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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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tro de gravidade encontra-se no passado, de forma que leva à<br />

infelicidade; na segunda, o centro de gravidade está no futuro<br />

e, portanto, gera o tédio da espera. Só a repetição possui a segurança<br />

serena do presente: com a repetição, a existência anterior<br />

passa a existir agora, mas, exatamente por isso, contém um<br />

elemento essencial de diferença que torna a experiência, ao mesmo<br />

tempo, determinada e única. Repetição, portanto, não quer<br />

dizer de modo algum reiteração do idêntico. Em Kierkegaard,<br />

a repetição desempenha a mesma função que a “mediação” na<br />

filosofia de Hegel: se a novidade se apresentasse no seu espontâneo<br />

imediatismo, seria imóvel ou indeterminada. Pode-se alcançar<br />

uma novidade efetiva só através do caminho indireto da<br />

repetição. Não obstante o apelo à experiência do indivíduo e o<br />

estilo narrativo de muitos dos seus textos, o pensamento de<br />

Kierkegaard não implica absolutamente o apelo aos dados imediatos<br />

da consciência: ao contrário, viver é um repetir, um retomar,<br />

um voltar a buscar algo que já tenha ocorrido.<br />

Da mesma forma, pode provocar surpresa o fato de<br />

Nietzsche se encontrar entre os filósofos do pensamento <strong>ritual</strong>,<br />

pois a sua filosofia está eivada de uma ênfase vitalista que<br />

mal se concilia com a <strong>ritual</strong>idade. Entretanto, exatamente o<br />

destaque que ele confere à afirmação do presente o leva a atribuir<br />

um significado essencial à repetição. O problema do qual<br />

ele parte é o da atitude diante do passado: na medida em que<br />

eu experimento em relação ao passado uma dolorosa aversão,<br />

um ressentimento, dependo dele, tenho para com ele uma disposição<br />

meramente reativa. Não há senão um modo de se libertar<br />

do passado, um modo paradoxal que aposta na sua<br />

apropriação e assimilação: o l’amor fati, ou seja, a escolha da<br />

repetição infinita, do eterno retorno. Contudo, isso não deve<br />

ser entendido como renúncia, nem mesmo como uma lei do

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