importante do que o cultivo da terra.<br />

Ainda os que têm autorida<strong>de</strong> na vida terrena acham-se tão abaixo dos que a possuem na<br />

Igreja, quanto é melhor governar os <strong>de</strong> boa do que os <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong>. Pois aquela<br />

constitui forma <strong>de</strong> governo natural. Com efeito, os últimos agem sempre por medo e<br />

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