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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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Não é necessário sermos grandes viajantes para perceber<br />

que o mundo contemporâneo oferece um panorama no<br />

qual está dissolvida a rígida contraposição entre sagrado e profano,<br />

entre simbólico e pragmático, entre selvagem e racional.<br />

Assistimos, de um lado, ao surgimento de comportamentos<br />

tribais nas metrópoles e, de outro, ao profundo impacto da<br />

racionalidade tecnológica e econômica nas situações menos desenvolvidas.<br />

Tudo isso dá lugar a misturas inéditas e surpreendentes<br />

de arcaísmo e modernidade, de passado e futuro, para<br />

cuja compreensão as categorias habituais se mostram totalmente<br />

inadequadas. A minha reflexão está orientada exatamente<br />

para a localização e a determinação das noções que se situam<br />

além das dicotomias e das polaridades até o momento vigentes<br />

na maioria dos estudos antropológicos. Os conceitos de<br />

“trânsito”, “simulacro” e “rito sem mito”, que constituem a<br />

articulação do presente volume, satisfazem perfeitamente a essa<br />

exigência, que nasce tanto da observação da realidade<br />

sociocultural quanto da dinâmica interna da pesquisa teórica.<br />

Assim, a noção de “trânsito” parece-me estar estritamente<br />

ligada com essa experiência de simultaneidade, de disponibilidade<br />

e de dilatação do presente, que caracteriza a vida contemporânea.<br />

Essa noção, de fato, parece manter-nos freqüentemente<br />

em um estado de provisoriedade e de indefinição, no qual o<br />

aspecto estático e o aspecto dinâmico da existência tendem paradoxalmente<br />

a coincidir. Mesmo sem ver no refugiado e no<br />

exilado a figura emblemática do nosso tempo, o afrouxamento<br />

dos laços com o lugar de origem já não é mais compensado<br />

pela busca de uma terra prometida. A ausência de um<br />

enraizamento que confira uma identidade não é mais percebida<br />

como uma falta a ser preenchida: somos estrangeiros na nossa<br />

terra e, vice-versa, sentimo-nos em casa em qualquer lugar.

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