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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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adquire a dimensão intratemporal. Diferentemente de Lutero,<br />

Calvino procede assim a uma reavaliação das ações e da atividade<br />

humanas enquanto obra, não dos homens, mas de Deus:<br />

nós não somos justificados sem as ações, embora não o sejamos<br />

por causa delas. Em verdade, somos instrumentos da glória<br />

de Deus. Enquanto a atenção de Lutero permanece ainda<br />

centrada na consciência e a de Loyola, na eleição do exercitante,<br />

para Calvino jamais é o homem quem escolhe o que<br />

quer que seja — é Deus quem escolhe os homens a serem<br />

salvos ou abandonados à morte eterna. Disso deriva esse<br />

ativismo ascético, em singular contraste com o eudemonismo<br />

ativo dos jesuítas, que Max Weber e Ernst Troeltsch definiram<br />

com o termo ascetismo intramundano (innerweltliche<br />

Askese). 45 Ele consiste em restringir a vida sensitiva à pura necessidade,<br />

num rigorismo utilitarista orientado para o além,<br />

num legalismo entendido como fim em si próprio.<br />

As considerações weberianas a respeito da ligação entre<br />

o calvinismo ascético e a economia capitalista mostram<br />

claramente que a negação da morte implícita na intratemporalidade<br />

é ao mesmo tempo negação da vida, absoluto repúdio<br />

do “bem viver”, e severa e inapelável condenação de<br />

toda apreciação autônoma do mundo. 46 Para o calvinismo,<br />

o corpo jamais vive por si próprio. O momento da morte<br />

não possui, no fundo, muita importância, porque as almas<br />

dos eleitos já vivem e atuam desde sempre no âmbito da eternidade.<br />

O verdadeiro fiel é aquele que, estando absolutamente<br />

certo de sua salvação, pode insultar a morte e não preocupar-se<br />

com ela.<br />

Não é este o lugar para examinar a maneira pela qual a<br />

intratemporalidade calvinista se vincula ao racionalismo<br />

humanista; importa antes pôr em evidência o fato de que nas<br />

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