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Pensando o ritual - Sexualidade, Morte, Mundo

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Outra noção central no pensamento de Perniola é a de<br />

trânsito, definido como passagem do presente para o presente,<br />

da presença para a presença, do mesmo para o mesmo. Presente<br />

e presença são a condição própria do homem contemporâneo,<br />

destituído de memória e de expectativas, o qual conseguiu<br />

espacializar o tempo num movimento horizontal que<br />

confere historicidade a qualquer lugar do mundo. 12<br />

O trânsito, embora seja um conceito autônomo, parece<br />

não poder prescindir da dimensão do simulacro. É o que<br />

demonstra Perniola quando, por intermédio de Klossowski,<br />

estabelece uma relação intrínseca entre erotismo e arte: ambos<br />

“fornecem uma veste, um invólucro, um simulacro ao que<br />

é destituído de realidade”, propõem “uma imitação que nunca<br />

pode ser verificada porque o original, o fantasma, o demônio<br />

nunca aparecem como tais”. 13<br />

Trânsito e simulacro aparecem claramente relacionados<br />

em algumas das melhores páginas de Perniola, dedicadas à análise<br />

da arte barroca e, mais particularmente, a duas de suas<br />

estratégias — o uso erótico do panejamento e a apresentação<br />

do corpo como despojo vivo. O encanto erótico apontado na<br />

dissolução do corpo da santa Teresa de Bernini no panejamento<br />

do hábito poderia ser multiplicado se se escolhesse<br />

como outro referencial uma das obras mais significativas do<br />

barroco napolitano, o Cristo velado, de Giuseppe Sammartino.<br />

Se o barroco é essencialmente corpo e forma, e, antes de mais<br />

nada, encarnação e dramaturgia corporal, o Cristo da Capela<br />

Sansevero de Nápoles é uma das representações mais significativas<br />

de uma teatralização, na qual o véu oculta e exibe uma<br />

“substantia indeterminata”, graças a um trompe-l’oeil luminoso<br />

e cambiante. O véu que exibe escondendo pode ser considerado<br />

uma cena, a evocação e a manifestação de uma presença

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