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idícula e satânica torpeza. Por isso, dir-se-iam com maior conveniência àqueles que<br />

propõem esses jogos, e nada omitem até que vejam os outros atormentados, <strong>as</strong> seguintes<br />

palavr<strong>as</strong>: Merecem viver e respirar? Ver o sol, aqueles que transgri<strong>de</strong>m os limites da<br />

natureza comum e ofen<strong>de</strong>m a Deus? E quando Deus or<strong>de</strong>na: Dá esmola, e conce<strong>de</strong>r-teei<br />

o reino dos céus, não ouves. M<strong>as</strong>, ao mostrar o diabo uma cabeça cheia <strong>de</strong> pregos,<br />

imediatamente te fazes liberal. És mais propenso ao artifício do <strong>de</strong>mônio maligno, causa<br />

<strong>de</strong> tamanho dano, do que à promessa <strong>de</strong> Deus, carregada <strong>de</strong> inúmeros bens. Ainda que<br />

fosse preciso pagar a peso <strong>de</strong> ouro a fim <strong>de</strong> que tais fatos não acontecessem, não fossem<br />

dados em espetáculo, seria conveniente fazer e sofrer o possível para evitar tamanha<br />

loucura. Vós, porém, a fim <strong>de</strong> se realizarem e serem vistos, fazeis e agis quanto possível<br />

e ainda me interrog<strong>as</strong>: Dize-me, por que existe a geena? Ora, não faç<strong>as</strong> mais tal pergunta<br />

e sim por que existe apen<strong>as</strong> uma só geena. De fato, quantos suplícios não merecem os<br />

fautores <strong>de</strong> tão cruel e <strong>de</strong>sumano espetáculo, e riem do que se <strong>de</strong>via chorar por eles e<br />

por vós mesmos, ou antes por vós que impelis a ações tão in<strong>de</strong>coros<strong>as</strong>? M<strong>as</strong>, dizes, não<br />

obrigo. Como, pergunto, não obrig<strong>as</strong>, se não queres dar ouvidos aos que suplicam com<br />

modéstia, lágrim<strong>as</strong>, e invocações a Deus, enquanto aos outros dás largamente, e convid<strong>as</strong><br />

a muitos para admirá-los? E af<strong>as</strong>temos, dizes, os compa<strong>de</strong>cidos <strong>de</strong>les. Então é isso que<br />

or<strong>de</strong>n<strong>as</strong>? É falta <strong>de</strong> compaixão, ó homem, exigir tanto sofrimento por dois óbolos,<br />

mandar que se dilacerem em vista <strong>de</strong> conseguirem o necessário sustento, e furem o<br />

couro cabeludo <strong>de</strong> forma tão acerba e miserável em muit<strong>as</strong> partes. Cala-te, respon<strong>de</strong>s,<br />

porque não somos nós que lhes furamos a cabeça com cravos. Ainda que o fizesses, não<br />

seria o pior <strong>de</strong> tudo. Com efeito, quem mata um outro comete pecado muito mais grave<br />

do que aquele que manda um outro matar-se a si mesmo? E est<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> igualmente<br />

acontecem aqui. As dores são mais atrozes, quando se recebe or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fazer mal a si<br />

mesmo com a própria mão. E isso acontece em Antioquia, on<strong>de</strong> em primeiro lugar os<br />

cristãos receberam esse nome, on<strong>de</strong> se encontravam os mais mansos <strong>de</strong> todos os<br />

homens, on<strong>de</strong> outrora <strong>as</strong> esmol<strong>as</strong> produziam tão copiosos frutos. E não <strong>as</strong> distribuíam<br />

somente aos presentes, m<strong>as</strong> também <strong>as</strong> enviavam aos que se achavam a uma gran<strong>de</strong><br />

distância, isso quando havia perigo <strong>de</strong> fome. O que, então, dizes, <strong>de</strong>vemos fazer?<br />

Desistir <strong>de</strong>ssa cruelda<strong>de</strong>, convencer a todos os indigentes <strong>de</strong> que, se o fizerem, nada<br />

receberão e se, ao contrário, se aproximarem com mo<strong>de</strong>ração, haverão <strong>de</strong> fruir <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

liberalida<strong>de</strong>. Se, portanto, disto se convencerem, apesar <strong>de</strong> serem os mais miseráveis,<br />

jamais serão induzidos a se torturarem <strong>de</strong>sta forma. Eu o <strong>as</strong>seguro. M<strong>as</strong> até vos serão<br />

gratos, por havê-los livrado do ridículo e <strong>de</strong> tal dor.<br />

Além disso, ofereceis até os filhos pelos condutores <strong>de</strong> carros, e pelos dançarinos dais<br />

<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> vid<strong>as</strong>. Em favor <strong>de</strong> Cristo faminto, porém, não conce<strong>de</strong>is a mínima parte <strong>de</strong><br />

vossos bens; e se doar<strong>de</strong>s um pouquinho <strong>de</strong> dinheiro, pensais que <strong>de</strong>stes tudo, ignorando<br />

que a esmola significa principalmente dar com largueza e não simplesmente dar. Por isso<br />

o profeta não proclama e <strong>de</strong>nomina bem-aventurados os que são apen<strong>as</strong> doadores, m<strong>as</strong><br />

os que dão liberalmente. Não disse somente: Deu. Como, pois? “Ele distribuiu, <strong>de</strong>u aos<br />

indigentes” (Sl 112,9). O que adianta dares <strong>de</strong> tu<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> como alguém, por<br />

exemplo, que enchesse um copo d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> do mar, se não fores um êmulo da gran<strong>de</strong>za<br />

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