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mim, achá-la-á” (Mt 10,39); e: “Quem <strong>de</strong>r testemunho <strong>de</strong> mim diante dos homens,<br />

também eu darei testemunho <strong>de</strong>le diante <strong>de</strong> meu Pai que está nos céus” (Mt 10,32).<br />

Não preten<strong>de</strong> afirmar que tal não suce<strong>de</strong> através da carida<strong>de</strong>; refere-se à recompensa<br />

<strong>de</strong>stinada a tais esforços. Em outra p<strong>as</strong>sagem insistiu b<strong>as</strong>tante que a carida<strong>de</strong> igualmente<br />

<strong>de</strong>ve acompanhar o martírio, exprimindo-se <strong>de</strong>sta maneira: “Do cálice que eu beber, vós<br />

bebereis, e com o batismo com que eu for batizado, sereis batizados” (Mc 10,39), isto é,<br />

sofrereis o martírio, sereis mortos por minha causa, todavia, “sentar à minha direita e à<br />

minha esquerda” (não que alguns se sentem à direita ou à esquerda, m<strong>as</strong> se trata <strong>de</strong><br />

preeminente e honrosa posição), “não cabe a mim concedê-lo, m<strong>as</strong> é para aqueles a<br />

quem está preparado” (ib. 40).<br />

Depois, no intuito <strong>de</strong> indicar para quem está preparado, chama-os e diz: “Aquele que<br />

quiser ser o primeiro <strong>de</strong>ntre vós, seja o servo <strong>de</strong> todos” (Mc 10,44), apontando para a<br />

humilda<strong>de</strong> e a carida<strong>de</strong>. De fato, ele reclama a máxima carida<strong>de</strong>. Por isso, não se<br />

interrompe nesse ponto, m<strong>as</strong> adita: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido,<br />

m<strong>as</strong> para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45), monstrando que o<br />

amor <strong>de</strong>ve chegar até a suportar a morte pelos seres amados. Eis qual é o amor supremo.<br />

Assim também <strong>de</strong>clara a Pedro: “Se me am<strong>as</strong>, ap<strong>as</strong>centa <strong>as</strong> minh<strong>as</strong> ovelh<strong>as</strong>” (cf. Jo<br />

21,17). E a fim <strong>de</strong> vos certificar<strong>de</strong>s do valor <strong>de</strong>ste amor, vamos <strong>de</strong>screver a carida<strong>de</strong>,<br />

porque talvez jamais a tenhamos olhado <strong>de</strong> perto; e pensemos quantos bens não se<br />

originariam se ela fosse em toda parte superabundante. Não seriam necessári<strong>as</strong> leis,<br />

penalida<strong>de</strong>s, c<strong>as</strong>tigos, nem algo <strong>de</strong> semelhante. Com efeito, se todos am<strong>as</strong>sem e fossem<br />

amados, nenhuma injustiça se cometeria; m<strong>as</strong> af<strong>as</strong>tar-se-iam para bem longe morticínios,<br />

lut<strong>as</strong>, guerr<strong>as</strong>, sedições, rapin<strong>as</strong>, avareza e todos os males, e dos vícios ignorar-se-ia até<br />

o nome. Os milagres, porém, não atuam <strong>as</strong>sim; ao invés levam à vanglória e arrogância<br />

os incautos.<br />

E o mais admirável na carida<strong>de</strong> é o seguinte: <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s aliam-se a alguns<br />

vícios. Por exemplo, o que se <strong>de</strong>sfez d<strong>as</strong> proprieda<strong>de</strong>s muit<strong>as</strong> vezes por isso se orgulha;<br />

o eloquente, não raro, acha-se contaminado pela ambição da glória; o humil<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido a<br />

isso, interiormente por vezes se ensoberbece; a carida<strong>de</strong>, porém, está livre <strong>de</strong> toda essa<br />

malícia, porque ninguém se exalta em contraposição ao ser amado. Não me trag<strong>as</strong> apen<strong>as</strong><br />

um só que ame, m<strong>as</strong> todos juntamente e então verificarás a força do amor; ou antes, se<br />

te apraz, imagina primeiro um ser amado e um amante, amante que ama como convém.<br />

A terra para ele é como o céu, frui em toda parte <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong>, e tece para si<br />

inúmer<strong>as</strong> coro<strong>as</strong>. Ele conservará a alma isenta <strong>de</strong> inveja, ira, ciúme, arrogância,<br />

vanglória, concupiscência, amor <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado e paixão. Ninguém quer infligir um mal a si<br />

mesmo, nem este ao próximo. Nesse estado acha-se em companhia do próprio Gabriel,<br />

embora ainda esteja na terra. E é tal quem possui a carida<strong>de</strong>. Quem opera milagres, e<br />

tem perfeita ciência sem a carida<strong>de</strong>, mesmo que ressuscite inúmeros mortos, não<br />

alcançará gran<strong>de</strong> lucro, porque se mantém isolado dos outros, e não a<strong>de</strong>re à união com<br />

nenhum dos companheiros <strong>de</strong> serviço. Por isso Cristo <strong>de</strong>clarou que amar o próximo é<br />

sinal da carida<strong>de</strong> perfeita. Pois disse: “Se tu me am<strong>as</strong> mais do que estes, ó Pedro,<br />

ap<strong>as</strong>centa <strong>as</strong> minh<strong>as</strong> ovelh<strong>as</strong>”. Vês que também aqui novamente insinua que a carida<strong>de</strong> é<br />

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