Intelectual Inovações Agricultura
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Propriedade <strong>Intelectual</strong> e <strong>Inovações</strong> na <strong>Agricultura</strong><br />
europeus passam a produzir 64,2% dos vinhos e derivados consumidos no mundo. Austrália,<br />
África do Sul, China, Estados Unidos, Argentina e Chile 3 compõem o leque dos principais novos<br />
países produtores, cuja atuação demandou um esforço tecnológico para a produção de vinhos de<br />
qualidade, o que, de acordo com Giuliani, Morison & Rabellotti (2011), foi responsável pelas<br />
inúmeras inovações de produto e processo identificadas no período.<br />
Comumente denominados vinhos tecnológicos, os produtos provenientes do novo mundo<br />
produtor não estão necessariamente vinculados ao método de produção europeu, o qual prioriza<br />
a qualidade associada à singularidade, à tradição e à origem; eles demonstraram justamente que a<br />
tradição do savoir-faire, bem como a tipicidade associada ao terroir podem ser construídas artificialmente<br />
e, igualmente, produzirem um vinho de qualidade diferenciada (GIULIANI, MORISON<br />
& RABELLOTTI, 2011). O resultado desse processo é reconhecido por países europeus como o<br />
processo de standartização dos vinhos, a partir do qual o vinho, um produto conhecido por sua<br />
característica singular, se torna uma commodity, 4 revelando também um movimento semelhante<br />
no padrão de consumo, que passa a demandar produtos com características similares e qualidade<br />
homogênea (NIEDERLE, 2011). A discussão muitas vezes assume um viés maniqueísta, 5 na qual<br />
vinhos tecnológicos passam a ocupar a posição renomada, antes vinculada aos vinhos de terroir.<br />
A realidade, no entanto, não se mostra tão categórica e polarizada, entre vinhos tecnológicos versus<br />
vinhos tradicionais, ou Novo Mundo versus Velho Mundo produtor: o que se observa justamente<br />
é a convivência das duas formas de produção, até em uma mesma vinícola, em uma mesma região<br />
e, principalmente, num mesmo país. Como apontado por Niederle (2011), a produção padronizada<br />
coexiste com a produção direcionada à diferenciação do terroir, observada inclusive nos<br />
países do Novo Mundo, que também investem numa produção mais distintiva.<br />
Produção vitivinícola nacional<br />
A produção vitivinícola nacional advém ainda do período de colonização portuguesa, tendo<br />
início no século XVI, e só se consolidou como atividade comercial a partir do século XX, por iniciativa<br />
dos imigrantes italianos estabelecidos no sul do país. A região Sul foi amplamente influenciada<br />
pela cultura dos imigrantes italianos, que contribuiu para o desenvolvimento e aprimoramento<br />
da produção vitivinícola (WRIGHT, SANTOS & JOHNSON, 1992). A princípio, as cultivares 6<br />
3<br />
O Relatório estatístico sobre a produção vitivinícola (Statistical report on world vitiviniculture) da Organização Mundial da Uva e<br />
Vinho (International Organization of Vine and Wine) destaca que os países citados contribuíram, em 2005, com 34% da produção<br />
mundial de vinhos (OIV, 2012).<br />
4<br />
Lawrence Osborne, em seu livro O connaisseur acidental, apresenta todo o processo de transição entre o padrão produtivo do<br />
Velho Mundo e aquele associado à forma de produzir dos novos entrantes, e sumariza o novo papel do vinho, nos dias atuais:<br />
“O vinho hoje é um dos fetiches de consumo dominantes do mundo ocidental, com sua própria indústria jornalística, onde<br />
tudo é discutido. Somos bombardeados de todos os lados por conversas de vinho.” Ainda segundo Osborne, Aimé Guibert, o<br />
célebre fabricante francês, disse: “Durante milênios, o vinho foi o centro da civilização ocidental, sempre foi um mistério. Hoje<br />
transformou-se em commodity.” (OSBORNE, 2004).<br />
5<br />
Segundo Niederle (2011), os termos utilizados refletem a dicotomia básica na discussão desse mercado, que contrapõe, de um<br />
lado, vinhos de terroir provenientes dos países europeus e, de outro, vinhos tecnológicos (e varietais) oriundos do chamado Novo<br />
Mundo vitivinícola (Estados Unidos, Chile, Argentina, Austrália, Nova Zelândia etc.).<br />
6<br />
Segundo o Mapa (2015) uma cultivar é resultado de melhoramento em uma variedade de planta que a torne diferente das<br />
demais em sua coloração, porte, resistência a doenças. A nova característica deve ser igual em todas as plantas da mesma<br />
cultivar, mantida ao longo das gerações.<br />
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