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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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origens da economia capitalista se encontra uma perspectiva<br />

ultrametafísica do tempo como eternidade que é profundamente<br />

diferente e antitética com relação à concepção jesuíticobarroca<br />

do tempo como história. É justamente essa incompatibilidade<br />

entre intratemporalidade e mundo, entre eternidade<br />

e história, que escapa a Heidegger. Para ele, a intratemporalidade<br />

baseia-se no tempo público mundano (Weltzeit),<br />

no próprio ser do ser-aí inautêntico, por ele interpretado como<br />

Preocupação, como cotidianidade impessoal. 47 Dessa forma,<br />

a intratemporalidade (e a economia política capitalista) torna-se<br />

uma dimensão estrutural da existência que não pode ser<br />

superada no plano histórico. Uma vez mais, Heidegger reproduz<br />

a posição de Lutero, que estava disposto a conceder<br />

à economia uma legitimidade secundária, mas de forma alguma<br />

a atribuir-lhe — como Calvino — uma função divina.<br />

A perspectiva jesuítico-barroca é, ao contrário, estranha<br />

à dimensão da intratemporalidade, tanto quanto ao ser-paraa-morte:<br />

a pretensão de mergulhar toda a sociedade numa dimensão<br />

eterna, ritmada pelos prazos de um trabalho metódico,<br />

de uma acumulação constante e de uma indefectível renúncia,<br />

é sentida como uma coisa absurda, de fanáticos que<br />

não sabem bem viver nem bem morrer. A ambição de programar<br />

o futuro mediante o emprego de métodos de previsão<br />

que pressuponham um desenvolvimento homogêneo e regular<br />

é tachada como uma ingenuidade que ignora a diversidade<br />

da história. Enfim, o legalismo é exatamente o contrário<br />

daquele usus rerum* que é premissa de toda ação eficaz.<br />

Tudo isso, obviamente, não exclui o modo de ser do caráter<br />

utensiliar, a Zuhandenheit que Heidegger considera o fun-<br />

* Uso das coisas. (N. do T.)<br />

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