Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo
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muito, na aspiração a fazer coincidir o aspecto cultural da morte<br />
com o do nascimento. Nada permanece, assim, estranho ao<br />
encanto venusiano dos ritos e das cerimônias.<br />
A própria origem etimológica de charme, que vem de<br />
carmen, remete a essa perspectiva. Carmen tem o sentido geral<br />
de fórmula cadenciada, dotada de caracteres formais regulados<br />
de modo artificioso e mantidos até mesmo independentemente<br />
do seu significado original. Chamava-se carmen<br />
tanto à forma religiosa como ao texto da lei. No <strong>ritual</strong>ismo<br />
do carmen a religião romana talvez encontre a própria unidade;<br />
39 no charme do cotidiano a crise contemporânea talvez<br />
encontre sua própria solução.<br />
Notas<br />
1. J. Baudrillard, Della seduzione. Bolonha, Cappelli, 1980.<br />
2. P. Bruckner e A. Finkielkraut, Il nuovo disordine amoroso., Milão, Rizzoli, 1979.<br />
3. A. Vergote, Charmes divins et déguisements diaboliques, in M. Olender e J. Sojcher<br />
(org.), La séduction. Paris, Aubier, 1980.<br />
4. R. Schilling, La religion romaine de Vénus depuis les origines jusqu’au temps de Auguste.<br />
Paris, De Boccard, 1954. Cf. também os artigos dedicados a Vênus reunidos em R.<br />
Schilling, Rites, cultes, dieux de Rome. Paris, Kliencksieck, 1979, bem como G.<br />
Dumézil, Idées romaines. Paris, Gallimard, 1969, que acrescenta o termo venustas aos<br />
indicados por Schilling.<br />
5. R. Radiguet, Le gote in fiamme. Parma, Guanda, 1960.<br />
6. G. Dumézil, Déesses latines et mythes védiques. Paris, Gallimard, 1956.<br />
7. Diodoro Sículo, Biblioteca storica, IV, 83, 6.<br />
8. G. B Marini, L’Adone, canto XX, estância, 92.<br />
9. M. Olender, Une magie de l’absénce, in M. Olender e J. Sojcher (org.). La séduction,<br />
op. cit.<br />
10. R. Radiguet, Il diavolo in corpo. Milão, Bompiani, 1964, p. 180.<br />
11. Permito-me remeter ao meu La società dei simulacri, Bolonha, Cappelli, 1980,<br />
pp. 180-3. Uma interpretação da relação entre Don Juan e a estátua, muito próxima<br />
da minha, está em J.-N. Vuarnert, Le séducteur malgré lui, in M. Olender e J. Sojcher<br />
(org.), La séduction, op. cit., p. 72. A importância da ligação entre Don Juan e a<br />
morte, que geralmente escapa aos intérpretes, está sublinhada por J. Rousset, Il mito<br />
di don Giovanni, Parma, Pratiche, 1980.<br />
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