26.03.2018 Views

patrc3adstica-vol-27_2-comentc3a1rio-as-cartas-de-sao-paulo-sao-joao-crisc3b3stomo

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

su<strong>as</strong> ferid<strong>as</strong> o jejum, um jejum estrito, o <strong>de</strong>itar-se no chão, a veste <strong>de</strong> saco, <strong>as</strong> cinz<strong>as</strong>, <strong>as</strong><br />

lágrim<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> sobretudo a mudança <strong>de</strong> vida.<br />

Vejamos, portanto, qual <strong>de</strong>stes meios lhes trouxe a cura. Como po<strong>de</strong>mos saber?<br />

pergunt<strong>as</strong>. Vamos ao médico e o interroguemos. Ele não o escon<strong>de</strong>rá, m<strong>as</strong> o dirá <strong>de</strong> boa<br />

vonta<strong>de</strong>. Ou melhor, no intuito <strong>de</strong> que ninguém ignore ou precise interrogar, <strong>de</strong>ixou<br />

escrito o nome do remédio que os curou. Qual foi? Diz a Escritura: “E Deus viu <strong>as</strong> su<strong>as</strong><br />

obr<strong>as</strong>: Que eles se converteram <strong>de</strong> seu caminho perverso, e Deus arrepen<strong>de</strong>u-se do mal<br />

que ameaçara fazer-lhes e não fez” (Jn 3,10). Não disse: viu o jejum, o cilício e <strong>as</strong><br />

cinz<strong>as</strong>. Não o digo, porém, para abolir o jejum – Deus não o permita – m<strong>as</strong> para vos<br />

exortar a realizar o que é melhor que o jejum, isto é, a abstenção <strong>de</strong> todo vício. Davi<br />

também pecou. Vejamos, portanto, como fez penitência. Por três di<strong>as</strong> esteve sentado n<strong>as</strong><br />

cinz<strong>as</strong>. Ora, não o fez por causa do pecado, m<strong>as</strong> do filho, a saber, ainda tonto com a<br />

infelicida<strong>de</strong>. M<strong>as</strong> apagou o pecado <strong>de</strong> outro modo, a saber, pela humilda<strong>de</strong>, a contrição<br />

do coração, a compunção do espírito, a precaução para não recair, a lembrança contínua<br />

do pecado, a aceitação com ações <strong>de</strong> graç<strong>as</strong> d<strong>as</strong> aflições sobrevind<strong>as</strong>, o perdão d<strong>as</strong><br />

injúri<strong>as</strong>, sem vingança contra os traiçoeiros, ou antes pela proibição dada àqueles que<br />

queriam se vingar. De fato, quando Semei lançava sobre ele inúmer<strong>as</strong> injúri<strong>as</strong> na<br />

presença do indignado chefe do exército, Davi dizia: “Deixai que amaldiçoe, se o Senhor<br />

lhe or<strong>de</strong>nou que o fizesse” (2Sm 16,11). Tinha o coração contrito e humilhado (cf. Sl<br />

50,19), o que principalmente servia para apagar o pecado. Eis a confissão, eis a<br />

penitência! Se jejuarmos com orgulho, não só não retiraremos lucro algum, m<strong>as</strong> até<br />

teremos prejuízo. Por isso, humilha teu coração para atraíres a Deus. “O Senhor está<br />

perto dos corações contritos” (Sl 34,19). Ac<strong>as</strong>o não vês que, n<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> esplêndid<strong>as</strong>, os<br />

que foram infamados não relutam se recebem injúri<strong>as</strong> até mesmo dos últimos escravos,<br />

m<strong>as</strong> suportam-n<strong>as</strong> por causa da infâmia que o pecado lhes infligiu? Faze o mesmo. Se<br />

alguém te perseguir com ultrajes, não te ex<strong>as</strong>peres, m<strong>as</strong> geme, não por causa da injúria,<br />

m<strong>as</strong> pelo pecado que te lançou na ignomínia. Quanto pecares geme, não porque hás <strong>de</strong><br />

sofrer c<strong>as</strong>tigo, o que nada é, m<strong>as</strong> porque ofen<strong>de</strong>ste teu Senhor, tão benigno, tão amante,<br />

enfim tão propenso à tua salvação que por tua causa entregou seu Filho. Geme, portanto,<br />

sem interrupção; enfim, isto é que é confissão. Não te apresentes agora alegre, amanhã<br />

triste e <strong>de</strong> novo alegre; ao invés, continuamente permanece no luto e na contrição. Pois,<br />

“Bem-aventurados os que choram” (Mt 5,5), isto é, os que o fazem <strong>as</strong>siduamente.<br />

Pratica-o continuamente, acautela-te, tenha o coração contrito, à guisa <strong>de</strong> alguém que<br />

chora a perda do filho único. “R<strong>as</strong>gai os vossos corações e não <strong>as</strong> voss<strong>as</strong> roup<strong>as</strong>” (Jl<br />

2,13). O maltrapilho não se enaltece; o contrito não se eleva. Por isso, diz um outro:<br />

“Deus não <strong>de</strong>spreza o coração contrito e esmagado” (Sl 51,19). Mesmo que sej<strong>as</strong> sábio,<br />

que sej<strong>as</strong> rico, que sej<strong>as</strong> potentado, r<strong>as</strong>ga o coração, e não o <strong>de</strong>ixes enaltecer-se, não lhe<br />

permit<strong>as</strong> orgulhar-se. De fato, o que está r<strong>as</strong>gado, não se ensoberbece, e embora haja<br />

algum motivo <strong>de</strong> orgulho, por estar r<strong>as</strong>gado não retém o inchaço. Assim também tu<br />

aplica-te à humilda<strong>de</strong>; reflete que o publicano (Lc 18) foi justificado por uma só palavra,<br />

apesar <strong>de</strong> não se tratar <strong>de</strong> humilda<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira confissão. Se essa ação teve<br />

tanta força, quanto maior não será a da humilda<strong>de</strong>? Perdoa <strong>as</strong> falt<strong>as</strong> cometid<strong>as</strong> contra ti,<br />

398

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!