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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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inscrição: “Neque hic vivus, neque illic mortuus”,* que se refere,<br />

respectivamente, à imagem e ao simulacro. A sua vida<br />

não foi verdadeira vida, mas simulação da morte. Sobre a sua<br />

morte, no entanto, eleva-se o simulacro que o torna partícipe<br />

do decoro do grande teatro do mundo.<br />

Como intuíra Huxcley, 39 a participação ativa na sociedade<br />

e na história não impede, de modo algum, que se erijam<br />

grandes e dispendiosos monumentos cujo tema é a queda<br />

das grandezas terrenas e a inanidade dos desejos humanos;<br />

ao contrário, honrarias, riquezas e pompas são apreciáveis<br />

justamente porque sentidas e vividas como sendo nada. Simulacros<br />

da morte, portanto, são não apenas os túmulos,<br />

mas também as igrejas, os palácios, as instituições, as obras,<br />

toda a sociedade.<br />

A grandeza do barroco reside precisamente nessa ligação<br />

entre a morte e a história, entre o nada e as ações. A morte<br />

não põe fim à história, mas está na origem de toda historicidade.<br />

A experiência da finitude não aterroriza nem paralisa, mas é garantia<br />

de consolação e oficina de ações. Que essas ações sejam<br />

inaturais, artificiais, artificiosas, sem correspondência com um<br />

modelo, isso deriva precisamente do fato de que elas nada têm<br />

a ver com a vida como simples-presença, com a vida sem morte<br />

dos humanistas, com a vida pensada metafisicamente: em relação<br />

a elas não há retorno nem remorso.<br />

Simulacro da morte é o próprio homem. O esqueleto,<br />

diz a <strong>Morte</strong> em Sueños, de Quevedo, não é a morte, e sim o<br />

que resta dos vivos: “Os seus ossos nada mais são do que o<br />

arcabouço sobre o qual se constrói o corpo do homem. A<br />

morte, vós não conheceis e sois vós mesmos a vossa morte:<br />

* Nem este está vivo, nem aquele está morto. (N. do T.)<br />

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