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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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na a morte se torna pulsão de morte, exatamente na medida<br />

em que é recalcada, repelida e mantida no inconsciente.<br />

Baudrillard oferece assim uma interpretação histórico-social<br />

do conceito freudiano de pulsão de morte, subtraindo-o à<br />

perspectiva metafísica na qual a psicanálise o insere. A morte,<br />

tornada pulsão recalcada, retorna a qualquer momento na<br />

vida cotidiana como angústia de morte, e a ausência de canais<br />

que permitam o intercâmbio simbólico com a morte e o<br />

seu reconhecimento no seio da sociedade faz crescer enormemente<br />

a sua força e a transforma numa potência psicológica<br />

oculta e subterrânea, tanto mais obsessiva quanto menos evidente<br />

for. “Se o cemitério não existe mais, é porque as cidades<br />

modernas assumem por inteiro a função deste: são cidades<br />

mortas e cidades de morte”, porque nelas a morte está<br />

simbolicamente ausente, mas reina subterraneamente.<br />

Daí conclui-se que as análises de Heidegger e de Baudrillard,<br />

embora construídas a partir de referências conceituais<br />

diferentes, 8 convergem na recusa tanto da consideração metafísica<br />

da morte (teológica ou humanista) como da atitude<br />

cotidiana de tranqüilização, de diversão, de recalque, que é a<br />

premissa da metafísica. Ambas, além disso, estabelecem uma<br />

conexão entre a cotidianidade, secretamente oprimida ou<br />

ameaçada pela morte, a situação afetiva da angústia e a experiência<br />

do deslocamento. Elas, no entanto, divergem profundamente<br />

quanto à solução que oferecem para o problema de<br />

quem efetivamente leva a cabo essa atividade de diversão e<br />

recalque da morte. Para Heidegger, é o Se (das Man), a cotidianidade<br />

impessoal e inautêntica; para Baudrillard, é o eu que<br />

se constitui em sua identidade precisamente com base nesse<br />

recalque da morte. O itinerário traçado por Heidegger em Ser<br />

e tempo vai da inautenticidade, do Se impessoal do mundo ao<br />

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