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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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pessoa importante do seu passado, e transfere para ele aqueles<br />

sentimentos e aquelas reações que estavam destinados ao<br />

modelo. Essa relação não é, entretanto, mediada pela recordação;<br />

o paciente não se lembra de nada daquilo que transfere<br />

para o analista, mas o exterioriza na ação. Ele realiza uma<br />

repetição, ignorando que seja assim. A transferência não é,<br />

portanto, um movimento do presente para o passado (como<br />

a recordação), e sim o movimento que se realiza inteiramente<br />

no presente: a carga psíquica libidinosa que se transfere para<br />

o médico já está presente, está pronta, à espera, disponível.<br />

O paciente age, por assim dizer, teatralmente diante do médico,<br />

sem perceber. Sua repetição é uma “repetição diferente”,<br />

porque não possui a imobilidade e o estatismo do instinto,<br />

mas o dinamismo e a fluidez da pulsão (Trieb), e esta última<br />

não tem, por definição, uma meta ou um objeto fixo.<br />

Ambos são variáveis, contingentes, e são escolhidos em função<br />

das vicissitudes da vida do indivíduo. O instaurar-se de<br />

fenômenos de repetição na vida do indivíduo é algo essencialmente<br />

diferente da repetição instintiva: a transferência é o<br />

movimento de uma diferença, de algo diferente e indeterminável,<br />

que todavia acontece, por assim dizer, “do mesmo<br />

para o mesmo”. A repetição é possível exatamente porque há<br />

uma liberdade de movimento, um deslocamento, um fluir da<br />

pulsão, porque esta pode se distanciar da representação original<br />

e correr em direção a uma outra, análoga. Tal circulação<br />

é consentida exatamente pela plasticidade das pulsões que<br />

permanecem sempre capazes de mudar os seus objetos e as<br />

suas metas: para explicar a dinâmica das pulsões, Freud recorre<br />

à imagem de uma rede de vasos comunicantes cheios<br />

de líquido. Quando o movimento, a livre mobilidade da libido<br />

é bloqueada, torna-se impossível a transferência, não é mais

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