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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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ece caracterizá-la psicologicamente é, por um lado, a extrema<br />

pobreza das imagens que se apresentam espontaneamente<br />

à consciência e, por outro, a vivacidade das cenas históricas<br />

que ela consegue evocar. 8 A posição de santo Inácio em<br />

relação às imagens, na verdade, parece apoiar-se em duas atitudes<br />

aparentemente opostas e irreconciliáveis: a indiferença<br />

e a aplicação dos sentidos. Enquanto a iconofilia teológica favorece<br />

o entusiasmo natural diante da beleza da Criação, santo<br />

Inácio prescreve, antes de mais nada, “tornar-se indiferente a<br />

respeito de todas as coisas criadas”, 9 esforçando-se por estar<br />

disposto a tomar ou deixar qualquer coisa. Ao mesmo tempo,<br />

entretanto, ele se move em direção oposta à renúncia ao<br />

mundo e ao seu espetáculo, o que é típico da iconoclastia visionária,<br />

porque prescreve expressamente “ver com os olhos<br />

da imaginação o lugar real onde está aquilo que se quer contemplar”<br />

(Ex., 47) e aplicar os sentidos com a finalidade de<br />

ter uma experiência o mais concreta possível, porque não há<br />

progresso espi<strong>ritual</strong> se as coisas não forem sentidas e apreciadas<br />

interiormente (Ex., 2).<br />

Estão presentes, assim, as duas condições constitutivas<br />

do simulacro: por um lado, a renúncia à afirmação metafísica<br />

da identidade das coisas e do mundo; por outro, o reconhecimento<br />

de seu valor histórico. Nenhuma imagem é teofânica,<br />

muito embora todas as imagens possam ser condição necessária<br />

do exercício espi<strong>ritual</strong>, isto é, da experiência. A esse propósito<br />

concorrem tanto as imagens do inferno como as da história<br />

de Cristo.<br />

A concepção platônica da beleza como aspecto da verdade<br />

é alheia à espi<strong>ritual</strong>idade da Companhia, assim como é<br />

alheio um êxtase místico que sublime a sensualidade natural.<br />

A aplicação jesuítica dos sentidos é inseparável da indiferen-<br />

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