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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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ce oculto, não revelado e jamais revelável — essa é, precisamente,<br />

a relação estabelecida por Kant entre o que ele denomina<br />

“fenômeno” e a coisa-em-si. Todos esses significados de<br />

pura aparência implicam uma relação de remissão (Verweisungsbezug)<br />

ao próprio ente, de modo que — segundo Heidegger<br />

— o remetente poderá desempenhar a própria função somente<br />

se configurar-se como fenômeno, entendido em seu significado<br />

originário: aquilo que se mostra em si próprio, ou seja,<br />

um modo particular de ir ao encontro de algo (eine<br />

ausgezeichnete Begegnisart von etwas).<br />

A abordagem dada por Klossowski a esse problema,<br />

desde o início, é, por sua vez, o oposto. 7 O retorno às coisas<br />

mesmas é impossível porque, a partir do momento em que<br />

Deus está morto, nada mais existe de originário. A morte<br />

de Deus, que é definida por Klossowski como “o acontecimento<br />

dos acontecimentos”, está estritamente ligada à “necessidade<br />

circular do ser”, expressa na teoria nietzschiana do<br />

eterno retorno. As “coisas mesmas” já são desde sempre cópias<br />

de um modelo que jamais existiu, ou melhor, que a morte de<br />

Deus dissolveu para sempre; trata-se de simulacros, não de fenômenos.<br />

Ao monoteísmo sucede o politeísmo; e esse<br />

politeísmo redivivo, no entanto, é fundamentalmente diferente<br />

da antiga devoção para com a pluralidade dos deuses. As estátuas<br />

dos deuses são vistas com os olhos da Antiguidade em<br />

declínio, como a aparência de algo que não existe. Os conceitos<br />

metafísicos de aparência e de realidade, portanto, são<br />

recusados tão radicalmente quanto em Heidegger, mas não<br />

em nome de algo que, ao mostrar-se em si mesmo, assimila<br />

até o aspecto e a aparência, mas, ao contrário, em nome de<br />

algo que anuncia e remete infinitamente a uma cópia. Enquanto<br />

em Heidegger aquilo que se mostra em si mesmo absorve<br />

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