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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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de amor, no âmbito de uma tradição que a sociedade contemporânea<br />

parece ter descartado: porque podemos tirar da<br />

sedução o seu aspecto subjetivo e submetê-la às regras do jogo,<br />

mas ela permanece sempre desafio e negação; pode-se tornar<br />

o amor mais anárquico e desordenado, multiplicando ao infinito<br />

as suas manifestações, porém, ainda assim, ele tende sempre<br />

à transcendência. Ora, é uma característica dos tempos em<br />

que vivemos que se esteja precisamente acima do bem e do<br />

mal, de apenas suportar um comportamento verdadeiramente<br />

imoral ou verdadeiramente moral, de torná-lo o seu contrário<br />

e, enfim, de anular tanto um como outro, numa<br />

indiferenciação na qual tudo é reversível em tudo, tudo se confundindo<br />

com tudo.<br />

De resto, na civilização erótica dos últimos dois séculos,<br />

sedução e amor são dimensões complementares que qualificam<br />

respectivamente o comportamento masculino e feminino<br />

mais comum: para cada Don Juan que seduz há uma<br />

Dona Ana (ou mais) que o ama. Certamente pode-se trazer<br />

a esse paradigma uma modificação muito significativa invertendo<br />

os papéis. Pode-se dizer que a sedução é, como estratégia<br />

das aparências, antes e sobretudo feminina — o feminino<br />

não seria aquilo que se opõe ao masculino, mas aquilo que<br />

seduz o masculino. Igualmente, pode-se encontrar a solução<br />

da crise que atualmente atravessa a sexualidade masculina em<br />

uma desordem amorosa, na qual o erotismo masculino, tendo<br />

abandonado o código da virilidade, possa abrir-se para uma<br />

intensidade emotiva até agora por ele desconhecida. Tanto a<br />

primeira orientação como a segunda tendem para uma superação<br />

da distinção entre masculino e feminino, para a transexualidade;<br />

contudo ambas, exatamente porque permanecem<br />

prisioneiras das noções de sedução e de amor, podem no má-<br />

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