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quiseres, observa que ocorre entre nós também o que falamos. Encontro em ti o que me<br />

é útil, e em mim o que é proveitoso a ti. É vantajoso para ti apren<strong>de</strong>res o que agrada a<br />

Deus, m<strong>as</strong> esse cuidado me foi confiado, a fim <strong>de</strong> o receberes <strong>de</strong> mim e seres obrigado a<br />

procurar-me. E para mim é vantajoso que tu te tornes melhor, porque receberei gran<strong>de</strong><br />

recompensa. O progresso, contudo, ainda está em teu po<strong>de</strong>r, e por isso sou obrigado a te<br />

acompanhar para que te faç<strong>as</strong> melhor e eu receba <strong>de</strong> ti o que me é proveitoso. Por essa<br />

razão, dizia Paulo: “Pois, quem é, senão vós, a nossa esperança?”, e ainda: “Nossa<br />

esperança, a nossa alegria, a coroa <strong>de</strong> glória” (1Ts 2,19-20). Os discípulos, portanto,<br />

eram a alegria <strong>de</strong> Paulo e eles tinham no Apóstolo a sua. Por isso, também <strong>de</strong>rramava<br />

lágrim<strong>as</strong>, se ac<strong>as</strong>o os visse em perigo <strong>de</strong> perdição. Ainda, o bem <strong>de</strong>les achava-se em<br />

Paulo, e por isso <strong>as</strong>segurava: “Pois é por causa da esperança <strong>de</strong> Israel que estou<br />

carregado <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>i<strong>as</strong>” (At 28,20); e também: “É por isso que tudo suporto, por causa dos<br />

eleitos, a fim <strong>de</strong> que também eles obtenham a salvação” (1Tm 2,10). Tal se verifica<br />

também na vida terrena, pois diz: “A mulher não dispõe do seu corpo, m<strong>as</strong> é o marido<br />

quem dispõe. Do mesmo modo, o marido não dispõe do seu corpo; m<strong>as</strong> é a mulher<br />

quem dispõe” (1Cor 7,4). Assim também agimos nós quando queremos pren<strong>de</strong>r dois<br />

homens um ao outro; não <strong>de</strong>ixamos nenhum a seu arbítrio, m<strong>as</strong> esten<strong>de</strong>ndo uma<br />

corrente no meio, fazemos com que um fique preso ao outro. Queres verificar isso entre<br />

os magistrados? O juiz não se julga a si mesmo, m<strong>as</strong> procura o que é útil a outrem.<br />

Ainda os súditos procuram o bem do príncipe, pelo respeito, o serviço etc. Os soldados<br />

tomam <strong>as</strong> arm<strong>as</strong> em nosso favor e por nós enfrentam o perigo, e nós por eles <strong>as</strong>sumimos<br />

os trabalhos e lhes fornecemos a subsistência.<br />

Se, porém, disseres que cada qual o faz procurando seus interesses, concordo;<br />

todavia, através do alheio cuida do que lhe é peculiar. Na realida<strong>de</strong>, a não ser que o<br />

soldado combata em favor daqueles que o nutrem, não há quem lhe administre o<br />

sustento; por sua vez, se este último não sustentar o soldado, não há quem o <strong>de</strong>fenda.<br />

Vês que a carida<strong>de</strong> abrange tudo e a tudo provê? M<strong>as</strong> não te canses até que apreend<strong>as</strong><br />

integralmente em que consiste essa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ouro. O Apóstolo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar:<br />

“Não procura o seu próprio interesse”, diz em seguida os bens <strong>de</strong>la oriundos. Quais?<br />

“Não se irrita, não guarda rancor.” Vê que não só domina os vícios, m<strong>as</strong> não <strong>de</strong>ixa que<br />

seu domínio se estabeleça. Não disse: Irrita-se, na verda<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> vence a ira, e sim: “Não<br />

se irrita”; nem: Nada <strong>de</strong> mal opera, m<strong>as</strong> nem ao menos concebe a ira. Não só não<br />

planeja o mal, m<strong>as</strong> nem o imagina contra o ser amado. Como o faria, ou como se irritaria<br />

se nem ao menos alimenta uma suspeita? Aí está a fonte do amor.<br />

6. Não se alegra com a injustiça, isto é, não lhe agrada o mal alheio; e não só, m<strong>as</strong> o<br />

que é muito mais: m<strong>as</strong> se regozija com a verda<strong>de</strong>.<br />

Congratula-se com os que agem bem, conforme or<strong>de</strong>na Paulo: “Alegrai-vos com os<br />

que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12,15). Dessa forma, não inveja, não<br />

se incha <strong>de</strong> orgulho, uma vez que consi<strong>de</strong>ra os bens alheios como se fossem<br />

propriamente seus. Vês como a carida<strong>de</strong> faz aos poucos do discípulo um anjo? Isento <strong>de</strong><br />

ira, puro <strong>de</strong> inveja e livre <strong>de</strong> todo vício tirânico, julga-o o Apóstolo além da natureza<br />

humana, tendo aportado à imp<strong>as</strong>sibilida<strong>de</strong> dos anjos. Entretanto, não contente com isso,<br />

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