26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

luz, e nós os iluminados. Tudo isso indica união, e não permite seja interposto o mínimo<br />

vácuo. Com efeito, quem se aparta um pouco, e avança muito, distancia-se. Aliás, se o<br />

corpo admitir pequena separação feita por meio da espada, perece; e o edifício, por<br />

menos que rache, se arruína; e o ramo por mínimo que esteja cortado da raiz, fica<br />

inutilizado. Por conseguinte, este mínimo não é pouco, m<strong>as</strong> é qu<strong>as</strong>e tudo. Se admitimos<br />

um pequeno pecado, ou somos negligentes, não <strong>de</strong>sprezemos esse pouco;<br />

menosprezado, logo se faz gran<strong>de</strong>. Assim, se um manto começar a r<strong>as</strong>gar-se e o r<strong>as</strong>gão<br />

for <strong>de</strong>scuidado, atinge o todo; e se caírem pouc<strong>as</strong> telh<strong>as</strong> <strong>de</strong> um teto e isso for<br />

negligenciado, é <strong>de</strong>rrubada toda a c<strong>as</strong>a. Diante <strong>de</strong> tais pon<strong>de</strong>rações, nunca<br />

menosprezemos <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> para não incidirmos n<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s; se, ao invés,<br />

<strong>de</strong>scuidarmos, e chegarmos ao mais profundo dos males, nem <strong>as</strong>sim <strong>de</strong>sanimemos, para<br />

não termos dores <strong>de</strong> cabeça. Será difícil subir daí, a não ser quem se tornar muito<br />

vigilante; não somente por causa da distância, m<strong>as</strong> também por causa do lugar. O pecado<br />

é profundo, e arr<strong>as</strong>tando para baixo, oprime. E como aqueles que caíram num poço, não<br />

sobem facilmente, m<strong>as</strong> precisam do socorro <strong>de</strong> outrem que <strong>de</strong> lá o retire; <strong>as</strong>sim acontece<br />

àquele que chegar às profun<strong>de</strong>z<strong>as</strong> dos pecados. Joguemo-lhes cord<strong>as</strong>, portanto, e<br />

arr<strong>as</strong>temo-los para cima; ou antes, não precisamos apen<strong>as</strong> dos outros, m<strong>as</strong> também <strong>de</strong><br />

nós mesmos. Nós próprios nos amarremos e subamos, não quanto <strong>de</strong>scemos, m<strong>as</strong> muito<br />

mais, se o quisermos. Efetivamente, Deus nos ajuda, porque ele não tem prazer na morte<br />

do pecador, m<strong>as</strong> que ele se converta (cf. Ez 18,32). Ninguém, pois, <strong>de</strong>sespere, nenhum<br />

dos ímpios se entregue a este vício; na verda<strong>de</strong> o pecado <strong>de</strong>les é <strong>de</strong>sta espécie. “O<br />

ímpio, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter caído no abismo dos pecados, tudo <strong>de</strong>spreza” (Pr 18,3). Por<br />

conseguinte, não é a multidão dos pecados que leva ao <strong>de</strong>sespero, m<strong>as</strong> a mentalida<strong>de</strong> do<br />

ímpio. Mesmo se a malícia tudo invadir, dize a ti mesmo: Deus é benigno e <strong>de</strong>seja a<br />

nossa salvação. “Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão<br />

alvos como a neve” (Is 1,18), e os transformarei por coloração oposta. Não<br />

<strong>de</strong>sanimemos. Não é tão grave ter caído quanto jazer na queda; nem tão grave ter sido<br />

ferido do que não querer tratar do ferimento. “Quem po<strong>de</strong> dizer: ‘Purifiquei meu<br />

coração, do meu pecado estou puro’?” (Pr 20,9). Não me exprimo <strong>de</strong>sta maneira para<br />

vos fazer indolentes, m<strong>as</strong> para impedir a queda no <strong>de</strong>sespero.<br />

Queres saber como nosso Senhor é bom? Subiu ao templo o publicano,<br />

sobrecarregado <strong>de</strong> males, e suplica: “Ten<strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim” (Lc 18,13); <strong>de</strong>sceu<br />

justificado. Por meio do profeta também diz Deus: “Por causa <strong>de</strong> seu pecado, contristeio<br />

um pouco, e vi que estava dolorido e foi-se triste, e curei os seus caminhos” (Is 57,17-<br />

18). O que há <strong>de</strong> igual a este amor aos homens? Apen<strong>as</strong> por ter ficado triste, <strong>as</strong>segura,<br />

perdoei-lhe os pecados. Nós, contudo, nem isto fazemos e antes provocamos a ira <strong>de</strong><br />

Deus. Aquele que por pequenos atos se tornou propício, quando não encontra nem isso,<br />

com razão fica indignado e nos inflige o máximo c<strong>as</strong>tigo, porque se trata <strong>de</strong> extremo<br />

<strong>de</strong>sprezo. Quem, portanto, alguma vez se entristeceu por causa do pecado? Quem<br />

gemeu? Quem bateu no peito? Quem ficou preocupado? Penso que ninguém. M<strong>as</strong> por<br />

muitos di<strong>as</strong> os homens choram a morte dos escravos, os danos pecuniários, m<strong>as</strong> não nos<br />

preocupamos se per<strong>de</strong>mos diariamente a alma. Como, portanto, po<strong>de</strong>rás fazer com que<br />

70

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!